domingo, 27 de julho de 2008

O ensino está abjeto



A pedagogia vê o professor como única fonte de saber. A escola tem desafios e prioridades. A sensação que o ensino passa para a sociedade é de que o bom ensino no Brasil ficou no século passado. No fim dos anos setenta, os problemas básicos do ensino não interferiram de maneira pragmática no rendimento dos alunos. Daí em diante, são problemas conhecidos de todos nós. A mesma sensação de descaso se repete por décadas e apenas guardamos lembranças importantes daquele período.
O calcanhar-de-aquiles nessa carga pesada de obstáculos que se abate no sistema educacional está a questão da preparação intelectual do estudante, especialmente da escola pública. É nesse calvário que o estudante tem repetido que não se sente pronto, preparado para enfrentar o mercado e nem capacitado para entrar na universidade, haja vista a condição bem mais confortável que tem o estudante da escola privada.
Pais de alunos com folga nos bolsos preocupam-se com o futuro dos filhos em relação ao acesso universitário, matriculando-os desde cedo em boas escolas de alfabetização, para fazer frente às exigências do estudo sistemático durante o ensino fundamental e médio. Essa inquietação não acontece no dia-a-dia dos alunos da escola pública, que não têm a garantia de um bom ensino para o mundo do trabalho e nem para a formação de cidadania, conforme os ditames das leis do ensino.
Esta é uma realidade nada estimulante de um mundo contemporâneo em que o conhecimento científico, tecnológico, é a qualificada moeda de troca desses saberes acadêmicos ao longo da escolaridade. A sala de aula ainda está no século 19 e despreza novas tecnologias. Desde 1995, ano em que a internet se socializa e se põe à disposição de todo mundo, as coisas começaram a mudar na sociedade no final do século 20. Essas mudanças seguem afetando substancialmente os conceitos tradicionais dos quais nos valíamos desde o final do século 19.
Com a internet ao alcance de todos e as novas tecnologias ao alcance de quase todos, os conceitos tradicionais mudaram, ainda que exista gente que se aferre ao antigo sem perceber que o passado não é capaz de fazer frente aos desafios que temos diante de nós.
A educação é um exemplo. Fala-se e teoriza-se sobre o chamado fracasso escolar, apoiando-se em relatórios para analisar o tal fracasso utilizando parâmetros da sociedade industrial, desconhecendo que com a internet entramos numa nova sociedade. Os relatórios analisam resultados, mas evitam entrar nos conteúdos, instrumentos e atitudes dos sistemas educativos.
A análise do sistema educativo deveria buscar e analisar a caixa-preta da educação: a sala de aula. O que nos diz essa caixa-preta? A informação já não é fonte do poder e autoridade do professor. Durante séculos, o professor era depositário da informação que ia transmitindo, ano após ano, aos alunos, com auxílio de livros de texto, lousa, giz e alguns poucos meios didáticos que o estudante só podia usar em sala de aula. O adolescente ao longo dia é digital, só é analógico dentro da escola.
Essa contradição se choca com os interesses do aluno, impedindo que desenvolva suas potencialidades, aborrecendo-se diante de um sistema pedagógico inadequado às regras e normas que tem em sua casa ou na rua.
A internet disponibiliza ao aluno em segundos tudo o que é necessário saber. A internet é um magnífico instrumento. Libera informação em tal quantidade que o professor ao menosprezar ou pretender competir com ela está deixando de exercer seu novo papel, o de se converter em agente organizador capaz de fazer o aluno operar a rede para buscar esclarecimento e para que a informação chegue ao estudante em forma de conhecimento.
O bom professor ainda faz a diferença. Mesmo com toda a tecnologia a serviço do ensino. Precisamos formar e aperfeiçoar bons professores, garantir infra-estrutura em laboratórios, aprimorar conteúdo e material didático e mobilizar a sociedade em torno do aprendizado científico. A deficiência de formação inicial e continuada de professores e a distância entre a comunidade científica das universidades e o ensino fundamental são os gargalos da gestão do ensino brasileiro.

Sergio Barra é médico e professor
sergiobarra@gmail.com

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