domingo, 29 de junho de 2008

Céu de brigadeiro

Há momentos que ficamos em desordem nervosa caracterizada por sensações anormais e alucinações sensoriais. Acontecimentos recentes nos têm mostrado policiais exibindo soberba, grossura e falta de discernimento. Exorbitando na função. Praticam jogos perigosos, entregues ao esporte de amedrontar, torturar e matar. E, o que é pior, não concorre para reduzir a insegurança.
Em qualquer segmento, os moradores de uma coletividade, sabem perfeitamente quem é bandido, quem é mocinho. Não podem encorajar quaisquer dúvidas quanto à identificação de infratores e autores de quaisquer ilícitos e delitos daqueles que, por desatenderem às leis, devem ser combatidos rigorosamente. Agora, por motivos evidentes, nem sempre essa distinção é possível. Convenhamos, a polícia deve ser respeitada e não temida.
Em muitos países é vedado a policiais, nas chamadas batidas regulares, portarem armas. Mas não é assim em países como o Brasil, onde policiais nem sempre se fazem conhecer, perceber e distinguir como simples servidores que são e deveriam inspirar confiança e tranqüilidade aos cidadãos.
Tornou-se rotina e vem se tornando um problema desgastante as greves de professores que todos os anos sacodem o Brasil, nos três graus. O magistério perdeu a dignidade, prestígio e o respeito que tinha em um tempo não muito remoto. Com um salário de fome, exercendo a profissão em três turnos, ao cabo de no máximo um semestre, começam a aparecer às patologias: laringite, laringo-traqueíte, calos nas cordas vocais, síndrome do túnel do carpo etc. As críticas são muitas, mas a maioria parece ter "jogada a toalha", ficaram indiferentes e resolveram esquecer de dar boas aulas, de indisciplinas e repetências, com certeza exaurida, sem obter algum alento ou solução.
Devido à precariedade, superlotação e falta de equipamentos e alguns deles já com a garantia vencidos e deteriorados, hospitais são inaugurados e só funcionam parcialmente. Pessoas morrem nos hospitais, na fila do SUS sem ao menos serem atendidos. Agora, recentemente, como justificar a morte de 20 recém-nascidos em sete dias na Santa Casa?
As chamadas doenças da pobreza - doença de Chagas, leishmaniose, cólera e dengue - matam em conjunto milhares de pessoas por ano. Afetam mais de um sexto da população mundial. São doenças infecciosas e parasitárias que atacam populações inteiras de países pobres ou de regiões pobres de países em desenvolvimento.
São as doenças negligenciadas, como são denominadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), sua transmissão é pela água ou por insetos e afetam os menos favorecidos e vulneráveis, principalmente nas áreas tropicais e subtropicais, responsáveis por milhares de internações no SUS a cada ano. Haja vista, também, não fechar os olhos para o recrudescimento: da tuberculose, hanseníase, sífilis etc. Esta é realidade desalentadora da saúde pública no nosso País.
Fala-se por aí, que o Brasil já é uma potência econômica mundial de primeira grandeza. Segundo tais análises, o Brasil realizou plenamente suas potencialidades e deixou, enfim, de ser um país do futuro. Abandonou o incômodo posto de "primeiro País do Terceiro Mundo", para ocupar o de "último do Primeiro Mundo".
Isto revela que a coincidência de circunstâncias específicas melhorou muito a posição relativa do Brasil no mundo - ou seja, subiu nosso status como país, em comparação com nossos problemáticos vizinhos e nossos concorrentes diretos como os gigantes gelados Rússia e China - cada um, à sua maneira, enfrentando a abertura estreita dos pescoços das garrafas sociais, econômicos e financeiros de monta. Como entender que chegamos ao Primeiro Mundo em termos absolutos - ou seja, não porque os outros pioraram, mas porque a qualidade de vida dos brasileiros melhorou?! Será que somos toda essa maravilha?
Poucos resistem e querem saber o porquê no mundo globalizado, com policiais insanos, que fazem parte da banda podre da polícia; educação deteriorada cumprindo uma história de carências e deficiências; a saúde sucateada, com hospitais superlotados e falta de equipamentos. Inflação nas alturas, alimentos com preços incompatíveis com a realidade. Tarifas bancárias e juros na estratosfera.
Parecem-nos que estas pessoas estão delirando, como se estivessem com o sintoma da febre. Nosso Guia, recentemente, afirmou que a auto-estima do brasileiro está em alta e compara a fase à dos "anos dourados". Navegam nas elucubrações e pintam um cenário de "céu de brigadeiro" de Primeiro Mundo. Onde, com certeza, só devem fazer vôos rasantes os mosquitos da dengue.

Sergio Barra é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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