domingo, 29 de março de 2009

É depressão, sim


Ninguém duvida que a crise continue e que este será um ano difícil. Estamos passando por seis meses de graves turbulências, seis meses depois da quebra do Lehman Brothers, fatos acontecem diariamente como reflexo daquele louco domingo, 14 de setembro, em que ficou claro que havia uma crise sistêmica nos bancos americanos. Quanto tempo vai durar a crise? Como está afetando as empresas? Teremos recessão?
Nos Estados Unidos, são os chamados "seis meses que abalaram o mundo". Aliás, ainda abalam. Nesse turbilhão de acontecimentos novos diários, os jornalistas - a mídia em geral - são soterrados por informações e fatos inéditos de uma crise sem parâmetros. 1929 é só um quadro na parede. Em alguns aspectos, essa crise é pior que aquela; em outros, diferente. Recessão ou depressão nos EUA? Tudo é uma questão de definir onde está o ponto mais baixo da quebradeira.
É muito claro que há uma indignação recorrente em relação à economia dos Estados Unidos e, por tabela, do mundo todo: o que se vive ali é recessão ou depressão? Tecnicamente, segundo gente da área, para que um país entre em recessão, são necessários dois trimestres consecutivos de queda do PIB, o produto interno bruto. É fenômeno que já aconteceu. Neste momento os americanos já convivem com ele. E a depressão, mais grave, porém, mais difícil de medir? Pois é, uma piada tem ajudado a comparar os dois momentos: recessão é quando seu vizinho perde o emprego, uma depressão é quando você perde o seu.
Tudo leva a crer que não há uma definição ou um conceito oficial para a depressão, segundo alguns analistas. Nos anos 1930, a crise ganhou essa classificação por causa da taxa de desemprego, que bateu nos 25%, e da retração de quase um quarto da economia.

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“É depressão, sim. Os ministros das finanças de vários países do planeta revisaram para baixo as já desanimadoras projeções de crescimento econômico para este e para o próximo ano. A cada dia diminui o número de otimistas que previam um 2010 um pouco melhor.”
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Os números da atual crise ainda não atingem tal magnitude. Existem os que tentam conduzir a crise pelo bom caminho, achando que existe algo parecido com uma Grande Recessão e que ela não produzirá uma queda tão aguda quanto à provocada pela Depressão. São apenas hipóteses, e mesmo o melhor dos cenários é ruim.
Só não vê quem não quer. O comércio mundial está entrando em colapso - os recuos vertiginosos das exportações chinesas, japonesas e brasileiras são um sinal bastante claro dessa realidade -, a riqueza está se evaporando (o Banco Mundial estima que a crise vá aumentar em 46 milhões o contingente de pobres no planeta) e o sistema bancário está quebrado. Contudo, a tal Grande Recessão sugerida por especialistas de Harvard pode ser mesmo depressão.
Cresce o clima de indignação nos EUA, no que diz respeito aos executivos da seguradora AIG, que receberam US$ 220 milhões em bônus - dos quais US$ 170 milhões saíram do cofre do governo e, consequentemente, do bolso do contribuinte americano. Desde que estourou a crise financeira, o governo americano injetou US$ 170 bilhões na AIG. É dinheiro do Tesouro, abastecido com os impostos de gente que viu o preço de sua casa virar pó e seu emprego ir para a estratosfera.
A Economist afirma: "Hostilizar banqueiros, entretanto, é um caminho perigoso". Bancos e seguradoras estão sendo socorridas não porque merecem ajuda, mas porque simplesmente não existe outra alternativa. Deixar que grandes bancos ou que gigantes como a AIG quebrem pode sair mais caro do que socorrê-los.
A crise financeira que nasceu nos EUA plantou uma pantofobia de tal ordem que todos estão pagando caro. A recessão já instalada e a proximidade de uma depressão (ao Reino Unido ela já chegou, admitiu o Banco da Inglaterra) provocam convulsão política (a queda dos governos da Islândia e da Letônia são exemplos), protestos e greves (parte da França parou na quinta-feira, 19), conforme os jornais eletrônicos da TV Globo mostraram. A Europa virou um continente à deriva.
É depressão, sim. Os ministros das finanças de vários países do planeta revisaram para baixo as já desanimadoras projeções de crescimento econômico para este e para o próximo ano. A cada dia diminui o número de otimistas que previam um 2010 um pouco melhor. "Não há porto seguro contra a tempestade econômica planetária", conclui Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia no New York Times.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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