O deputado estadual reeleito Valdir Ganzer (PT) - na foto, da Agência Pará -, que também foi secretário de Transportes do governo Ana Júlia, conversou com a repórter Keila Ferreira.
A matéria está publicada na edição de ontem, de O LIBERAL.
Ganzer faz uma análise lúcida, serena, ponderada e inteligente sobre as razões que levaram Ana Júlia a perder a eleição.
Acerta em cheio quando menciona, por exemplo, três fatores: o vezo (toma-te!), a mania, o hábito do governo em descumprir acordos; a falta de divulgação das obras e realizações do governo de um modo geral e, em terceiro lugar, a verdadeira obsessão do núcleo duro do Governo (a matéria não fala em núcleo duro, não; o blog é que está falando) para eleger deputado federal o ex-chefe da Casa Civil Cláudio Puty.
Mas Sua Excelência o deputado Ganzer, como todo o respeito, faz uma análise completamente equivocada - inadmissivelmente equivocada - quando aponta um quarto fator, para ele exponencial, para a derrota de Ana Júlia.
Qual é?
Acreditem: é o machismo.
Hehehe.
O machismo, vejam só.
Disse Sua Excelência à repórter:
"O Lula conseguiu superar todos esses desafios. Quando é agora, que a Dilma foi eleita, além desses elementos que já estavam contados, tem um a mais: ela é uma mulher. Se ela errar, vai reforçar um machismo que ainda é violentamente forte em um país como o nosso. Então, a Dilma não pode errar. Ela precisa fazer um bom governo para quebrar mais esse preconceito, de que só os homens são capazes. Quando a Ana Júlia ganhou a eleição, havia duas exigências a ela: uma, a de que ela era do PT; e a sociedade cobra mais do PT. E segundo, ela era mulher. E você percebe que nos bastidores da campanha isso foi muito forte. Que ela não tinha marido e que mulher que não tinha marido não serve para governar. Temos que quebrar definitivamente esse preconceito que não contribui para a afirmação de uma sociedade democrática."
Acreditem.
Um homem público da experiência de Valdir Ganzer falou uma coisa dessa.
Olhem só.
Ana Júlia, mulher, foi vitoriosa no sindicalismo. Projetou-se nas lutas sindicais. Seu êxito nesse âmbito foi essencial para que ela aspirasse a seu primeiro mandato eletivo, na Câmara Municipal de Belém.
Ana Júlia, mulher, chegou a vereadora.
Ana Júlia, mulher, foi eleita vice-prefeita na chapa de Edmilson Rodrigues. Mesmo não tendo sido cabeça de chapa, sua presença ajudou a dar gás à candidatura de Edmilson.
Ana Júlia, mulher, elegeu-se senadora.
Ana Júlia, mulher, elegeu-se governadora, a primeira em toda a História do Estado do Pará.
Em todas essas ocasiões, ela foi bem-sucedida.
Aí, Sua Excelência disputa a reeleição.
Disputa e perde.
Vem o deputado Ganzer e diz que ela perdeu também porque o machismo predominou.
Fora de brincadeira.
De toda a brincadeira.
Mas isso que o deputado diz só pode ser uma brincadeira.
O deputado, fora de brincadeira, precisa contar outra.
Há machismo?
Há.
Em todas as áreas?
Em todas as áreas.
Até no jornalismo?
Ainda. Até no jornalismo.
Na política também?
Claro, na política também.
Mas o machismo foi decisivo para a derrota de Ana Júlia?
Não.
É claro que não.
Yeda Crusius, a tucana, lá no Rio Grande do Sul, também foi a primeira mulher a ascender ao governo gaúcho.
Levou uma sova.
Perdeu a disputa pela reeleição.
Foi por causa do machismo gaúcho?
Claro que não.
Perdeu porque fez um péssimo governo.
Perdeu porque passou pelo menos três anos administrando escândalos.
E não porque é que mulher.
E não porque é mulher alvo do machismo.
E mais: ao contrário de Ana Júlia e ao contrário do que mencionou o deputado petista, Yeda Crusius não é um sem-marido.
É casada.
E mesmo assim perdeu.
Sinceramente, o deputado Ganzer, de todas as análises feitas por petistas até agora, é o primeiro a falar nisso com tanta ênfase e com tanta convicção.
Ouçamo-lo (toma-te! - de novo).
Seja-lhe concedido o direito de expor suas opiniões.
Mas ninguém deve levar a sério o que o deputado diz.
Fora de brincadeira.
De toda a brincadeira.
Foi o machismo que elegeu a Ana Júlia em 2006? Esse pessoal do PT... adora repetir chavões sem atinar com o seu real significado.
ResponderExcluirBom dia, caro Paulo:
ResponderExcluirdepois da passagem de Valdir Ganzer pela SETRAN,o respeito que tive por ele ruiu. Mas, ainda assim, surpreendo-me com a babaquice atróz dessa "interpretação" do machismo, como fonte de derrota.
Como vc mesmo lembrou, a própria trajetória de Ana J. prova que isto nunca foi decisivo. Ou fundamental.
Confundir, deliberadamente, incompetência, descaso com a coisa pública, desonestidade de princípios, privilégio aos guetos e péssima visão social e política com machismo é que é um enorme desserviço à causa das mulheres.
Abração, Paulo.
Eu iria até postar um comentário, mas lendo o texto da comentarista Bia, já está ótimo.
ResponderExcluirÉ isso.
Simples assim.
Objetivo e pertinente.
Essa ganzeonice de machismo não colou.
Ganzeone outra.
Primeiro ele não afirmou que foi o principal motivo, como você se refere, segundo que foi de fato o MACHISMO, um do motivos pelos quais ela perdeu eleição (somado a outros)ainda que esse não tenha sido decisivo, mais negá-lo é um equivoco, pois o cargo de governadora foi até então o único executivo que ela assumiu em toda sua vida pública (vice é vice). Lógico que uma má administração de uma mulher pesaria contra ela também pelo fato de ser mulher. Esse machismo tá intrisico, presente no cotidiano e práticas de nosso povo.
ResponderExcluirFoi machismo dela cercar-se do "núcleo duro"?
ResponderExcluirFernando Bernardo
O Ganzer, deveria fazer a mea-culpa e dizer também que foi um dos responsáveis pela derrota de Ana Julia. Na frente da setran, o que vimos foram muitas denúncias de malversação e muitas rodovias abandonadas e mal conservadas.
ResponderExcluirParabéns Adelina pela sua análise, pra mim o que ficou claro pelo nobre Deputado, que se existi o machismo Ele é um dos machista quando faz essas declarações. Outra questão é querer justificar o que Ele não conseguiu fazer a frente da Secretaria de Transporte.
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