segunda-feira, 4 de novembro de 2013
Cresce a extrema direita na Europa
Historicamente, muitos países convivem mal com a liberdade. São capazes de ocupar as ruas em nome dela. Mas incapazes de entender o que ela significa. A liberdade de expressão não existe para quem concorda conosco, para quem segue nossas regras ou para quem faz apenas o certo. A liberdade só existe para discordar, para arriscar, para errar. De nada adianta condicionar a livre expressão a algum critério - qualquer que ele seja -, pois ela não será mais livre. A liberdade de expressão, assim como a igualdade perante a lei ou os direitos humanos, deveria estar acima de qualquer debate.
Contudo, há certos debates, porém, que não deveriam existir. Não deve haver debates sobre a proteção aos direitos humanos, sobre a condenação a todos os preconceitos e à violência, sobre o valor da vida, da saúde e da educação. Nesses temas a verdade é tão límpida que, a respeito deles, não deve haver divisão de opiniões. A liberdade deve estar enraizada na cultura, na alma de todos. Não deve precisar de explicação ou justificativa.
Todavia, como entender o que vem se passando com alguns países europeus, onde a extrema-direita cresce, a começar pelo Aurora Dourada (Chryssi Avgui), na Grécia, liderado por Nikos Michaloliakos, que aguarda julgamento atrás das grades. Se provado que está envolvido na morte de do músico Pavlos Fyssas, setembro passado em Atenas, o melancólico matemático de 56 anos e mais uma corja de colegas passarão anos vendo o sol nascer quadrado.
A Grécia crê através de seus hooligans na ação direta ou no extermínio de pessoas, antes de assassinar Fyssas, seis estrangeiros foram mortos, outros desapareceram e 300 pessoas foram agredidas. A inspiração nazista é escancarada. Além da saudação nazista, os simpatizantes colecionam fotografias de Hitler e muitos, obviamente, encaram o “Mein Kampf” (1925), manifesto de Hitler, como livro sagrado.
Há quem diga que não é somente a crise econômica a provocar reações racistas e xenófobas. Quem sabe uma questão de identidade nacional. Ademais, o cineasta, jornalista e documentarista francês Antoine Vitkine, autor de Mein Kampf: A história do livro (Nova Fronteira) cita os países nórdicos, onde a crise econômica é bem menos rigorosa que na Grécia, e mesmo assim movimentos de neonazistas e de extrema-direita ali não escasseiam. Eram países, outrora social-democratas, que por conta da globalização estão em plena mutação.
Recentemente, o semanário francês Le Nouvel Observateur estampou foto de Marine Le Pen, líder da legenda de extrema-direita Frente Nacional (FN), hoje é o maior partido da França. Segundo uma sondagem do Ifop para o semanário, que 24% dos franceses votariam na FN nas eleições europeias, em maio de 2014. Nesse caso previsível uma nova eleição presidencial semelhante àquela de 21 de abril de 2002, quando o pai de Le Pen, Jean-Marie, disputou o segundo turno contra o conservador Jacques Chirac. Detalhe: Le Pen terá mais chances de levar a melhor nas próximas presidenciais.
Em setembro passado, a coalizão centrista austríaca formada pelos partidos: Partido Social-Democrata (SPO) e o Partido Conservador do Povo (OVP), venceu com seu pior resultado desde a Segunda Guerra Mundial. Motivo: perdeu votos para a extrema-direita, o Partido da Liberdade (FPO). Esse partido faz campanha contra imigrantes, a islamização da Áustria, e resgates econômicos para países como a Grécia.
Na Hungria o partido neonazista Jobbik é antissemita e trava ferrenha luta para expulsar do país os roma, ou ciganos, como alguns ainda preferem ser chamados. Os roma também são perseguidos por grupos de skinheads neonazistas na República Tcheca.
De nazismo a fascismo, cresce a extrema direita na Europa. É importante evitar confusões entre partidos claramente neonazistas e aqueles de extrema-direita, o caso de Le Pen que soube abrandar certas posições e ficou mais perigosa.
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Sergio Barra é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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