quarta-feira, 18 de abril de 2012

Números, trapaças, aborto e vida

Do leitor Artur Dias, sobre a postagem O aborto e os números:

É uma questão de atenção e boa vontade: como não foi você [o jornalista Paulo Silber] quem produziu esses números, não pode tomar minha afirmação como uma acusação direta; mas tão somente entender que tais números são uma mentira vendida por grupos políticos, cuja matriz ideológica tem como pressuposto a desqualificação da vida como um valor em si. Foi por isso que, para complementá-la, eu disse depois que era uma “mentira, aliás, cultivada com o adubo daquela outra, segundo a qual ‘o homem é um ser historicamente determinado’”. Ou seja, na matriz marxista, não existiriam valores absolutos, tais como a Vida, ou a Justiça; estes seriam produtos de sua época. Esse relativismo cai como uma luva para os intelectuais modernosos que acharam graça quando mais de mil inocentes morreram nos atentados de 11 de setembro de 2001, por exemplo. A culpa não seria dos radicais islâmicos, mas dos Estados Unidos, ainda que sendo a maior democracia do planeta, mas também a potência capitalista a ser destruída.
Outra frente de ataque aos valores é no plano individual: se a vida não tem valor em si, é permitido livrar-se de um ser humano em formação. Dada a sólida barreira moral, felizmente erigida pela sociedade humana com valiosa contribuição das religiões, os abortistas procuram desqualificar a condição do feto humano, já que sua linha de raciocínio obviamente leva à justificação da eugenia, da eliminação de todos os potenciais “estorvos”: velhos, deficientes e - por que não? - inimigos. Assim, eles recorrem ao “argumento técnico”- e aqui chego ao ponto de nossa discussão- inflacionando os números e criando demandas irreais. O médico americano Bernard N. Nathanson, ex-fundador da Associação Nacional para a Revogação das Leis de Aborto, tendo abandonado esse grupo, contou que eles falsificavam estatísticas para chamar a atenção, e que também atacavam a Igreja Católica, como forma de conquistar apoio entre os mais “progressistas”.
Ainda que agora você desfaça a sua afirmação anterior, segundo a qual 200 mil mulheres morriam abortando no Brasil, o fato é que, pelos números do IBGE, de agosto de 2009 a julho de 2010, 42,8% dos óbitos no país foram de mulheres, num total de 443.166; excluindo dessa conta as mortes por doenças circulatórias, câncer, acidentes de trânsito, doenças respiratórias, infecciosas, parasitárias e outras mais, sobram 185.999, bem abaixo dos 200 mil. Distribuindo essa conta por idade das falecidas, ainda com dados do IBGE, as idosas mortas foram 194.549, e as meninas mortas com menos de um ano, 15.067, sobrando 233.550. O alegado número de 200 mil mortes de mulheres por aborto então não teria como se encaixar nessa sobra, pois uma epidemia assim não passaria despercebida. Da mesma forma, estima-se que nasçam por ano no Brasil 3 milhões de crianças,correspondentes a 75% das gestações. 25% terminam em abortos espontâneos. Quer dizer, então seriam necessários 5 milhões de gestações para que fossem reais os números dos abortistas, e mais, que 20% das mulheres decidissem interromper a gravidez.
Essa discussão nada tem de pessoal. Remete apenas ao necessário cuidado em preservar a vida humana, derrubando as trapaças do pensamento totalitário, escondido sob a máscara sorridente do “progressismo”.

2 comentários:

  1. Desculpando-me pela falha imperdoável, quero dizer que a fonte que usei nesta análise é o blog do grande Reinaldo Azevedo, como lembraram os comentaristas do post anterior.

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  2. Boa noite, caro Paulo:

    Há uma imensa diferença entre aceitar que a sociedade brasileira coonesta um crime silencioso - a morte de mulheres por abortos de risco - e a precisão numérica dos 200 mil, dos 139.500 ou da negação de que essas mortes ocorram, seja em que proporção for. Obviamente, como isso atinge a parcela socialmente negada e, quase invisível - as mulheres pobres, pardas e pretas, porque as não tão pobres, nem pretas, nem pardas acabam procurando assistência mais adequada do que a da aborteira de ponta de rua os a dos “açougues” vez por outra fechados pela polícia - resgata-se a bandeira da defesa da vida.

    Grave é se esconder sob ela uma realidade que é de saúde pública e não de convicção moral ou religiosa. Essas convicções continuarão a ser respeitadas, quando o sistema público abrir suas portas para a realidade: a legalização do aborto jamais imporá que as mulheres que assim o quiserem mantenham suas convicções em qualquer circunstância.

    Estudo, do IPAS/Brasil, apoiado pelo Ministério da Saúde, indica que as maiores vítimas do aborto inseguro são as mulheres jovens da faixa de 15 a 29 anos e que as sequelas decorrentes de abortos são a terceira causa da mortalidade materna no país. Dados do DATASUS mostram que os abortamentos incompletos levam a 230 mil internações por ano no Brasil somente na rede pública de saúde. Portanto, os argumentos esdrúxulos da esquerda, “assassina de criancinhas” - eita velho chavão... - e da “luta” dos conservadores pela vida não cabem aqui.

    Pesquisa executada pelo IBOPE, a pedido da organização não governamental Católicas pelo Direito de Decidir (CDD) , que teve como objetivo investigar junto à população brasileira sua posição em relação ao aborto, em 2010, tem resultados interessantes: a maioria dos entrevistados acredita que nenhuma mulher pode ser obrigada a ser mãe, que 70% concorda que uma mulher possa interromper uma gravidez quando está em risco sua ou quando o feto não tem nenhuma chance de sobreviver após o nascimento e que para 96% da população não é papel do governo prender as mulheres que realizam um aborto nessas condições, mas sim o de oferecer atendimento nos hospitais públicos.

    Informa a organização que “apenas 5% da população pesquisada, em média, entende que instituições sociais como: Igreja, o Congresso Nacional, o Poder judiciário e o/a Presidente da República têm direito a decidir sobre o direito de a mulher interromper uma gravidez”. Ou seja, a sociedade evoluiu e a lei está medievalmente cristalizada.

    Assim o debate é o aborto legal e assistido como direito inerente à política de saúde pública é o eixo correto. Se é assim que o leitor quer continuar a conversa, estamos aí.


    Abração

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