A governadora Ana Júlia Carepa esteve ausente, ontem, das comemorações do 25 de Setembro, a data magna da Polícia Militar do Pará, que festejou os seus 190 anos de criação.
A governadora, sabe-se, está viajando. Está longe dos pagos belenenses. Ontem, por exemplo, estava em Curuçá inaugurando uma escola.
Poderia Sua Excelência muito bem ter escolhido outra data para se ausentar de Belém. Uma solenidade festiva como a que se viu na Polícia Militar poderia muito bem oferecer-lhe a deixa para novos discursos, novas proclamações de compromissos na área da segurança pública, tema que tem absorvido bastante as atenções da governadora Ana Júlia, nas últimas semanas. Tem ocupado tanto que ela já foi, in loco, em pessoa, em carne e osso ao bairro da Terra Firme, no que se constituiu, digamos, a simbólica reentrega do bairro à esmagadora maioria de seus pacíficos moradores, todos apavorados diante da criminalidade avassaladora e aparvalhados diante da omissão do Poder Público em combatê-la.
Tratar PMS com decência é preciso
Uma omissão que, faça-se justiça, a governadora tenta superar com ações. Mas as ações na área da segurança pública exigem que se trate com decência aqueles que estão na linha de frente para defender a sociedade: os policiais. E mais que decência, é preciso tratar os policiais – como de resto qualquer servidor público – dentro da mais estrita legalidade.
Se os policiais são tratados com desprezo pelo próprio Estado, que estímulo terão para trabalhar? Se são tratados como se enjeitados fossem, como exigir deles que se exponham com afinco na guerra aberta e diária contra criminosos sempre à espreita?
A governadora Ana Júlia, por tudo isso, deveria ter ido à Polícia Militar. Era recomendável que fosse até lá. Mas talvez tenha preferido ocupar sua agenda com outros eventos para não se expor ao risco de alguma manifestação fora do script, durante a festa da PM.
Porque não há dúvida que a insatisfação continua – e como – por causa do atraso nas diárias, que, sabe-se agora, não vêm sendo pagas com regularidade desde o mês de maio. A Polícia Militar não tinha provisões para atender a situações de emergência, como foi o caso do deslocamento de militares para Viseu, logo depois do quebra-quebra na cidade, em agosto passado.
A falta de recursos foi admitida pelo próprio coronel Leitão, diretor de Recursos Financeiros da PM, conforme informou ao blog fonte das mais acreditadas: o promotor do Ministério Público Militar Armando Brasil Teixeira.
Enquanto o dinheiro não vem, os militares vão contando ao Espaço Aberto por meios diversos – até mesmo em conversas pessoais, para não se exporem a interceptações criminosas, neste país onde a grampolândia impera – as agruras por que passaram em Viseu, para onde foram deslocados em agosto.
Comida e combustível racionados
O acampamento em que ficaram em Viseu foi improvisado. A comida e o combustível foram racionados. Os policiais tiveram que contar com a ajuda de Belém, pois saíram sem nem um tostão das diárias no bolso.
Até hoje, 26 de setembro de 2008, um dia depois das comemorações dos 190 anos da Polícia Militar, ainda não foram pagas as diárias referentes à missão em Viseu. E a informação corrente é de que não serão pagas tão cedo, porque há diárias do mês de maio passado – referentes, portanto, a outros deslocamento de PMs para o interior do Estado – que ainda não foram pagas. “As diárias estão atrasadas não é de hoje, mesmo tendo o Comando Geral [da PM] dinheiro disponível para as operações que requeiram deslocamento”, confirma ao blog uma fonte militar.
A pergunta que não quer calar é: será que os militares vão querer continuar viajando diante desse quadro de inanição financeira em que são postos, a cada missão no interior? Agora mesmo, há novos focos de tensão nas regiões sul e sudeste do Pará. A PM, fatalmente, ainda será acionada. Serão que os militares vão viajar, sujeitando-se à deplorável condição de quase mendicância a que seus superiores os relegaram? Mas é certo que, uma vez designados, terão de obedecer, sob pena de prisão.
A vida militar é assim mesmo: o império da disciplina predomina sempre.
Mas onde está escrito que o militar deve ser disciplinado até mesmo quando lhe falta a justa paga, a justa remuneração, o legal estipêndio pelos serviços que presta como servidor público? Onde está escrito que, mesmo sofrendo privações porque não recebe o que lhe é devido, obriga-se o militar a recolher-se ao mutismo e à inércia na defesa de seus direitos?
Direitos? Mas direitos para quem?
Não é o Pará a Terra de Direitos?
Entre esses direitos que a Terra de Direitos assegura está o pagamento de diárias a servidores deslocados a trabalho para fora de seus domicílios, certo?
Errado.
Neste Pará onde tudo pode acontecer, até os direitos podem ser tortos.
Tortos e tortuosos.
Até os direitos podem ser assim.
Os policiais militares sem diárias há meses que o digam.
Caro Paulo, brilhante seu texto, você traduziu com perfeição o sentimento dos militares de revolta e indigação. O pior é que não há qualquer indicação de que as coisas vão mudar...
ResponderExcluirTriste isso!!!!
Anônimo,
ResponderExcluirMas não pode desistir.
É preciso insistir!
Abs.
Caro Paulo, essa situação em que se encontra a PM é realmente lastimável, bom que aqui no seu blog podemos ter acesso a situações que não veiculam nos jornais de grande porte, uma vez que eles tem compromisso político e financeiro com o governo, assim abafam...
ResponderExcluirSe você entrar no site da PM verá que realmente tem total procedência as informações aqui constantes. http://www.pm.pa.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=572&Itemid=145
Nessa página terá acesso ao pagamento de diárias, as últimas pagas foram em junho, mas de viagens realizadas em março, abril e maio. Simplesmente uma vergonha, e se você analizar a tabela de pagamento, poderá perceber que eles dão preferência para oficiais superiores, ou seja, a partir de capitão, o soldado raso que se lasque...Isso é Belém, isso é Pará, isso é Brasil...Governo do Povo, Pará, terra de direitos!!!!
Anônimo das 10:23,
ResponderExcluirSua informação é das mais relevantes.
Já está na ribalta.
Abs.