segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Copenhague: utopia e fracasso


Nada mais desalentador do que perseguir uma causa em que o planeta Terra está comprometido. E a falta de incentivos financeiros fortes e de conscientização da sociedade civil latino-americana são obstáculos que devem ser superados para combater com êxito o desmatamento, elemento chave na luta contra o aquecimento global. Há que se ganhar o combate contra o desmatamento, senão perderemos a luta contra o aquecimento global. Essa máxima é para todos os envolvidos.
Ultimamente, cada vez fica mais difícil decifrar o que pensa e o que diz o Nosso Guia. Dias desses, assinou um decreto dando mais dois anos para produtores se comprometerem em recuperar áreas desmatadas ilegalmente. O decreto caiu como uma bomba no Ibama, órgão responsável pela fiscalização de ilícitos ambientais, às vésperas da viagem do presidente para a Cúpula do Clima, em Copenhague.
Isso tanto irritou quanto incomodou os técnicos do Instituto. É que a decisão engessa as atividades dos fiscais, que não podem multar aqueles que desmataram, até este ano, em áreas a serem preservadas, nem os que não mapearam esses locais dentro de suas terras. O decreto pune quem foi correto e pagou a multa devida. Durma-se com um barulho desses.
O ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore apresentou dois novos relatórios sobre o gelo polar juntamente com os ministros de Relações Exteriores da Noruega e da Dinamarca. O gelo no Ártico diminuiu dramaticamente, para níveis recordes de baixa, nos últimos verões. Cientistas culpam o aquecimento global, que elevou as temperaturas duas vezes mais rapidamente no norte do que em outras regiões. Tudo bem, Al Gore é um batalhador, mas os EUA não têm moral para exigir muita coisa, pois não foi signatário do Protocolo de Kyoto que expira em 2012 (e teria continuidade com a Cúpula do Clima), que fixa reduções às emissões de gases de dióxido de carbono.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-mon, que abriu oficialmente a segunda fase da Conferência da ONU sobre mudanças climáticas (COP-15), em Copenhague, pediu que países ricos e pobres parassem de apontar o dedo uns contra os outros e elevassem suas metas climáticas para salvar as emperradas negociações sobre um pacto de redução do aquecimento global.

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“Al Gore é um batalhador, mas os EUA não têm moral para exigir muita coisa, pois não foi signatário do Protocolo de Kyoto que expira em 2012 (e teria continuidade com a Cúpula do Clima), que fixa reduções às emissões de gases de dióxido de carbono.”
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O clima em Copenhague era de certa hostilidade, a segurança foi ampliada para preparar a chegada de 115 chefes de Estado e de governo, para participar até 18.12.09 do encerramento da conferência sobre o clima em Copenhague. Barreiras de segurança de concreto e policiais que montam guarda dia e noite. As forças da ordem coibiram com firmeza eventuais novas manifestações. A polícia prendeu mais de 1.500 pessoas.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, foi bastante explícito ao declarar que existem contas a pagar e que a COP-15 não pode ficar só em discursos. Ele cobrou ações, achando que a "Conferência beira catástrofe". A chanceler da Alemanha, Angela Merker, afirmou em Berlim, que as notícias procedentes de Copenhague "não são boas".
Havia uma expectativa inicial que na presença de cerca de 120 chefes de Estado, um pacto pudesse ser selado. No entanto, essa perspectiva vinha sendo frustrada pela persistência de um impasse entre os países industrializados e as nações em desenvolvimento com relações às metas de redução de emissões e ao financiamento de programas.
Nosso Guia, em alguns momentos, apresentou na reunião de Copenhague suas propostas e reivindicações, tendo como ponto de apoio vários países. Os líderes do chamado Basic (grupo formado por Brasil, África do Sul, Índia e China) mantiveram uma reunião entre eles, já com a presença de Barack Obama, e discutiram o principal ponto de divergência entre as partes, que era a questão da verificação de ações de redução de emissão de gases do efeito estufa sem financiamento externo.
Um dinheirão foi gasto para que tudo fique como está. Para a grande maioria dos países, não chegaram ao consenso para redução de emissão de gases. Tudo leva a crer que a COP-15 foi um "fiasco" e a União Européia afirma que Copenhague foi um "desastre". Documento declaratório resultante da conferência do clima agora é rejeitado pelos países que ajudaram a articulá-lo.
No mais, apesar de China ser apontada como culpada pelo fracasso da cúpula, europeus devem concentrar pressão sobre os EUA agora. Ou como teria dito o príncipe Hamlet, célebre personagem Shakespeariano: "Há algo de podre no reino da Dinamarca".

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SERGIO BARRA é medico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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