segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O homem que virou suco

No Página Crítica:

Deraldo, poeta, retirante, é caçado impiedosamente na selva de pedra por um crime que não cometera.
Francenildo, caseiro, testemunha ocular da esbórnia, vítima da arrogância do poder, acaba esmagado, sem apelação, no altar solene de uma corte que resolveu, mais uma vez, consagrar a impunidade que serve de exemplo.
Deraldo, o repentista, sofre horrores, mas sua existência está limitada à película e sua pulsação resulta da velocidade em que os frames se deslocam sob a genial direção de João Batista Andrade, no clássico do cinema nacional do já distante 1980.
Francenildo, o caseiro, é de carne e osso, e seu olhar de desamparo diante do placar vergonhoso - 5 votos contra 4 - é a mais acabada tradução do abismo que separa a sociedade orfã e as necrosadas estruturas do Estado que permanece aprisionado à lógica dos prepotentes de ontem e de hoje.
O STF cravou mais um prego na cruz que simboliza sua desmoralização. O voto de seu presidente, ministro Gilmar Mendes, decisivo para livrar a pele de Antônio Palocci, desconheceu a elementar questão que vincula o delito a quem dele se beneficiou. Afinal, era o ex-Czar da economia lulista que precisava destruir a reputação do caseiro e, assim, desmontar seu depoimento sobre a tal mansão onde lobistas, altas autoridades da República e moças de má-fama se entregavam aos prazeres mundanos, numa simbiose alucinada entre poder, sexo e dinheiro.
Restou, como sempre, a sensação de que o crime quase sempre compensa. Pelo menos para alguns afortunados.

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