FRANCISCO SIDOU
Com verve e fina ironia, fazendo trocadilho com a propaganda oficial então veiculada na mídia pelo governo do Estado, mostrando as riquezas e belezas naturais do Pará, essa foi a pergunta de um parente , quando o incentivei e fui com ele visitar o que seria o nosso stand na Feira dos Estados, em Brasília, na década de 90. Simplesmente, o local destinado ao Pará havia sido ocupado pela barraca do Amazonas.
Entre surpreso e decepcionado, ouvi então da bela recepcionista amazonense a explicação de que o pessoal do Pará não havia aparecido no prazo estabelecido para montagem de seu stand. Então, os organizadores da Feira dos Estados autorizaram a utilização do espaço ocioso para ampliação da barraca do Amazonas, que tinha muita coisa para mostrar, incluindo a exibição todas as noites do grupo folclórico formado por integrantes dos bois Caprichoso e Garantido.
Fiquei sabendo, também, que a culinária regional era outra grande atração da barraca do Amazonas, a mais procurada da Feira, com especial destaque para o tambaqui moqueado e o pato no tucupi. Perguntei, meio intrigado: mas o pato do tucupi não é especialidade da culinária paraense? Então, a jovem recepcionista, gentilmente, explicou: na verdade, o pessoal da Amazontur trouxe a cozinheira e os ingredientes como jambu e tucupi do Pará, mas os patos eles compraram aqui mesmo no supermercado. O sorvete de açaí também veio de Belém e é o produto mais procurado da barraca. Literalmente desconcertado, aceitei a carona de meu primo brasiliense e tive de engolir sua sutil gozação: “Meu caro, desse jeito o Amazonas vai acabar encampando o Pará...”
Em ações de marketing e de turismo, isso já vem acontecendo há mais de uma década, culminando com a vitória de goleada na escolha de Manaus pelos “homens “ da FIFA como subsede da Copa do Mundo/2014. Os espaços deixados pela falta de ação de nossa combalida Paratur são todos ocupados pelo Amazonas, que já expõe, em seus stands, em todo o Brasil, produtos como polpa de açaí, pupunha, farinha de tapioca , cupuaçu, bacuri e a castanha-do-pará, que está sendo rebatizada como castanha-do-brasil, para escamotear sua origem.
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“E assim, de ausência em ausência , em feiras e exposições nacionais e internacionais, vamos perdendo as principais oportunidades de divulgar lá fora nossas potencialidades turísticas, a exótica culinária e a rica cultura paraense.”
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Culpa dos amazonenses? Não. Culpa da nossa ausência , da fragilidade de nossas entidades encarregadas de promover ações de turismo e de marketing institucional . No verão de julho, em Salinas, no Hotel “fretado” pelo pessoal de Manaus, um jornalista amazonense me disse: “Caro colega paraense, se Salinas fosse no Amazonas, há muito já seria o balneário mais famoso do Brasil. Então, ponderei: “Quer dizer, que além de adotarem o governador, que é paraense, vocês ainda querem levar o nosso pedaço de mar mais charmoso? Ao que ele retrucou: “Vocês não correm esse risco - de levarmos Salinas -, pois na verdade preferimos vir aqui gozar dessa maravilhosa praia, que consideramos a melhor do Brasil. O que acontece, hoje, no mercado amazonense, é um “boom” imobiliário com a procura de casas e apartamentos em Salinas, que já é, de fato, a verdadeira “praia” de Manaus.
Não vai demorar muito para Salinas eleger um prefeito amazonense. No abandono em que a cidade se encontra, talvez até seja um bom negócio, pelos investimentos que poderão ser canalizados para a cidade pelos empreendedores do Amazonas, que já investem alto em Santarém e nas potencialidades turísticas de Alter-do-Chão.
Essas reflexões me ocorrem ao ler no “Repórter 70” que “a participação do Pará na Festa dos Estados, em Brasília, como parte dos festejos comemorativos dos 50 anos da capital federal, foi decepcionante. A barraca do Pará era a mais pobre da Feira, na opinião de um visitante paraense. As iguarias regionais e os ritmos típicos do Estado foram praticamente ignorados pelos organizadores do evento”. E complementa: “A Paratur, quebrada, nem deu as caras no evento.”
E assim, de ausência em ausência , em feiras e exposições nacionais e internacionais, vamos perdendo as principais oportunidades de divulgar lá fora nossas potencialidades turísticas, a exótica culinária e a rica cultura paraense. Em conseqüência, só as notícias desagradáveis ou pitorescas conseguem destaque na mídia nacional. Até quando, senhores e senhoras de nosso destino?
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FRANCISCO SIDOU é jornalista
chicosidou@bol.com.br
Esse pessoal da política só quer o status e os benefícios que acompanham os cargos púbicos.
ResponderExcluirSomente uma minoria que os assume tem capacidade e compreensão para gerenciá-los. De resto, é só enrolação e gasto do dinheiro público! E ainda tem localidade querendo virar município. Quanta ingenuidade!
A matéria do renomado jornalista (e atual 1ºVice Presidente da Academia Paraense de Jornalismo), Francisco Sidou oferece a oportunidade para que a minoria dos políticos capacitados para gerenciar os cargos públicos – como diz o Anônimo das 08:07h, arregacem as mangas, para tentarem mudar o lastimável cenário de submissão do Pará, em termos conceituais, ao vizinho Amazonas.
ResponderExcluirA denúncia do nobre jornalista retrata um achincalhe abominável que não pode mais continuar evoluindo nesse ritmo galopante já sobejamente demonstrado. Dos poucos políticos sérios, sabemos, quase nada se pode esperar, quão difícil é a missão prévia que teriam que desencadear ou seja: Contaminar seus pares para que, tomando vergonha na cara, deixem de sobrepor seus interesses pessoais (ou de grupos predadores do interesse público) àqueles que são lídimos anseios da sociedade. Um crime contra o estado de direito democrático com que sempre sonhamos e que, ingenuamente, n’algumas vezes acreditamos estar vivendo.
A bem da verdade, há que se dizer que o Pará é vítima não apenas dos seus maus políticos como também da ignorância dos nossos irmãos sulistas que, neófitos no domínio do conhecimento sobre a geografia brasileira, confundem, grosseiramente, a AMAZÔNIA (cobiça mundial) com o AMAZONAS (Estado pelas mazelas em foco, acabará, quem sabe, em curto espaço de tempo, quase que duplicando a sua extensão territorial).
Que tal criarmos uma entidade civil, sem fins lucrativos (de verdade) que possa se mobilizar em defesa das nossas riquezas, em todas as suas vertentes), corajosa e destemida demande contra os maus políticos e gestores públicos, nos fóruns possíveis? Qual o apoio que poderíamos esperar do judiciário e dos homens de bem que ainda restam nesta Terra, em busca de uma tardia mas não impossível reversão desse caótico cenário descrito pelo 1ºVice Presidente da Academia Paraense de Jornalismo?