terça-feira, 6 de setembro de 2011

"Massacraram injustamente a médica Cynthia Lins"

Olhem só.
E como é que ficam agora os que condenaram, sumária e inapelavelmente, a médica Cynthia Lins?
Cynthia Lins, para quem não sabe, é aquela que foi levada a uma delegacia de polícia na condição de suspeita do crime de omissão de socorro, no caso da mãe de gêmos que não foi atendida na Santa Casa de Misericórdia, do que resultou no nascimento de um dos bebês numa ambulância e do outro dentro do hospital, depois que se percebeu estar a mãe em trabalho de parto e submetida ao risco de morrer.
Os dois bebês, atestou posteriormente um laudo, já estavam mortos no ventre da mãe havia 48 horas antes de ser negado o atendimento na Santa Casa. Isso, é claro, em nada reduz a responsabilidade do hospital. Mas Cynthia Lins foi execrada como tendo sido a plantonista que se omitiu no socorro à vítima.
Pois é.
Ontem, o "Jornal Liberal 2ª Edição", da TV Liberal, exibiu reportagem confirmando, vejam só, que a médica não estava de plantão no dia do ocorrido.
A própria Santa Casa confirma somente agora que não era ela a plantonista, mas outro médico, cujo nome não foi revelado.
A dra. Cynthia Lins, isso sim, se encontrava no hospital naquele momento, orientando uma turma de acadêmicos de medicina. E prestou socorro à parturiente, mesmo sem estar na condição de plantonista.
O advogado, em entrevista à TV Liberal, disse que vários alunos da médica estão dispostos a confirmar a versão de Cynthia.
E nem a propósito, no último final de semana o Espaço Aberto recebeu, de um de seus mais fiéis leitores, um e-mail que rola por aí.
É assinado por uma jornalista que conhece pessoalmente Cynthia Lins.
A jornalista, inclusive, é paciente da médica.
Vejam o que diz o e-mail:

Alguns fatos que são do conhecimento da imprensa e que até agora não foram divulgados, como:
01) A médica não se encontrava de plantão e deixou esta atividade há 3 anos;
02) O médico de plantão era o Dr. Sampaio que até hoje não se manifestou;
03) Ela chegou as 8 horas na Santa Casa para ministrar aula aos acadêmicos de medicina como professora da UFPA que é;
04) A ordem de fechar o portão foi da direção da Santa Casa;
05) A situação de superlotação era do conhecimento do secretário de Saúde;
06) O bombeiro entrou na maternidade para questionar "por que o portão estava fechado";
07) Como o médico de plantão não se manifestou, a médica prestou os esclarecimentos, pois se encontrava na área de triagem com os alunos;
08) Durante a conversa entre as partes, veio a informação que o primeiro filho tinha nascido;
09) Foi identificado que estava morto, e aí sim, foi informado que eram gêmeos e com 7 meses de gestação;
10) Imediatamente o portão foi aberto e as providências para o nascimento do 2º filho foram tomadas, que lamentavelmente também nasceu morto;
12) Pelo estado que se encontravam as crianças, a equipe médica concluiu que tinham morrido no ventre da mãe;
13) Ambas apresentavam má formação e pele de aspecto de macerados (sinal de morte antiga);
14) Com o conhecimento que as crianças estavam mortas, o bombeiro deu voz de prisão à médica, alegando "omissão de socorro";
15) O próprio bombeiro foi que acionou a imprensa, passando a versão dele, que foi aceita pela imprensa, sem ouvir a Santa Casa;
16) Chegaram a afirmar para a Imprensa, que as crianças tinham nascido respirando e até chorando;
17) A Santa Casa tomou todas as providências para se resguardar e acionou o IML para fazer a perícia médica;
18) Acionou sua Corregedoria para acompanhar a médica, ao mesmo tempo que o Sindicato dos Médicos dispôs seus advogados;
19) A médica, apesar de não estar de plantão, assumiu o caso e se apresentou espontaneamente à Polícia Civil;
20) A médica tem consciência de que não cometeu nenhum crime e se comprometeu a prestar todos os esclarecimentos para elucidar o caso.
A médica em questão tem 14 anos de formada, é mãe do Arthur e no momento está grávida (mas emocionalmente abalada). Fez residência em Ginecologia e Obstetrícia (SP) e especialização em Mastologia (Milão-Itália).
É médica do Hospital Belém, Saúde da Mulher, Ophir Loyola (concursada) e Santa Casa (concursada). É professora Ms da UFPA, concluindo doutorado este ano e do Curso de Preparação para Residentes do Dr. Kawage. Massacraram injustamente a médica Cynthia Lins.Tenho absoluta certeza que a verdade vai prevalecer.

Este é o e-mail.
Tem razão sua autora.
Tudo está se encaminhando para ficar comprovado que "massacraram injustamente a médica Cynthia Lins".
E tomara que a verdade mesmo prevaleça.
E prevalecendo a verdade, punam-se os verdadeiros responsáveis pelas omissões que configuraram uma desumanidade clamorosa em relação à paciente que não foi atendida conforme os protocolos médicos exigiam, naquelas circunstâncias.
Punidos os verdadeiros responsáveis, espera-se que os justiceiros de inocentes contem até duas, três ou 30 vezes antes de cometerem justiçamentos do gênero.
E não custa, de antemão, indagar: e quem vai pagar pelos danos morais impostos a uma profissional injustamente acusada e, mais ainda, injustamente submetida à execração pública?
Quem?

11 comentários:

  1. Anônimo6/9/11 08:25

    Paulo, a se confirmar essa nova versão do caso, cabe ao governador Simão Jatene e ao seu secretário de Saúde, Hélio Franco, virem a publico para apresentar pedido de desculpas à médica injustamente execrada. E o Estado, se não o fizer por iniciativa das autoridades, deve ser acionado para que responda, nos rigores da lei, pelos danos causados à Dra. Cynthia.
    É sempre assim: o governo não cumpre com suas obrigações e elege alguém como "bode expiatório" para pagar pela ineficiência estatal.

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  2. Afora a indenização, as pessoas que acusaram a médica (deliberadamente e não por erro, claro), notadamente quem afirmou que os bebês nasceram vivos, podem responder, em tese, pelo crime de denunciação caluniosa, com pena de 2 a 8 anos de reclusão, além de multa (art. 339 do Código Penal).

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  3. Anônimo6/9/11 09:32

    O pior é que não ensinam nas escolas de jornalismo, casos éticos. Um dos casos mais emblemáticos na história foi aquele da escola paulista. a imprensa execrou os donos da escola Base. Assim está sendo a imprensa de Belém. Falta formação. Aí, questiona-se que jornalista não precisa de um curso específico para exercer tal profissão. Falta profissionalismo, falta apuração. Falta humildade de reconhecer o erro. Jornalistas continuam errando e os veículos bancando. Até quando ???

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  4. Anônimo6/9/11 09:49

    Repondo a verdade, o Jatene, também, tinha conhecimento da superlotação, e nada fez.
    João Costa

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  5. Anônimo6/9/11 10:23

    Desde o primeiro instante várias postagens em diversos blogs já mostravam que a médica não era a plantonista e que estava lá dando aula. Os jornais é que ficaram indiferentes aos fatos e continuaram massacrando a doutora. Cabe aos jornais expiar a sua culpa.

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  6. Anônimo6/9/11 12:36

    Então, elementar meu caro Espaço, a culpa é do porteiro da Sta. Casa, isso se não for minha.

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  7. Anônimo6/9/11 16:59

    ora em sendo verdade esta historia, a de se perguntar, por que a Dr. não falou na hora que não estava de palantão??? Por que não falou, que quem estava de plantão era o Dr> sampaio??? O fato é que não houve atendimento a gestante, estando as crianças vivas ou não, ou a vida da mãe não tem valor??? É sempre assim neste Brasil, o pobre do trabalhador é que é o culpado, daqui a pouco a mãe o bombeiro e o pai das crianças, serão condenados, ai isso voces chamam de imprenssa honesta. Carlos Azevedo Cpf 483.272.202-68 do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santo Antonio do Tauá.

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  8. Anônimo6/9/11 21:14

    Falar, falou. Tem testemunhas. A mídia é que ignorou e tome de massacrar! Depois, quando a reparação do dano moral estiver na justiça - se é que já não está - a mídia vai querer se retratar com uma simples notinha lá de pé de página... Esse filme eu já vi!

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  9. Anônimo7/9/11 07:52

    Nenhum argumento justifica a omissão de socorro. Até um cachorro se estiver no meio da rua gemendo merece ajuda, ainda mais uma grávida em trabalho de parto na porta de um hospital.
    Se não tinha leito, fazia o atendimento dentro da ambulância ou pelo menos vinha olhar para ver o estado da grávida.
    Se a médica não estava a trabalho, nem deveria estar hospital. Deveria estar em outro local, menos lá.
    Nada justifica tenta agora justificar o injustificável. Só falta agora, essa médica querer indenização do Estado. Era o que faltava.
    Quando alguém passa mal, até os amigos que não são médicos estendem a mão amiga, imiginem um médico que tem a obrigaçao de dar esse atendimento em seu espaço de trabalho.

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  10. Gente! por favor leiam direito. Ela não se negou a fazer o atendimento.

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  11. Anônimo6/7/19 15:55

    Em suma, ante os fatos já conhecidos, e os aqui narrados, cabem os seguintes apontamentos:

    1) A médica de fato não poderá ser responsabilizada, caso tenha tomado conhecimento da urgência após a chegada dos bombeiros com a paciente.

    2) Caso a médica tenha tomado ciência da urgência do ocorrido na primeira tentativa de atendimento da paciente, ela poderá ser responsabilizada por omissão de socorro nos termos da lei. Isso por quê, como estabelece o Código de Ética Médica, em seu artigo 58: os médicos tem o dever legal de prestar socorro em caso de urgência, independente de estar ou não à trabalho.

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