terça-feira, 20 de novembro de 2012
Claus Roxin e Dirceu? Nada, mas nada a ver.
Agora é que é.
As declarações e entrevistas de Claus Roxin, em sua passagem pelo Brasil, acabaram numa confusão danada.
Roxin, vocês sabem, é o autor da teoria do domínio do fato, uma espécie de guarda-chuva para abrigar culpabilidades, quando as culpabilidades não se mostram assim tão evidentes.
A Folha de S. Paulo já publicou matéria informando que Roxin, ele próprio, já disse que sua teoria não dispensa a presença de provas, quando se trata de configurar a conduta dos que exercem posição de mando e são apontados como os mentores de crimes, como o Supremo interpretou ter sido a conduta do ex-ministro José Dirceu no caso do mensalão.
Pois as declarações de Roxin e as ilações que delas se extraíram acabaram levando à errônea, infundada e irresponsável conclusão de que o professor estaria, vejam só, até mesmo demonstrando um certo interesse em assessorar a defesa de Dirceu.
Que absurdo.
O absurdo é tanto que Claus Roxin fez um esclarecimento, divulgado pelo site Consultor Jurídico.
Como o Espaço Aberto tem debatido ultimamente sua teoria, convém publicar o esclarecimento aqui.
Leiam, abaixo, o texto assinado Luís Greco, Alaor Leite e Augusto Assis:
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É de conhecimento geral que o professor Claus Roxin esteve no Rio de Janeiro para receber um título de doutor honoris causa da Universidade Gama Filho e para participar do Seminário Internacional de Direito Penal e Criminologia ocorrido na Escola da Magistratura entre os dias 30 de outubro e 1o de novembro, em convite formulado por intermédio do professor Juarez Tavares. Por ocasião dessa visita, alguns meios de comunicação pediram a concessão de entrevistas, o que foi feito de bom grado. Em nome do professor Roxin e a pedido dele, na condição de seus alunos, gostaríamos de repassar ao público brasileiro os esclarecimentos feitos pelo professor em relação a alguns fatos divulgados nos últimos dias:
O professor manifesta, em primeiro lugar, o seu desgosto ao observar que a entrevista dada ao jornal Folha de São Paulo, concedida em 29 de outubro de 2012 e publicada em 11 de novembro de 2012,[1] ocasionou grande repercussão, mas em sentido errôneo. As palavras do professor, que se referiam apenas a aspectos gerais da teoria por ele formulada, foram, segundo ele, transformadas, por conta exclusiva do referido veículo, em uma manifestação concreta sobre a aplicação da teoria ao caso conhecido como “mensalão”. O professor declara, ademais, sua mais absoluta surpresa ao ler, no dia 18 de novembro de 2012, notícia do mesmo jornal, em que consta que ele teria manifestado “interesse em assessorar defesa de Dirceu”. O professor afirma tratar-se de uma inverdade.
A redação final dada pela Folha de S.Paulo à referida entrevista publicada em 11 de novembro de 2012 é imprecisa, segundo o professor, as respostas não seriam mais do que repetições das opiniões gerais que ele já defende desde 1963, data em que publicou a monografia sobre “Autoria e domínio do fato” (Täterschaft und Tatherrschaft). A imprecisão deve-se ao título ambíguo conferido à matéria, que faz supor que houvesse uma manifestação sobre o caso ora em curso no Supremo Tribunal Federal brasileiro: “Participação no comando do mensalão tem de ser provada, diz jurista”. O professor não disse a seguinte frase a ele atribuída: “Roxin diz que essa decisão precisa ser provada, não basta que haja indícios de que ela possa ter ocorrido”, que é inclusive juridicamente duvidosa. A entrevista foi concluída com uma declaração posta fora de contexto, a respeito da necessária independência do juiz em face da opinião pública. Essa pergunta foi a ele dirigida não pela Folha de S.Paulo, e sim pelo magistrado aposentado Luiz Gustavo Grandinetti, na presença do professor Juarez Tavares, de Luís Greco e de Alaor Leite, estes dois últimos seus alunos. A Folha já havia terminado suas perguntas quando Grandinetti, em razão de uma palestra em uma escola para juízes (a EMERJ) que Roxin proferiria, indagou se havia alguma mensagem para futuros juízes, que, muitas vezes, sofrem sob a pressão da opinião pública. O professor respondeu a obviedade de que o dever do juiz é com a lei e o direito, não com a opinião pública.
A Folha, contudo, ao retirar essa declaração de seu contexto, criou, segundo o professor, a aparência de que ele estaria colocando em dúvida a própria isenção e integridade do Supremo Tribunal Federal brasileiro no julgamento do referido caso. A notícia do dia 18 de novembro vai além, afirmando: “O jurista alemão disse à Folha que os magistrados que julgam o mensalão ‘não tem (sic) que ficar ao lado da opinião pública, mesmo que haja o clamor da opinião pública por condenações severas’”. O professor recorda que nenhuma dessas ambiguidades existe na entrevista publicada pela Tribuna do Advogado do mês de novembro, entrevista essa concedida, inclusive, na mesma ocasião, à mesma mesa redonda, que a entrevista concedida à Folha.
O professor declara tampouco ter interesse em participar na defesa de qualquer dos réus. Segundo ele, não só não houve, até o presente momento, nenhum contato de nenhum dos réus ou de qualquer pessoa a eles próxima; ainda que houvesse, o professor comunica que se recusaria a emitir parecer sobre o caso. Em primeiro lugar, o professor desconhece o caso quase por completo. Em segundo lugar, afirma que, pelo pouco que ouviu, o caso não desperta o seu interesse científico. O professor recorda que interesses políticos ou financeiros lhe são alheios, e que não foi sobre tais alicerces que ele construiu sua vida, sua obra e sua reputação. Por fim, o professor declara que não se manifestou sobre o resultado da decisão e que não tem a intenção de fazê-lo. Além disso, não está em condições de afirmar se os fundamentos da decisão são ou não corretos, sendo esta uma tarefa que incumbe, primariamente, à ciência do Direito Penal brasileira.
Estes são os esclarecimentos que o professor Claus Roxin gostaria de fazer ao público brasileiro, na esperança de que, com a presente nota, possa pôr um fim a essas desagradáveis especulações.
Munique, Alemanha, 18/11/2012.
Imagina se ele iria se sujar com esses quadrilheiros! I
ResponderExcluirMelhor assim, professor.
ResponderExcluirNa Alemanha não tem cumpanheru.
No idioma alemão não tem como versar a palavra "mensalão", né?
Daí, fica difícil entender.
Nada tem a ver este esclarecimento com qualquer "desdedizemento" com o processo do mensalão.
ResponderExcluirRouxin não retirou nada do que disse. Ele apenas não fez menção ao caso concreto.Quem disse que fez foi a Folha. Ela também foi quem iladiu que a defesa do Zé Dirceu iria procurá-lo para assessoramento.
E o que ele disse, de fato, a depender da análise, pode sim pôr em xeque a forma como o STF conduziu o processo.
Continua tudo como dantes.
Rouxin, é óbvio, tratou de desmentir a Folha na, como sempre, irresponsabilidade com trata essas questões, especialmente a possibilidade de assessoramento. Fica a pergunta: quem estimulou Rouxin a dizer que não se interessa por dinheiro, no caso de uma eventual assessoria. Zé Dirceu? Não. A Folha.
Ora pois!