sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Por Alonso Rocha, com saudades

O professor Cássio Andrade, assim como muitos, ainda está consternado com a morte, na sexta-feira da semana passada, de Alonso Rocha, poeta e importante militante bancário dos anos 50 e 60.
Cássio diz que deve a ele, num capítulo especial, parte de sua dissertação de mestrado.

E manda ao blog o texto poético abaixo, em homenagem à memória do "Príncipe dos Poetas" do Pará.


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CEFAS

Poderia caminhar ao lugar-comum das pedras,
Poderia abrir o mundo com chaves rimadas,
Recolho-me à pequenez

Diante do silêncio intempestivo.
E ao éter, lançada está a estrela,
E ao vazio, prrenchidos estão os carbonos

Mas, não posso crer no finito
Agnóstico cefas, derradeiro e perene.
E sob tua solidez, a eclésia poética se fez

Das chaves lançadas por decassílabos
Em Parnasso, a reconciliação...
Nas rimas convivas que se postam à mesa,
A louvação eucarística de redondilhas,

E na loucura da cruz, o verbo não morre!

Eternamente grato, amigo, que jamais esqueceu aquela entrevista (mais que entrevista, um banquete...)

Cássio de Andrade

Um comentário:

  1. Cássio de Andrade25/2/11 14:05

    Poderia me conformar nesse texto com a morte, afinal, síntese simbólica de nosso enredo natural. Mas, como ficar inerte diante da perda do Alonso Rocha? Há 08 anos, conheci Alonso quando trabalhava em pesquisa para o Sindicato dos Bancários. O entrevistei várias vezes, entre 2003 e 2005. Parte desse material, aproveitei em minha dissertação de mestrado.
    Mais do que entrevistas, nossos contatos eram "conversas de varandas", na sala de sua residência, ali por perto do antigo "ferro de engomar" ou em seu gabinete, entre fotos e documentos históricos. Começávamos falando da efervescência política do movimento social bancário nos anos 50 e 60 e terminávamos na poesia (minha paixão frustrada no sedutor corpo da arte). Era, de fato, o Príncipe dos Poetas, um dos últimos representantes da bela poesia parnasiana. Aliás, passei a me recuperar dos preconceitos eivados das atravessadas leituras dos "modernos" e me reconciliei com a rima, pela sagrada absolvição de Alonso.
    Como não esquecer daquela manhã de março de 2006, na defesa de minha dissertação, ao olhar na primeira fila, devidamente paramentado, o velho Alonso? E no almoço do Beira Rio, ouvindo a emocionante daclamação que fez ao filho especial, levado à eternidade? Fico feliz ao sair do agnoticismo, e pensar Alonso abraçado ao filho na eternidade.
    Como militante bancário, Alonso fez parte da geração dos que classifiquei como "independentes" na mediação entre comunistas e trabalhistas nos anos 50 e 60. Junto com Arthur Gomes, guiou o movimento bancário paraense pelos caminhos da mediação institucional com o regime militar instalado pós-64, mas manteve com os clandestinos comunistas, uma relação de respeito e amizade. Nos momentos mais tensos das perseguições a Jinkings, Alonso lhe estendeu a mão companheira, escondendo-o da repressão. Esse era Alonso, sujeito histórico ímpar de nossa tradição sindical que as classificações pejorativas da esquerda bancária lograram-lhe jogar à vala comum do "peleguismo". Fez história entre bancos, espadas, letras e fardões.

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