quinta-feira, 6 de junho de 2013

O custo Brasil

Por ANA DINIZ, jornalista, em seu blog Na rede

Eu tinha desistido deste blog, mas a indignação foi mais forte. Com a caradura da Miriam Belchior. Ela disse, domingo, no “Fantástico” que o Brasil passou trinta anos sem obras e que por isso os escritórios de projetos foram desmobilizados. E que “Nós resolvemos de maneira bastante clara de que era mais importante começar a fazer obras e entregar obras importantes que o país precisava mesmo com eventuais projetos… Mesmo com projetos… Sem ter os projetos executivos prontos. Porque o mais caro pro Brasil é não ter a obra. Esse é o custo Brasil mais alto”. O diabo é que centenas de executivos públicos – prefeitos, secretários, autoridades diversas – já disseram isso uma vez e, por conta da ausência de projetos, foram multados, condenados, tornados inelegíveis pelos tribunais de contas. Porque a lei é clara: sem projeto não tem obra. Sem projeto executivo não tem licitação.
Então o governo toma uma decisão “de maneira bastante clara” de não fazer projeto, de fazer licitação sem projeto de obra, ou seja, de descumprir a lei... e vai ficar por isso mesmo?
O custo Brasil mais alto, minha senhora, é fazer escorregar o dinheiro no bolso de uns e outros. Porque esse custo não fica só no dinheiro mal usado, na obra parada, no desvio. Ele cria um deslizamento na sociedade, semelhante aos que têm acontecido frequentemente na Serra do Mar: eles roubam, vós roubais? Então eu tô nessa também, passa o celular, madame, que é um assalto! Descumprir a lei é atender às necessidades do país? Então, madame, recolha a polícia das ruas. Ela está servindo de palhaço, catando a arraia miúda e o Zé Ninguém, enquanto os Filhos d’Algo passeiam em Camaros amarelos.
Vamos fazer puxadinhos sem licitação! Tudo é emergência! Puxadinhos de cem milhões de reais! Coitado do ex-prefeito de Maetinga, condenado na semana passada: construiu uma unidade de saúde sem licitação, alegando emergência (maior é o custo de ficar sem obra!) por 79 mil reais (dez por cento do puxadinho de Guarulhos, note-se!) e foi condenado a pagar multa de mais de mil reais, tornado inelegível, lançado no rol dos fichas sujas e condenado a três anos de prisão, pena transformada em prestação de serviços comunitários. Quanto à unidade de saúde, está funcionando desde a inauguração, em 2003, até hoje. Aliás, é a única em Maetinga, município baiano volta e meia castigado pela seca.
Luiza Erundina cortou um dobrado porque usou o dinheiro de uma rubrica em outra despesa. A ex-prefeita paulistana, de irretocável honestidade, teve que fazer rifa e jantar beneficente para conseguir os 300 mil reais de um dinheiro que não embolsou nem deixou ninguém embolsar. E era emergência, mesmo: o dinheiro foi usado pela Prefeitura para organizar atendimento a vítimas de calamidade pública.
O que é isso que estamos vendo e ouvindo, afinal? Diz a ministra que o país ficou trinta anos sem obras (deve estar falando de Cuba; ela adora Cuba!) e por isso os escritórios de consultoria ficaram desativados... Talvez os escritórios favoritos dela; porque há centenas de consultoras para pequenos, médios, grandes e mega projetos no Brasil. E se não houver no Brasil, há fora do país: nada impede a licitação internacional. O governo do Rio de Janeiro acabou de abrir uma, para “elaboração do Plano Geral Urbanístico e de Projetos Básicos e Executivos e Domínios Comuns, visando à adequação do Complexo Esportivo de Deodoro para a realização e operacionalização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016”.

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Em 22 de junho estarei lançando mais um livro: “Eia, avante, brasileiros!”, cujo tema é a II Guerra Mundial vivida numa vila qualquer do interior do Pará. É um pequeno romance e atrasou um mês mas, finalmente, entrou na reta final de produção.
Assim como com o blog, eu tinha resolvido não publicar mais. Mas acabei descumprindo ambas as juras, embora continue achando que escrever seja gritar no vazio. Mas, como Santo Antonio pregou aos peixes, São João Batista clamou no deserto, São Pedro bradou aos ares para derrotar o feiticeiro Simão e estamos em junho, eu continuo escrevendo.

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