segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Os códigos culturais na visão da antropologia

Do leitor Artur Dias, sobre a postagem A violência e a antropologia:

A antropologia de fato nunca negou, nem teria como, a existência de aspectos polêmicos nas culturas ditas "primitivas", como rituais que incluem a tortura (vide Pierre Clastres), mas dentro de um ambiente controlado.
A aceitação da dor profunda, imposta pelos mais velhos, indica o desejo dos jovens de se mostrar dignos de seu povo, ainda mais quando se está falando de sociedades guerreiras e caçadoras, em que o confronto e os ataques de animais selvagens é uma realidade presente.
Assim, seria um luxo sustentar indivíduos deficientes ou com pouca resistência à dor. Até hoje a escarificação tem grande significado para muitos povos, e me arrisco mesmo a dizer que a agressão dos kayapó ao engenheiro há três anos em Altamira guarda um pouco desse simbolismo, embora no geral tenha sido repudiada até mesmo pelos outros índios.
As manifestações da cultura humana têm seus códigos próprios, e isso independe das nossas escalas de valores. Mas não encontraremos antropólogos defendendo as brigas de gangues, digo, torcidas organizadas; muito menos o espancamento de mulheres ou de homossexuais.
O que é necessário agora, ao invés de demonizar os índios e os antropólogos, é entender as razões profundas que levam uma família indígena a recusar uma criança, e encontrar uma solução comum entre as duas culturas.
Entender as razões do pai e da mãe índios exige ouvi-los, coisa que, ao que me parece, não foi feita pela imprensa.

2 comentários:

  1. Falou, falou e não disse nada: afinal, os indiozinhos com deficiência podem ser descartados pelos pais, em nome da liberdade cultural?

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  2. Um pensamento que se manifesta de maneira tão simplória só serve para alimentar o preconceito contra os índios. Será que pelo fato de nós carregarmos uma moral muitas vezes enganosa, somos melhores que um índio que crê nos karuãna? Será, por acaso, que só a nossa sociedade judaico-cristã tem a medida da justiça e do respeito à vida? Penso que não, pois de outra forma não teria usado a religião para estabelecer séculos de tormento e extermínio aos povos indígenas. A imprensa “espetacularizou” o caso da índia, mais com o objetivo de reforçar um discurso moralista, do tipo “nós somos melhores e mais desenvolvidos que os índios” que de promover algum debate útil sobre o problema da saúde nas aldeias. Não é novo, na crônica indigenista, o caso de uma criança indígena rejeitada pela família, terminando o caso em adoção por alguém de fora ou simplesmente na morte da criança. Os adotantes não ficaram perdendo tempo com parlengas sobre o “certo” e o “errado” nas culturas indígenas, apenas procuraram uma solução razoável para o caso. Deve ser dito ainda, que não existe essa crueldade com as crianças, que algumas ongs atribuem aos índios. O que existe é o nosso impulso de fazer o contraste idealizado do nosso modo de ser com o dos índios, como se em nossa sociedade não houvesse violência e abandono de crianças e de velhos.

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