domingo, 1 de fevereiro de 2009
Faz-de-conta que acredito
Admita-se que até um dia desses, os romances políticos tanto na Câmara quanto no Senado estavam favorecidos, mas há tendência à insegurança e desconfiança. Recentemente, o caldeirão de uma crise entre o PT e o PMDB entrou em ebulição. Via de regra, político é ambicioso, não é generoso e gosta de mostrar certa independência - claro, existem exceções. Mas, como todos os mortais, passam por períodos de turbulências e tribulações, como na disputa pelo Senado, que respinga na Câmara e pode atrapalhar os planos de Michel Temer.
É de se questionar o que a Corte nos apresenta: a volta do senador Renan Calheiros à cena, por intermédio do ex-presidente José Sarney. É de se perguntar: é tudo o que o Planalto tem a oferecer ao cidadão brasileiro? Será que merecemos mesmo isso? Que tudo está de volta? Aquela velha esperteza do vai não vai, do dito pelo não dito, do jogo da simulação, que ainda é saudada como demonstração de grande habilidade, digna de louvor e reconhecimento, quando se trata, na realidade, de uma legítima obra antiquada.
Essa lenga-lenga nada tem com a pessoa do senador José Sarney, mas a manipulação que ele aceita que se faça da figura de um ex-presidente da República de reconhecido valor pelo papel exercido na transição democrática, quando se portou como estadista, com dotes de moderação e equilíbrio que já prestaram bons serviços ao país.
Agora, aqui pra nós, ninguém merece esse momento-Nero do senador Sarney colocando-se a serviço de um colega envolvido em denúncias graves, obrigado por causa delas a renunciar ao mandato de presidente do Senado e salvo da cassação por conta da indulgência de seus pares e pelo que há de mais arcaico na política brasileira: a conjugação do fisiologismo com o corporativismo.
Afinal, quais são as razões de Sarney? Por que ele quer voltar à presidência do Senado? Oficialmente disse que atende às pressões da bancada. Extraoficialmente, porém, pesou o desejo de recuperar o prestígio político do clã Sarney no Maranhão e tenta interferir nas investigações da Polícia Federal contra seu filho, Fernando Sarney, suspeito de corrupção.
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“Na matemática de campanhas dos políticos é difícil entender a contabilidade, se no Senado há 79 eleitores tirando os dois postulantes à presidência.”
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Quando tudo fica concentrado, o fisiologismo é mais difícil e se materializar.
O tal rodízio que deveria orientar as eleições, parece não vingar e o deputado Michel Temer se expõe a riscos na Câmara. O senador José Sarney (PMDB-AP), está disposto a disputar a presidência do Senado no voto, em plenário, com o senador Tião Viana (PT-AC). Essa decisão já foi comunicada em audiência, terça-feira, 20, ao Nosso Guia.
Para quem acompanha esse disse-me-disse à sucessão do Congresso, Sarney, gostaria de ser o candidato de consenso, mas já não tem expectativa de ser "ungido" ao cargo. Contudo, o grupo do senador avalia hoje que não há mais condições políticas na Corte remover a candidatura do senador Viana.
As paixões políticas turvam a cena em que ocorrem. O ex-presidente Sarney desponta - faltando alguns dias para a eleição - como o favorito. É bem possível que venha a se eleger porque conta com a maioria dos votos de seu partido, o PMDB, e até agora com a reverência de parte da oposição, DEM e PSDB.
Ademais, a Corte está dando uma de Pilatos, não quer se envolver na disputa dos candidatos Sarney e Tião para comandar o Senado. Também não vai interferir em favor da candidatura de Michel Temer para a Câmara. Auxiliares diretos do Nosso Guia consideram um erro estratégico permitir que o partido controle tanto Câmara quanto Senado, ainda mais sem a certeza de que o PMDB estará alinhado com o PT na campanha presidencial de 2010.
Na matemática de campanhas dos políticos é difícil entender a contabilidade, no Senado há 79 eleitores tirando os dois postulantes à presidência. Um por ser um cacique à moda antiga acha que já está eleito pelo peso do PMDB e votos garantidos em outras legendas, têm certos 56 votos, o outro diz que tem os votos do PT - mais de trinta votos -, acrescentando 4 do PMDB e mais os dissidentes do PSDB e do DEM. Em relação à Câmara, Temer divulga vantagem de 300. Tirando os noves fora e a "trairagem", ou tem gente mentindo ou muita gente se iludindo.
Até amanhã, 2 de fevereiro, tudo pode acontecer, inclusive o senador Sarney e o deputado Michel Temer ficarem fora do ora veja. É uma hipótese remota, mas já não absurda para efeito de análise da cena. É na coxia dos partidos, longe dos olhos do
público, onde as forças da reação se movimentam poderosa e dissimuladamente.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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