Agente da Anvisa barra a continuidade de Brasil x Argentina, no Maracanã: de costas para a foto, para o bom senso e para a racionalidade no exercício das funções |
Como estamos às vésperas de arroubos patrióticos, que maldisfarçam as tentações golpistas, coleguinhas de vários veículos, inclusive alguns de audiência nacional, começam a achar que a Anvisa, ao contrário do que diziam há menos de 24 horas, saiu-se bem, muito bem, nas providências que desaguaram num escândalo, num vexame: a suspensão de Brasil x Argentina, muito embora a partida já tivesse começado havia quase cinco minutos.
Coleguinhas que estão reformulando suas opiniões incorrem, sem brincadeira, numa patriotada.
Isso porque, definitivamente, a Anvisa criou uma grande e inexplicável confusão, muito embora, admita-se, tenha andado bem ao fazer cumprir os regramentos relativos ao controle da pandemia.
Os quatro jogadores argentinos fizeram uma malandragem, ao informar falsamente que não estiveram no Reino Unido?
Fizeram. E não só fizeram, como já estão sendo investigados pelo suposto crime de falsidade ideológica.
A Anvisa fez bem ao exigir que fossem postos em quarentena, conforme previsto em portaria interministerial em vigor desde junho, à qual devem sujeitar-se passageiros que passaram pelo Reino Unido, África do Sul, Irlanda e Índia?
Sim. A Anvisa fez muito bem.
É inadmissível, todavia, que agentes da Anvisa não tenham impedido que a partida começasse, uma vez que, conforme relatos da Agência, os argentinos estavam, literalmente, recusando-se descaradamente a cumprir a quarentena.
E se os agentes da Anvisa quisessem impedir o início do jogo, era muito simples: bastava notificar formalmente o delegado da Conmebol, presente na arena do Corinthians, que nenhum dos quatro atletas poderia entrar jogando, sob pena de responsabilização da própria entidade, por desobediência aos protocolos sanitários em vigor no Brasil.
Mas não.
A Anvisa não fez nada disso.
Ou melhor, até que fez, mas no momento inadequado, ou seja, quando a partida já estava em andamento.
Então, é isso: a Anvisa merece aplausos por ter-se mostrado inflexível na execução de suas competências, mas merece reprovação geral pelos atropelos no exercício de tais competências.
A hora é esta, o bicho vai pegar.
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