domingo, 30 de março de 2008

... E a viagem de núpcias acabou



Barack Obama, o astro pop da corrida eleitoral americana, perde três disputas, vira alvo de ataques e começa a cair na vida real. Apesar de equilibrado, o candidato democrata teve contra si, recentemente, vários fatos que o fizeram despencar.
O primeiro é que Antoin Rezko, rico especulador imobiliário que arrecadou 150 mil dólares para a campanha do candidato, e ao ajudar o amigo a comprar sua casa, adquiriu, numa operação até agora nebulosa, um lote ao lado da nova propriedade de Obama. Comentam nos arraiais políticos que Rezko cheira a enxofre de longe.
O segundo é o mais ferino até agora é o boato de que Obama também começou a experimentar o baque dos golpes abaixo da linha da cintura, quase sempre saídos da central republicana. Prosperam boatos de que Obama é muçulmano. Para reforçar, aparece foto dele com roupas tradicionais africanas e de turbante; nestas alturas, estava em viagem ao Quênia, terra natal de seu pai em 2006. A foto é verdadeira, mas a interpretação de que a vestimenta e seu portador são muçulmanos é uma parvoíce. Os trajes são típicos da etnia somali, e Obama é protestante.
O terceiro é que surge a denúncia de que um assessor econômico de Obama disse ao governo do Canadá que as críticas do candidato ao Nafta, o tratado comercial da América do Norte, não são para valer. Em Ohio, onde se acredita que o Nafta ceifou 250 mil empregos nos últimos anos, a acusação parece ter ajudado sua concorrente a vencer por um placar não muito elástico.
Finalmente, republicanos espalham que o pastor da Igreja de Obama em Chicago, Jeremiah A. Wright Jr., é conhecido por "violentas posições contra Israel". Não é verdade, mas na má política, lá como cá, o que conta é o estrago. Pela primeira vez desde que sua campanha pegou no tranco, há mais ou menos dois meses, Obama está agora na defensiva e dá entrevistas com um sorriso amarelo.
Vejam como são as coisas, pelo correspondente internacional André Petry de Houston, à revista Veja: "Barack Obama é a estrela da noite. Milhares de pessoas enfrentam um frio de mais de cinco graus para lotar o centro de convenções de Houston, no sudeste do Texas. A multidão queria vê-lo, ouvi-lo, aplaudi-lo e, se possível tocá-lo. No palanque, quem primeiro aparece é Michelle Obama, de terninho, recebida aos gritos de "primeira-dama". Ela fala pouco mais de quatro minutos e então anuncia: "É com prazer que apresento meu mariiidooo!". A musica aumenta, a multidão vai ao delírio, e Obama surge na passarela. Assume o posto."Boa noite, Houston!". A massa delira, a música zune, um mar de celulares o contempla. Trinta e nove minutos depois, ele desce da passarela para se inundar de povo".
No dia seguinte, a estrela perderia parte de seu brilho quando democratas de quatro Estados foram às urnas escolher o candidato presidencial - e, em três Estados, incluindo Texas e Ohio, a vencedora foi Hillary Clinton. Com a derrota, o político mais pop do momento foi apresentado à vida real: acabou sua lua-de-mel eleitoral, um estado de graça que se estendia aos adversários (que andavam com receio de criticá-lo), a boa parte da imprensa (que estava encantada com seu sucesso) e à maioria dos eleitores (que lhe deram 12 vitórias seguidas). Os golpes mais sentidos vieram de sua colega de partido. Diante da necessidade imperiosa de vencer no Texas e Ohio para manter sua candidatura em pé, Hillary, mostrou o fio de suas garras. Em um lance que pode ter sido eleitoralmente lucrativo, Hillary vitaminou sua campanha do medo, ressuscitando um anacrônico clima de guerra fria, e passou a apresentar-se como a mais equipada que Obama para governar num "mundo perigoso".
A ex-primeira-dama Hillary Clinton tem uma vantagem de sete pontos porcentuais sobre o rival, o senador Barack Obama, na preferência dos eleitores democratas em todos os Estados Unidos, segundo pesquisa do instituto Gallup divulgado esta semana. É a primeira vez que Hillary tem uma vantagem significativa desde a superterça, em fevereiro. Obama, no entanto, tem o maior número de delegados, segundo a contagem da Associeted Press. As prévias até aqui lhe garantiram 1.617 delegados, enquanto Hillary tem 1.499. Para garantir a nomeação do Partido Democrata, são necessários 2.025 delegados. Se (contrate este jogador) nenhum dos dois pré-candidatos atingir esse número, o que parece provável, a decisão ficará nas mãos de 800 "superdelegados" - membros da direção do partido, congressistas e governadores.
Por estas e outras, volto a dizer: ainda não me permito idéias de antecipação.

Sergio Barra é medico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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