segunda-feira, 28 de junho de 2010

Perplexidades

No blog Na Rede, da jornalista Ana Diniz, sob o título acima:

Por que a Fifa estragou a Copa do Mundo? Excesso de ambição, talvez? Alguém me informa que a Fifa sempre muda a bola nas Copas, para conseguir mais gols, e, assim, tornar o futebol mais atraente. Eu nunca consegui entender porque o futebol deva ser mais atraente do que já é, com seus duelos entre a força e a habilidade, entre a criatividade e a disciplina, entre o poder coletivo e o poder individual, e, bailando entre todos esses duelos, o acaso, o golpe de sorte ou de azar. Já é tanto, que a maioria dos torcedores de verdade considera a melhor seleção que o Brasil já teve foi a de 1974, que perdeu uma Copa do Mundo. Do jeito que a Fifa age, ouve mais marqueteiros que torcedores; e o resultado foi esta horrível Copa.
Eu não me conformo de ver goleiros excelentes, passando vexames como se fossem peladeiros, engolindo pseudofrangos porque alguém achou que a bola deveria prejudicá-los. Uma bola que neutraliza toda a habilidade conseguida por atacantes e zagueiros, impede a organização de jogadas e transforma cada partida numa loteria. Virou questão de sorte acertar ou defender um chute. Isto não é futebol.
O resultado, que o mundo inteiro está vendo, é dois times, quaisquer que sejam, entrarem em campo com medo da bola.
Esta é a Copa do anti-futebol. Sem nenhuma beleza, e também sem gols.

Saramago ser considerado o grande escritor em língua portuguesa. Eu compreendo que ganhar um Nobel tem seu valor, mas nem todos os que ganharam esse prêmio são realmente excepcionais. Para mim, Oz, Hemingway e Saramago estão no segundo time, para citar três vencedores, bem longe de Garcia Marquez, Pamuk ou Kenzaburo Oe. Eu acabo de ler o segundo livro da portuguesa Inês Pedrosa; ela está só no começo da carreira, e é melhor que ele. Sem falar de Mia Couto e sua lírica abordagem moçambicana, e da plêiade de brasileiros, entre os quais eu não incluo Jorge Amado, aliás – mas Lia Luft, sim, e os maravilhosos Cecília e Drummond.
Talvez o Nobel tenha tornado Saramago um dinossauro, um medalhão. Mas é um dinossauro arrogante demais, tanto no seu jeito de ser, como na sua literatura.

Por que a recente propaganda do Governo Federal está tão parecida como a propaganda do mesmo Governo Federal nos idos de 1970? São arroubos nacionalistas, música grandiosa, verde-amarelismo esgotante. Nos 1970, estávamos numa ditadura; hoje, estamos numa democracia. Além disso, a patriotada, hoje, soa anacrônica: ninguém ignora que uma gigantesca multinacional pode mais que um pequeno país. Ou, se ignora, precisa cair na real – e a realidade é que, se, em 70, meia dúzia de países tinha uma boa receita a partir do aluguel de bandeiras para navegação, hoje são dezenas de países que alugam suas bandeiras para endereços eletrônicos. Porque isso, agora? Brasileiros, como qualquer um, gostarão muito de estar entre os grandes do mundo, mas brasileiros não se sacrificarão por isso. Há muito tempo o Brasil deixou de ser uma causa, para ser um lugar bem-amado. A causa é viver bem e decentemente.

Por que Dilma Roussef aceitou ser barbierizada? É verdade que a receita foi aplicada a Lula, que aceitou mudar sua postura pública para conseguir finalmente ganhar a eleição presidencial. É isso que dizem; mas, na verdade, Lula ganhou porque José Serra foi traído. E porque Fernando Henrique teve compostura ética e não fez o que Lula está fazendo: campanha eleitoral ilegal e antecipada. Lula é multado a cada sessão do TSE. Mesmo assim, a receita marqueteira para Lula só lhe mudou a roupa e aparou a barba e os cabelos. Dilma, não – dela só permanece a roupa, que já era de alta costura mesmo antes da candidatura. Rosto, cabelos, postura, tudo mudou. Na minha opinião, introduziu um toque de fraude que poderá ter para ela o mesmo resultado que teve a Fifa nesta horrorosa Copa do Mundo.

Um comentário:

  1. Postura ética um presidente que muda a Constituição no meio do jogo e não tem o menor pudor de se utilizar do estatuto da reeleição,que qualquer governante minimamente ético teria permitido para os próximos eleitos? Ética foi justamente um dos maiores déficits de FHC.

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