quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Com seus protocolos eleitorais, a Globo contraria injustificadamente a própria Globo

Repórteres da Globo com máscara: protocolos elogiáveis são contrariados
por outros, de naureza eleitoral, no mínimo discutíveis 

A Globo, ao que se informa por aí, estabeleceu seus protocolos de cobertura com os candidatos a cargos majoritários às próximas eleições.

Uma das mudanças, em relação aos anos anteriores à pandemia: não haverá debates, no primeiro turno, com mais de quatro candidatos, para evitar aglomerações.

Outra: foram suprimidas as tradicionais entrevistas individuais com os aspirantes ao cargo de prefeito.

A Globo, justiça se faça, tem adotado procedimentos elogiáveis durante essa pandemia, inclusive para proteger seus profissionais, obrigados a usar máscara em suas externas e, na medida do possível, transferir o microfone para o próprio entrevistado segurá-lo enquanto fala, em respeito ao mínimo distanciamento.

Palmas à Globo.

Mas, em relação aos anunciados protocolos para a cobertura eleitoral, a Globo deveria, em nome da transparência que deve à opinião pública e em homenagem à lógica, razoabilidade e racionalidade, explicar-se melhor. Bem melhor.

Quanto aos debates com mais de quatro candidatos, admita-se com muito, mas com muito esforço, que evitá-los com mais de quatro candidatos presentes presencialmente é acertado, já que seria uma temeridade facilitar aglomerações, neste momento em que a pandemia oferece apenas pálidos sinais de que começa a ceder.

Mas, sem muito esforço, mesmo esse protocolo limitado a quatro candidatos é injustificável. E quem demonstra que é injustificável? A própria Globo, ora bolas.

Durante o período inteirinho da pandemia, inclusive no seus picos, a GloboNews (que segue os mesmíssimos padrões da Globo), promovia, quase todo dia, o dia inteiro, debates com cinco, seis especialistas para discutir aspectos da doença. Cada um dos debatedores na sua casa, é claro.

Por que a Globo não poderia fazer o mesmo, por exemplo, com os 12 candidatos à Prefeitura de Belém? Ou mesmo com cinco, seis ou sete?

Qual o problema de cada um desses baluartes ficar em sua própria casa, em seu próprio escritório, na sede de seu próprio partido, e participar de um debate?

Qual seria a diferença desse procedimento em relação aos debates que a GloboNews faz?

E em relação às entrevistas?

Pior ainda. Aí mesmo é que a ausência de justificativas da Globo para suprimi-las torna-se mais chocante e clamorosamente inaceitável.

A Globo, em todos os seus telejornais, usa em certas reportagens quatro, cinco e até mais entrevistados para repercutir os assuntos abordados.

Cada um dos entrevistados, é claro, está no seu próprio ambiente, a trocentos quilômetros de distância da Globo.

Qual a diferença desse procedimento em relação a entrevistar um candidato a prefeito?

Quais os riscos ou quais as dificuldades operacionais que haveria em entrevistar-se cada um dos candidatos a prefeito de Belém, por exemplo, se cada um permanecesse em sua casa, conectado com a transmissão ao vivo?

E de programas como o do Bial - que permanece em casa, até porque é do grupo de risco, mas entrevista tranquilamente  as pessoas, cada uma também em sua casa -, o que dirá a Globo para explicar a diferença com entrevistas individuais com candidatos?

Esse tema é dos mais relevantes porque, a meu juízo, os debates e as entrevistas individuais que emissoras de TV promovem - não apenas a Globo, vale dizer - representam o meio mais eficaz, ou menos ineficaz, se quiserem, para que o eleitor possa aferir a viabilidade das propostas que os candidados apresentam para o País, para um estado ou para um município.

Por quê?

Porque os debates permitem o contraditório - seja de um candidato com outro, seja de candidatos com entrevistadores das próprias emissoras.

Ao contrário, os programas eleitorais veiculados no horário gratuito do TSE, muito embora vários deles sejam reconhecidamente de alto nível profissional, não passam de um monólogo, não é? Um monólogo que sempre converge para atender, evidentemente, ao propósito de projetar a imagem e as propostas de um candidato qualquer.

Por isso, é de se lamentar que a Globo, ao eleger seus protocolos eleitorais, esteja contrariando frontalmente - e injustificadamente - os protocolos que a própria Globo, rotineiramente, observa em seus telejornais e outros programas de entretenimento.

Um comentário:

  1. Temos hoje, no Brasil, 33 partidos políticos registrados junto ao TSE. Possivelmente amanhã ou depois de amanhã, apareça mais um. Desses, 24 têm representação na Câmara dos Deputados, mas alguns deles com apenas 1 ou até 6 deputados, o que bem dá a dimensão da sua grandeza, ou melhor, da sua pequeneza( a palavra é estranha mas existe).

    A verdade é que , uma grande parte desses partidos, pode ser nominada como "partido de aluguel", onde dirigentes mal intencionados só têm olhos para as verbas do Fundo Partidário ou dos Fundos de Campanha, além das inevitáveis negociatas na composição de coligações, onde uma adesão pode representar , por um lado, alguns segundos a mais na propaganda eleitoral, e, por outro, alguns milhares a mais no bolso de alguns.

    Creio que o formato de debates já está ultrapassado de há muito. Não há cabimento em se formular uma pergunta como : quais suas propostas para a saúde no município? " e o candidato ter 1 ou 3 minutos para responder.

    No meu modesto entender, entrevistas sim seriam o ideal. Se as TVs fizessem entrevistas de 1 hora com cada candidato, certamente os eleitores teriam melhores condições para decidir o seu voto. Entretanto, tal modelo impede as perguntas diretas entre candidatos , que ficam restritas aos entrevistadores, nem sempre pessoas isentas para tal função.

    Ainda que o processo eleitoral anteveja condições iguais a todos os partidos, há que se dar uma solução melhor aos debates, pois não há como funcionar com 12-15 candidatos que, em 1:30h ou 2:00h, precisam responder e questionar os adversários em 1 minuto ou dois. Não tem funcionado. Para não falar dos candidatos "escada", que só levantam a bola para o seu candidato "parceiro".

    Fica até difícil entender a igualdade de condições nas TVs quando vemos a posição de cada uma delas no dia-a-dia . Umas, defendendo com unhas e dentes o Bolsonaro, outras agora brigando com ele por causas diversas, outras se vendendo por alguns jogos de futebol e um cunhado ministro, etc, etc.

    A pandemia nos fez descobrir novas formas de comunicação, seguras e bem produtivas, como as reuniões online, via plataformas como o Zoom e outras. Creio que , em breve, a internet(não a TV) aprimorará a questão dos debates ou das entrevistas.

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