sábado, 14 de março de 2009

Kit escolar: a notícia oficial é o termômetro oficial

Nada melhor do que um site oficial para funcionar como termômetro dos humores oficiais.
Dos humores e do estado de espírito.
Dos humores, do estado de espírito e das conveniências oficiais.
Não necessariamente nessa ordem, é claro.
Dê uma clicadinha aqui.
Quando clicar, você será remetido a um link no site da Agência Pará de Notícias. Marque o período de 1º de janeiro até 13 de março e escreva a palavra kit no campo ao lado de palavra-chave.
Veja o que apareceu e acompanhe.
Tudo começou bem.
No dia 13 de fevereiro, estava lá: Governadora entrega os primeiros kits escolares para estudantes.
Outra notícia no dia 16 de fevereiro: Estudantes da rede pública estadual recebem kit escolar. A foto que está aí em cima, da Agência Pará, é uma das que integram essa notícia. Aparecem Suas Excelências o chefe da Casa Civil, Cláudio Puty, a governadora Ana Júlia e, na extrema direita (sem qualquer coincidência ideológica, é claro), a secretária de Educação, Iracy Gallo.
Aliás, essa matéria começa assim:

“Mais do que realizar um investimento inédito na educação, estamos promovendo a inclusão social e conferindo dignidade às famílias que possuem filhos estudando na rede pública estadual de ensino”, afirmou a governadora Ana Júlia Carepa, ao explicar o investimento inédito que o governo está fazendo, ao entregar um kit escolar a cada aluno da rede pública estadual nos 143 municípios.

“Investimento inédito”? De quanto mesmo?
Até agora não se sabe.
Mas deixemos isso pra lá – por enquanto.
No dia 17 de fevereiro, outra notícia: Kits escolares e melhorias são entregues à comunidade.
No dia 19, mais uma: Alunos recebem kits escolares no Benguí e em Abel Figueiredo.
No dia 20, de novo: Governadora entrega kit escolar no Benguí e em Abel Figueiredo.
Chegou o dia 2 de março.
A partir daqui, a temperatura do termômetro oficial vai baixar.
A partir daqui, a biruta da festança vai mudar porque mudaram os ventos.

E como mudaram.
É que no dia 2 de março o blog fez as primeiras postagens sobre o assunto dos kits. A primeira postagem mesmo foi Kit escolar: entre o riso e a estupefação. Também nesse dia, estava lá no site da Agência Pará: Governo entre kits escolares na região dos Caetés.
Nos dias 3 e 7 de março, também foram publicadas notícias sobre o assunto.
E pronto. Foi até aí.
Observem que o facho começou a baixar depois que transpirou para as ruas, depois que foi ao encontro da luz do sol essa questão dos kits.
A partir do dia 7, o clima de festança acabou no site da Agência Pará.
E com um detalhe: a governadora Ana Júlia, que até então estava em todas as solenidades de entrega dos kits, sumiu delas.
E a partir de então, o site oficial, quando passou a se referir aos kits, publicou coisas assim: Deputados defendem campanha promocional em educação, que em tradução significa a versão parlamentar de uma confissão de culpa.
Ah, e ainda tem a notícia mais recente, de 11 de março passado. O título é Kits beneficiam mais de 500 alunos da escola Magalhães Barata.
Um dos trechos da matéria diz o seguinte:

Estímulo - A estudante Hérica Suelen, 20 anos, que cursa o 3º ano do ensino médio, ressaltou que não era comum, em governos anteriores, uma ação como essa nas escolas públicas. “Nem todo mundo tem condições de comprar uniformes. É menos um dinheiro que sai do salário dos pais”, reiterou.
O caráter inédito da ação também foi destacado por Danilo Arthur Pinheiro dos Santos, 15 anos, aluno do 1º ano do ensino médio. Para ele, além da diminuição dos custos, o material recebido é uma forma de os alunos aprenderem a valorizar mais o espaço escolar. “É um estímulo para o aluno valorizar a escola e até estudar mais”, enfatizou.


Hérica e Danilo.
Vocês não têm culpa de nada.
E vocês têm razões – 27,8 milhões de razões, 90 milhões de razões – para se regozijar com esse material que, sem dúvida, facilitará as atividades escolares de vocês.
Mas o melhor, Hérica, mas o melhor, Daniel, é que vocês não têm culpa alguma.
O melhor, Hérica e Danilo, é que vocês são inocentes.
Vocês e os colegas de vocês.
Só vocês são inocentes.

10 comentários:

  1. Como pode a AnaKits, segundo o Secretário Fabio Castro, conforme o Diário de hoje não saber das maracutaias da SEDUC e DOBRE M com as compras do kithonestidade. Como sempre este pessoal do PT não sabe de nada senão vejamos: nõ sabiam do mensalão, mas participavam dele, não sabiam das broncas nos fundos de pensão, mas participam dele, não sabiam da granosa dada pela Telemar ao Lulinha e assim por diante. A melhor coisa que AnaKits deveria fazer nesta hora era pedir para ir ao banheiro e cair fora. ´Nos paraenses não merecemos o governo que temos e tambem não sabemos escolher nossos governantes. A culpa tambem é nossa.

    ResponderExcluir
  2. A SEDUC bem que poderia colocar na sua grade curricular uma nova matéria - ENRROLAÇÃO: Esta máteria teriam como organizadores os PHDS: PUTY, ANAKITS, GALLO, FABIO CASTRO, PAULO CASTELO e o Oftalmologista DULCIOMAL, com esta turma ministrando as aulas todos logo saberiam como torrar o dinheiro que não lhe percencem sem fazer fôrça.

    ResponderExcluir
  3. Isso é tudo muito triste.

    Os alunos das escolas públicas dos países desenvolvidos não usam uniforme.

    Precisamos alterar culturas que servem apenas para alimentar o atraso a que estamos submetidos.

    Falta interesse público (ou, se não falta, é insignificante) na ação de dar ao aluno uma agenta, uma sacola e duas camisas.

    Cidadania ou educação não se alcança dessa maneira.

    Mais alimentação, pois ninguém aprende de barriga vazia, e capacitação dos professores seriam destinos melhores aos milhões gastos, pois certamente contribuiriam para solidificar a base educacional e, por fim, tornar a urna eleitoral mais inteligente.

    Brasil, uma País de todos! Especialmente para quem recebeu os milhoões pelo KIT.

    Avança Brasil!

    ResponderExcluir
  4. Se você der o pão a quem tem fome, ele agradecerá.
    Mas se você o ensinar a obter o pão, ele ficará eternamente grato.
    Se eu fosse o fiscal da lei ingressaria com ação de ressarcimento ao erário, pois é desvio de finalidade gastar tanto com coisas tão dispensáveis.
    Por acaso um aluno não pode ir a aula sem uniforme, apenas com sua identidade escolar?

    ResponderExcluir
  5. Sou educador e defendo o uso de uniforme escolar. Quem conhece a relaidade das nossas escolas. Sem segurança, sem funcionários, sem equipe pedagogica e as vezes sem direção. Praticamente funcionam apenas porque existe o professor e os alunos. Assim, o uso de uniforme escolar acaba sendo uma forma de identificação de quem é aluno da escola.
    A iniciativa é boa, pois nas áreas mais carentes, o aluno não tem vestuário e calçados minimamente dignos para frequentar a escola. Não vejo necessidade de agenda.Portanto , não queira comparar a realidade de outros países com a nossa. É paliativo, concordo e deve ser acompanhado de politicas estruturais.
    Agora nada justifica os caminhos tortuosos para sua aquisição, a despeito do reconhecimento que trata-se de uma ação importante.

    ResponderExcluir
  6. Concordo com o professor aí de cima: as realidades são diferentes, até entendo a necessidade de uniforme para os alunos. Mas agenda e mochila é pretexto pra fraturar um zinho. E a prova está na fórmula utilizada pelos petistas, quando torraram , segundo eles mesmo, quase 30 milhões de reais na compra de agendas e mochilas, de maneira irregular, sem licitação e ainda beneficiando uma agência de publicidade.
    Esse dinheiro todo seria, com certeza, melhor aplicado em programas educativos, no treinamento de professores e numa melhor estrutura educacional para os nossos alunos.

    ResponderExcluir
  7. E daí, anônimo das 13:33, um bandido pode adquirir (furtar) uniforme e entrar na escola.

    A identidade civil seria suficiente, e mais segura, para permitir o acesso, mas as pessoas gostam de complicar. Se for menor, bastaria a identidade escolar.

    Se a pessoa não tem roupa, não serão, convenhamos, duas camisas que suprirão essa necessidade. Imagine usá-las durante todo o ano letivo. Não esqueça que em Belém chove muito.

    Só um apaixonado pela atitude do governo ou o autor da idéia é que concordam com tudo isso.

    Outra: por que não devemos comparar a nossa realidade com a de outros países? O que não podemos é comparar nossa realidade com países pobres, porque deles só vamos aprender miséria.

    Parece que há pessoas que fazem questão em não acabar com as mazelas sociais, porque terão sempre um argumento para justificar a mudança no Poder político, especialmente quando já se tem a chave do cofre.

    Devemos, sim, buscar exemplos em países desenvolvidos, especialmente porque venceram a fase que atualmente estamos, a do subdesenvolvimnto. Será que você acredita que país emergente significa desenvolvimento?

    Recomendo ao anônimo ler o artigo da revista Veja, do Diogo Mainardi, intitulado "A inteligência brasileira" e perceba o quanto precisamos avançar em matéria de tecnologia, que só virá pelo caminho da educação, e depois indague se duas camisas, uma agenda e sei lá mais o quê dão autoridade para alguém gastar mais de quarenta milhões de reais nessa empreitada.

    Nem os caminhos honestos justificam esse gasto absurdo e despropositado.

    É de última. Infelizmente. Meus pêsames aos cofres paraenses.

    ResponderExcluir
  8. Anônimo das 13:33,

    Se a realidade das escolas, como você afirmou, é "sem segurança, sem funcionários, sem equipe pedagogica e as vezes sem direção", tais ausências me deram 40 milhões de motivos para achar que o anônimo das 17:09 está coberto, encoberto, cheio e entupido de razões para opinar que os 40 milhões foram usados de maneira absurda.

    ResponderExcluir
  9. Ter o Diogo Mainardi como guru isso sim é de última!

    ResponderExcluir
  10. Anônimo das 19:28, que deve ser o mesmo das 13:33.

    Aqui é o anônimo das 17:09, tudo bem?

    Não afirmei que o Diogo Mainardi é meu guru e nem dei a entender isto.

    Porém, mais vale ter referido jornalista como tal do que qualquer outro que eventualmente tente me convencer que a compra dos kits foi uma boa ideia ou que duas camisas vão resolver o problema - ou sequer amenizar - social paraense. Isto sim que é de última. Aliás, não é nem de última: é para lá disto, se é que é possível.

    Poderia pedir para você ler qualquer outro artigo que refletisse exatamente o subdesenvolvimento brasileiro, especialmente na área da educação, mas aproveitei o da revista Veja porque reflete o atraso de nosso País. Ou será que você pensa, como professor, que a somos desenvolvidos?

    Não são todas as pessoas que se deixam influenciar por uma ideia ruim, como a da aquisição dos kits. Mas há uma multidão que, a a pretexto agradar superiores defendem-na com unhas e dentes, o que não é, concerteza, o meu caso.

    Não se esqueça de ler o artigo do na revista Veja da semana passada.

    Adeus,

    ResponderExcluir