domingo, 27 de setembro de 2009

Naquele tempo...


... Disse Nosso Guia a seus seguidores: "Companheiros, façam o que eu vos digo, mas não tentem fazer o que eu faço". E foi exatamente o que eles não fizeram. Empossado presidente, Lula já tinha feito a planta baixa da obra do que ia construir e estruturar e o vinha fazendo ao longo dos seus enfrentamentos. No início de seu primeiro governo, percebeu a diáspora que seu partido estava protagonizando.
Como explicar que o presidente da República tenha passado quase 7 anos incólume diante de tantos escândalos produzidos por sua agremiação partidária? Simples, Nosso Guia não se envolveu diretamente nas transgressões que seu partido desempenhou. Todavia, seus homens de confiança - principalmente o chamado "núcleo duro" - caíram em desgraça.
Qualquer cidadão bem informado percebeu que o presidente conseguiu blindar-se de tal forma, que sua trajetória como chefe da Corte, não sofreu oscilações mercuriais importantes ao ponto de prejudicar sua popularidade.
Sabe-se perfeitamente que um líder político como Nosso Guia, hoje manda e desmanda no PT, mas o PT não tem a força suficiente para exigir-lhe nada, absolutamente nada. Nosso Guia tem a força? É óbvio e ululante que sim. Apesar da compreensível aura de superpoderes que acompanhou sua eleição e reeleição, Lula é exposto aos mesmos riscos de todos os políticos e, no momento, está com a popularidade declinante, mas não tanto.
A recuperação econômica ainda não produziu os empregos prometidos; e possivelmente não o fará. Nosso Guia e o PT também acharam que a vitória eleitoral de sua reeleição era um passaporte carimbado para as reformas, com ênfase na reforma política, mas não o foi. Na realidade, muitos brasileiros sentiram que, em vez de ganhar, saíram perdendo. A reforma empacou.
Há que se notar algo esquisito na opção preferencial do presidente da República pela candidatura presidencial da ministra Dilma Rousseff. É fácil notar que Lula já percebeu que ela não tem cacife e nem é do ramo e nem possui o capricho de ser.
Agora, um fato novo surge. O deputado cearense Ciro Gomes, o eterno 3ª via, deu dois grandes passos para consolidar sua candidatura a presidente da República pelo PSB. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente do partido, levantou as restrições que mantinha à indicação do colega. Campos, que postula a reeleição, temia perder o apoio do PT de seu Estado, caso não endossasse a candidata ao Planalto, a ministra Dilma. Contudo, considera que conquistou o PT local. Ciro recebeu outra boa notícia do PCdoB, um tradicional aliado petista. Em conversas privadas, o presidente dos comunistas, Renato Rabelo, disse estar preocupado com o fato de Dilma ter empacado nas pesquisas eleitorais e passou a cogitar a hipótese de apoiar Ciro.
Pesquisa CNI/Ibope a ser divulgada na segunda-feira (28) trará uma novidade inconveniente para o governo - e não os cerca de 40% das preferências para José Serra. O incômodo maior será ver Ciro em segundo lugar. A diferença real entre Ciro e Dilma pode até nem existir, pois está dentro da margem de erro da pesquisa, mas sua divulgação terá grande repercussão. Na mesma pesquisa, Marina Silva começa a dizer a que veio - ela surgirá com 6% das intenções de voto.
Resta ao PT montar um ambicioso plano de arrecadação de fundos para a campanha de Dilma, via internet e telefone, inspirado na bem-sucedida experiência de Barack Obama. Nos bastidores, o projeto é chamado de Estrela Esperança, numa alusão ao Criança Esperança, da Globo. O objetivo é obter mais dinheiro que a Vênus Platinada com seu projeto para crianças carentes - na edição deste ano, a emissora recolheu R$ 8,5 milhões.
A corrida presidencial já deslanchou, essa é que é a verdade. Neste cabo de guerra, o presidente da Câmara, Michel Temer, resolveu cobrar ao vivo e em cores do PT uma explicação rápida sobre a aliança com o PMDB na eleição presidencial. Temer quer ser vice de Dilma, mas Orestes Quércia, que manda no PMDB, já tem o compromisso assumido de apoiar Serra, não quer.
A Corte já percebeu o movimento e mandou que o PT ficasse em Estado de alerta, a fim de não ficar no prejuízo. Nosso Guia deve estar passando o lenço na cabeça duplamente quente, pelo "rabo de foguete" na embaixada brasileira em Honduras e o peso de impor uma candidatura que grande parte de seu partido rejeita. Acredito hoje, já arrependido, e com a candidatura publicamente exposta, em solilóquio ele deve pensar: "Nunca antes, na História deste país...".

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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