segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Pensar não maltrata
Pensar tem maior legitimidade ao se falar sobre ideias. Contudo, quando falamos de um cidadão que pensa e expressa seu pensar, queremos que ele tenha o compromisso de pensar as questões fundamentais de seu tempo. Mas não qualquer pensar. Falo de um pensar criativo, transformador, de uma racionalidade sensível, que se vê tocada pela história, muitas vezes, de injustiça que a própria história ajudou a construir.
Numa leitura mais precisa dos acontecimentos, principalmente, no que respeita ao desgaste da palavra pensar, argumento que vivemos em uma sociedade na qual ter informações tornou-se mais importante do que pensar: trata-se de uma era pós-ideias. Não é fácil explicar ou entender o multifacetado mundo do pensamento. Se as pessoas conseguem, no qual se afirma que, durante décadas de bombardeio da mídia, a distinção entre ficção e realidade foi sendo abolida. Estamos vivendo em uma sociedade vazia de grandes ideias, talvez, sejam conceitos e teorias influentes, capazes de mudar nossa maneira de ver o mundo.
O pensamento é o teatro dos sonhos. Na formação de ideias e conceitos, é preciso incluir também o gênero. De fato, é paradoxal verificar que nossa era, com seus gigantescos aparatos de pesquisa e desenvolvimento, o acesso facilitado a informações, os recursos maciços investidos em inovação e centenas de publicações científicas, não seja capaz de gerar ideias revolucionárias, como aquelas desenvolvidas em outros tempos por cabeças pensantes à época do iluminismo.
Pensando bem, essas coisas acontecem sem a gente dominar muito. Estamos imersos em uma época em que antigos referenciais não têm mais sentido. O passado perdeu-se em um tempo e o futuro, sem referencial, é totalmente imprevisível. Afinal, o conceito retém o passado e anuncia o futuro. Não somos menos inteligentes do que nossos ancestrais. A razão para a esqualidez de nossas ideias é, sobretudo, que vivemos em um mundo no qual ideias que não podem ser rapidamente transformadas em negócios e lucros são relegadas às margens. Como se dá essa reflexão? Ela é acompanhada pelo declínio dos ideais iluministas - o chamado primado da razão, da ciência e da lógica - e a ascensão da superstição, da fé e da ortodoxia. Nossos avanços tecnológicos são notáveis, porém, estamos retrocedendo, trocando modos avançados de pensamentos por modos rudes, primitivos.
No entanto, a principal causa da debilidade de nossas ideias é o excesso de informações. Antes, coletávamos informações para construir conhecimento. Procurávamos compreender o mundo. Hoje, graças à internet, temos acesso facilitado a qualquer informação, de qualquer fonte, em qualquer parte do planeta. Temos acesso a tantas informações que não temos tempo de processá-las. Assim, somos induzidos a fazer uso delas um uso meramente instrumental: nós as usamos para nos manter à tona para preencher nossas reuniões profissionais e nossas relações pessoais.
Aliás, já repararam, as novas gerações estão adotando maciçamente as mídias sociais, fazendo delas sua forma primária de comunicação. Elas fomentam hábitos mentais que são opostos àqueles necessários para gerar ideias. O futuro aponta para a disponibilidade cada vez maior de informações. A consequência para a sociedade é que esse movimento,elimina a vida que pulsa no interior mesmo desta diferença. Esta perde seu rosto, fala, expressão. Quando chegarmos lá, não haverá mais ninguém para pensar.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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