sexta-feira, 17 de junho de 2011

“E esse tapiocômetro tem a ver com você?”



“Tapiocômetro” é como um advogado se refere às operações de que participou, na Assembleia Legislativa, a Croc Tapioca, a empresa de José Carlos Rodrigues, o empresário preso na última quarta-feira, juntamente Sandro Rogério Matos, que atuava na Comissão de Licitações da Assembleia.
Gravações sobre o escândalo da Assembleia Legislativa, liberadas pelo Ministério Público, ao decretar as prisões de José Carlos, Sandro e Sérgio Duboc – ex-diretor Financeiro da Assembleia, ainda foragido -, mostram o advogado conversando com o empresário e com o servidor da Assembleia, quando o procuram para fazer a defesa de ambos.
Na conversa, Sandro dá indicações de que conhece bem – muito bem – como é que funcionam os nichos de poder e as competências de cada um no Legislativo. “A engenharia da Assembleia é uma das fontes de capitalização que o presidente usa dentro da Assembleia. Politicamente. Pra pagar deputados que ficam enchendo o saco”, revela Sandro.
O servidor conta ao advogado que a empresa JC Rodrigues começou as atividades na Assembleia em 2004 e que ele próprio foi chamado para trabalhar na licitação. Foi quanto detectou um erro de documentação da JC Rodrigues, que não se enquadrava nos requisitos para venda de material de engenharia etc. Acrescenta que em 2007, na gestão do peemedebista Domingos Juvenil, o chamaram para revisar a documentação. Foi quando ele percebeu que havia muita documentação errada e falsa. E o trabalho dele, Sandro, seria maquiar as coisas.
Ouça o áudio acima. E leia as transcrições abaixo, em que José Carlos está identificado pelas iniciais “JC” e Sandro, pela letra “S”.

------------------------------------------

JC - É e nessa época, Sandro, eu já estava em litígio com a Daura. Então, eu na verdade eu descobri, por um acaso eu descobri o que ela estava fazendo com a empresa.
Dr - Ela é engenheira, é?
JC - Não, não. Ela é gestora de órgãos públicos e....
S - Ela se formou recente, né?
JC - É, ela se formou o quê...em 2007, 200...
Dr - Mas ela era sócia da empresa, era?
JC - Não, é firma de empresa individual.
Dr - Ah, tá.
JC - É empresa individual.  E a minha atividade principal, apesar de eu ter outras paralelas, por exemplo, locação de veículos. Eu sempre trabalhei...eu nasci em oficina de carro. Meu pai era um cara antigo no ramo de carro e tudo.  Então, essa empresa em Quatipuru, Sandro.
Dr - Primavera?
JC - Isso. E quando eu constituí essa empresa foi pra montar uma indústria de beneficiamento de marisco. E após isso aí, como tinha muito problema de fiscalização negócio de saúde, as condições eram precárias lá, o que é que eu fiz: vim pra Santa Izabel e foi quando eu entrei na atividade de farinha de tapioca. E eu mecanizei todo o processo de farinha de tapioca, e eu montei a minha fábrica.
Dr - E esse tapiocômetro tem a ver com você?
JC - Tudo, tudo.
Dr - É mesmo, é?
JC - Tudo. Então, eu não quero aqui dá uma aqui de menino ingênuo, tolo.
S - Deixa eu só...pro senhor se situar, pra ficar legal...
Dr - Deixa só eu fazer uma observação, veja bem, pra gente se situar, pra gente compreender a nossa linguagem. Eu costumo dizer que o maior advogado é o próprio cliente, porque quem conhece a história é o cliente (...)

[14min46seg]
Dr - Isso significa dizer que pode ter documento ideologicamente falso?
JC - Existe, existe sim. Existe porque o detalhe...
S - Não, não existe.
Dr -  Ideologicamente falso. Formalmente está correto. Ideologicamente, é o conteúdo do documento, a origem do documento não está correto.
JC - E pra gente se situar melhor, é... houve esses processos todos, ali. Porém, nenhuma dessas situações, vamos dizer assim, passou por mim porque eu não tinha conhecimento de nada disso, porque ela começou a levar a JC pra Assembleia com o argumento de que ela queria fazer uma cobertura.  "Preciso fazer umas coberturas de umas empresas, e tal e tal..." "Cuidado com o que tu vai fazer com o meu nome...", mas ficou naquilo.  Quando eu vim saber já estava estourando bronca de nota fiscal falsa da minha empresa. (...)

(O Advogado pergunta de como está a relação entre José Carlos e Daura. O empresário resoponde que não é boa. Que só ficou sabendo das ações da Daura em decorrência de um roubo que ocorreu na casa dele e que por sofrer ameaças telefônicas da família do ladrão, no que ele resolveu comprar um aparelho para gravar as ligações telefônicas de sua residência e foi quando começou a tomar conhecimento do volume de dinheiro movimentado pela Daura. Conta ao advogado que na mudança de residência que fizeram havia três sacolas com dinheiro e quando abriu viu muito dinheiro lá dentro.  O advogado pergunta se a Daura tinha poderes legais para usar o nome da JC  e José Carlos informa que a ex-mulher falsificava a assinatura. Que ele só participou no momento de ter que corrigir os documentos pra a Sefa, que foi nesse momento que ele realmente assinou a documentação da JC relacionada a Assembleia.  Informa ainda que Daura o colocou como sócio de uma outra empresa sem que ele soubesse. Informa que está movendo uma ação contra Daura por ameaça de morte. José Carlos conta ao advogado que nunca recebeu nenhum cheque da Assembleia.  O Advogado pergunta se toda essa situação tem risco de "respingar" na administração do Mario Couto, no que Sandro e José Carlos avisam que tem todas as possibilidades, pois o Mário era administrador das despesas.)

[31min43seg)
S - Na realidade, deixa eu te falar uma coisa: A engenharia da Assembleia é uma das fontes de capitalização que o presidente usa dentro da Assembleia. Politicamente. Pra pagar deputados que ficam enchendo o saco. É uma pressão!..O Dr. Sérgio. Eu conheço o Dr. Sergio. E eu conheci a pessoa que foi o Dr Sérgio no primeiro mês de Assembleia e depois no final quando ele saiu.  Porque é tipo assim, "Ou tu faz, ou tu rasga daqui. Ou tu faz ou eu dou entrada no teu pudor, na tua conduta e não tem jeito." E no meu caso, se eu for chamado, eu vou ficar calado e vou deixar ir tudo pra justiça, não tem jeito mesmo. (...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário