A corrupção no Detran produz riscos. Que estão nas ruas.

Olhem só.
É fato que a corrupção é um flagelo.
Mas não é um flagelo apenas porque homens públicos metem a mão na bufunfa e a desviam para os próprios bolsos.
O flagelo da corrupção está nos efeitos - concretos, reais, mensuráveis até matematicamente - que ela deflagra, em prejuízo da sociedade, que passa a correr riscos por causa da ladroagem instalada, disseminada, escancarada.
Riscos?
É.
Riscos.
Exemplos?
O último está nessa roubalheira praticada no Detran.
Na semana passada, veio à tona a megaoperação que desvendou patifarias monstruosas, consistentes na emissão de carteiras falsas.
A Operação Blitz, assim denominada, resultou na prisão de 37 pessoas.
 Pelo esquema, os interessados pagavam valores variados, de R$ 1,2 mil a R$ 4 mil, para obter o documento sem passar pelo exame teórico e prova prática de direção, requisitos obrigatórios determinados no Código de Trânsito Brasileiro para a emissão da habilitação.
Repugnante?
Repugnante.
Pergunta-se, todavia: quantas carteiras foram emitidas dessa forma?
Exatamente, quantas foram emitidas?
Eram carteiras apenas para condutores de carros de passeio?
Ou também para veículos maiores, pesados?
Ou também para motociclistas?
O que será feito com essas carteiras? Serão cassadas? E seus detentores, não será caçados, para que possam responder pelos crimes dos quais foram co-partícipes?
Espera-se que sim.
Porque é fato que as trocentas mil carteiras emitidas de forma fraudulenta permitem supor que seus trocentos mil beneficiários são péssimos motoristas, em tese muito piores do que aqueles que, como se diz, ralaram para passar nos exames regulares.
Esses personagens estão circulando por aí - pelas ruas, pelas estradas, em todo lugar.
E eles? Além de terem as carteiras cassadas, serão responsabilizados pelas propinas que desembolsaram?
Essa questão é das mais pertinentes, porque é de sabença geral que não há corrupto sem corruptor.
No caso, não haveriam emissão de carteiras de forma fraudulenta se, na outra ponta, não houvesse alguém disposto a molhar o pé da planta.
E então?
Há uma turma de meliantes por aí, dirigindo com carteira fraudada.
Eles, os meliantes que pagaram a propina, são um perigo público.
Não devem ser também responsabilizados?
Não devem também ser caçados, para que tenham seus documentos de habilitação cassados?
Ou por outra: será necessário caçá-los para que tenham suas CNHs cassadas?
Com a palavra, o Detran.
Mas o Detran, certamente, não falará.
É que há muitas outras podridões por lá que, estas sim, não querem calar.