Em todas as maquinações e tentativas de trapaças de Jair Bolsonaro para desacreditar o processo eleitoral - como é o caso de suas investidas para desacreditar as urnas eletrônicas -, o mais assustador é a incapacidade desse cidadão em apresentar elementos minimamente críveis para fundamentar suas alucinações.
Alucinações podem ser fundamentadas?
Podem.
Eu posso dizer, por exemplo, que é plenamente possível o sertão virar mar. Se alguém me disser que não tem como, eu posso objetar: "E se um tsunami levar as águas do mar até o sertão?".
Pronto. Esse é um ponto que eu posso desenvolver para justificar minha alucinação.
Bolsonaro, esse não.
Essa alegação que está sendo feita desde segunda-feira à noite, sobre suposta supressão - aos milhares - de peças de propaganda da campanha de Bolsonaro que deveriam ser, mas não teriam sido, veiculadas sobretudo em rádios do Nordeste, pode até ser verdadeira, no todo ou em parte.
Caberá ao TSE apreciar as ditas "provas" apresentada pelos bolsonaristas, apreciá-las, determinar, se for o caso, investigações e, caso se confirmem as transgressões, aplicar as sanções legais pertinentes.
Mas isso será um motivo para, como já estão defendendo aliados de Bolsonaro, adiar as eleições neste segundo turno?
Contem outra.
Há alguns pontos a destacar sobre este assunto:
1. É estranho que a suposta recusa das rádios em veicular peças da propaganda de Bolsonaro tenha sido trazida a público pela campanha do candidato apenas agora, ainda que esteja ocorrendo, conforme os próprios bolsonaristas, desde o primeiro turno. Por que não denunciaram logo?
2. A Resolução TSE nº 23.610/2019, que dispõe sobre propaganda eleitoral e utilização e geração do horário gratuito, atribui a responsabilidade de fiscalização aos partidos políticos, federações e coligações. E tanto é assim que a Justiça Eleitoral atribui às entidades políticas a apresentação dos planos de mídia. Cabe ao TSE, pura e simplesmente, disponibilizar as mídias num pool, para que as emissoras se abasteçam das peças que serão veiculadas, em dias, horas e número de inserções que as próprias emissoras definem. Repita-se, portanto: a fiscalização sobre a veiculação não é do TSE, mas das entidades políticas.
3. Informou-se hoje que o servidor Alexandre Gomes Machado, foi exonerado repentinamente do cargo em comissão de confiança de Assessor (CJ-1) da Secretaria Judiciária do TSE. Era ele quem monitorava as peças que formam o pool. Exonerado, ele dirigiu-se voluntariamente à Polícia Federal para denunciar, entre outras coisas, que já teria alertado o Tribunal, em 2018, para problemas semelhantes aos apontados pela campanhade Bolsonaro, referentes à veiculação de inserções de peças de propaganda eleitoral.
4. Em nota, o TSE explicou que a exoneração foi "motivada por indicações de reiteradas práticas de assédio moral, inclusive por motivação política, que serão devidamente apuradas". Acrescenta que "a reação do referido servidor foi, claramente, uma tentativa de evitar sua possível e futura responsabilização em processo administrativo que será imediatamente instaurado."
5. Em outro trecho, a nota garante que nunca houve nenhuma informação por parte do servidor de que, “desde o ano 2018, tenha informado reiteradamente ao TSE de que existam falhas de fiscalização e acompanhamento na veiculação de inserções de propaganda eleitoral gratuita”.
6. Já se sabe que o servidor compartilhou, em suas redes sociais, diversas postagens favoráveis à candidatura de Bolsonaro. Uma delas chegou a ser excluída do Facebook porque alega falsamente que a mulher do premiê do Canadá teria ironizado uma indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para a embaixada brasileira nos Estados Unidos.
7. Também já se sabe que uma das donas da rádio JM Online - que, segundo Alexandre Machado, "admitiu que havia deixado de repassar 100 inserções" da campanha de Jair Bolsonaro - fez campanha para o presidente e candidato à reeleição.
Resumo da ópera: Bolsonaro e os golpistas - declarados ou enrustidos - que acompanham acha que encontrou o motivo certo para rejeitar a livre manifestação das urnas.
Mas não encontrou.
Ele apenas está sendo quem é: um golpista que não admitirá jamais perder as eleições.
Foi assim Trump, o outro maluco golpista, fez nos Estados Unidos.
Bolsonaro segue o roteiro para imitá-lo.
Só sendo muito tapado ou no mínimo ingênuo, pra quê golpe se o Tribunal Superior de Exceção já o fez a muito tempo, atropelando na cara dura a constituição, só não esquece que a Nicarágua é logo ali.
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