O mercado publicitário do Pará, ou parte dele, está em pé de guerra com a Vale, esse colosso que, no ano passado, apresentou um lucro recorde de US$ 22,885 bilhões, valor 32,55% superior ao de 2010. Pois esse mesmo colosso de US$ 22,885 bilhões está desencadeando a revolta em boa parte do mercado publicitário.
O motivo da revolta é singelo: a Vale, esse colosso de US$ 22,885 bilhões, está pretendendo contratar, a preço de banana, duas empresas paraenses - apenas e somente duas - que cuidarão das contas da mineradora nas regiões sul/sudeste do Pará. Em verdade, a acusação é de que o preço não é de banana: em certo sentido, chega a ser quase de graça.
Quem acompanha o Espaço Aberto através do Twitter ficou sabendo desse fato superficialmente. Agora, o blog teve acesso a uma carta encaminhada, na última sexta-feira, à direção da Vale em Belém.
Leia aqui a íntegra da carta encaminhada à Vale
Assinam a carta os publicitários Pedro Galvão, Carlos Henrique Carvalho e Osvaldo Freitas, representando, respectivamente, as diretorias da Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap-PA), Associações Brasileira de Agências de Comunicação (Abracom) e Sindicato das Agências de Propaganda do Pará, que fazem reparos severos aos termos do edital que determina as regras para a solicitação de cotação que vai selecionar as empresas para prestar serviços à mineradora de bilionários lucros.
"As condições oferecidas pela empresa para um contrato de fornecimento de 36 meses às empresas de comunicação é que são insustentáveis, e colidem inclusive com preceitos de sustentabilidade da própria Vale", dizem os três signatários.
Galvão, Carvalho e Freitas afirmam que "o bônus de veiculação, percentual pago às agências pelos veículos, calculado sobre o valor dos anúncios publicados, tornou-se mais importante que a atividade principal da agência, a criação, que, por sua vez, foi rebaixada à condição de brinde, 'isenta de cobrança'".
No caso do interior do Pará, prossegue a carta, emissoras de rádio e TV, jornais impressos, revistas e sites não têm preço regulamentado. "Em geral, os valores praticados não garantem rentabilidade mínima às agências. Para se chegar a esses veículos, as agências de comunicação investem em contatos telefônicos, pessoal especializado, apoio no faturamento (muitas dessas empresas no interior têm dificuldade em organizar uma estrutura mínima administrativa e as agências cumprem o papel de apoiá-las), fiscalização dos serviços, de condições mínimas de saúde e segurança, entre tantos outros aspectos", diz o documento.
O edital, acrescenta a carta, determina que os ganhadores da solicitação de cotação da Vale devem, com recursos próprios, a partir de base operacional a ser montada em Parauapebas ou Belém, atender a seis regiões do Estado, que juntas representam cerca de 80 municípios, separados por distâncias de até 1.200 quilômetros, e uma logística complexa.
"Como boa parte do portfólio de negócios da Vale está localizada no interior do Pará, os profissionais da empresa, sobretudo da área de suprimentos, sabem que os custos de atuação nessa região são acrescidos de pelo menos 25% em relação à atuação na capital, seja em razão das distâncias, da infraestrutura, pela dificuldade de captar profissionais interessados em viver no interior, pela saturação da bandas de telecomunicações e por tantos outros fatores. Além disso, outro fator de alta relevância na formação de preços é o investimento fundamental em segurança e saúde ocupacional", dizem os signatário.
Vale não muda o edital
Mesmo diante das ponderações apresentadas, a Vale não recuou um milímetro e, portanto, manteve inalterados os termos do edital.
Numa mensagem remetida na última segunda-feira, a mineradora de colossos bilionários, por dois de seus dirigentes no Pará, diz que, após analisar as ponderações expostas na carta, "optamos, neste momento, em manter inalterado o edital anteriormente divulgado, por estar o mesmo de acordo com o padrão usualmente adotado nas concorrências sobre esta matéria nas demais regiões onde atuamos, e cujos resultados têm sido positivos."
A direção da Vale ratificar ainda que "iremos cumprir o cronograma pactuado com as agências que permanecem no processo, para garantirmos a conclusão desta concorrência dentro das premissas adotadas e aceitas pelos concorrentes, bem como o atendimento do prazo inicialmente planejado. No futuro, ao reavaliarmos nossos processos e padrões, levaremos em conta seus questionamentos e, se oportuno, faremos as modificações necessárias."
Eis a Vale, esse colosso de lucros bilionários.
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O edital da Vale é na verdade um choque de realidade nas agências publicitárias do Pará , acostumadas a trabalhar pouco e ganhar muito, principalmente pelo tal BV que , na prática, é uma comissão ganha sobre o trabalho de outros. Depois não reclamem quando vier uma agência de fora e levar a conta.
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