terça-feira, 30 de julho de 2019

A verdade é um insulto a Bolsonaro. Bolsonaro é um insulto à verdade.


Você quer insultar Jair Bolsonaro?
Confronte-o com a verdade.
Você quer ver Bolsonaro sair dele?
Apresente-o à verdade.
Você quer deixar Bolsonaro transtornado?
Exponha-o à verdade.
Você quer ver Bolsonaro sentir-se agredido?
Atire-lhe a verdade nas ventas.
Você quer ver Bolsonaro escabujar seus ódios, seus ressentimentos, seus preconceitos?
Ministre-lhe doses - homeopáticas que sejam - de verdade.
A verdade, para Jair Bolsonaro, é um insulto, uma agressão, um ato de traição.
Jair Bolsonaro, ele mesmo, em carne e osso, é um insulto à verdade.
Ele é a verdadeira personificação do insulto à verdade.
Veja os dois últimos exemplos, de tantos que se encontram aí, pra qualquer um conferir.
No dia 19 deste mês, uma sexta-feira, Bolsonaro recebeu um grupo de jornalistas estrangeiros para um café da manhã. Os jornalistas cobraram do presidente um comentário sobre o ato de intolerância de que foi vítima a jornalista Miriam Leitão, desconvidada de uma feira literária em Jaraguá do Sul (SC) da qual ela e o marido, o sociólogo Sérgio Abranches, participariam.
O desconvite ocorreu depois de ameaças de agressão de bolsonaristas à jornalista e ao marido.
Bolsonaro disse que sempre foi a favor da liberdade de Imprensa e que críticas devem ser aceitas numa democracia. Mas, depois, afirmou que Miriam Leitão foi presa quando estava indo para a Guerrilha do Araguaia para tentar impor uma ditadura no Brasil. E repetiu duas vezes que a jornalista mentiu sobre ter sido torturada e vítima de abuso em instalações militares durante a ditadura militar que governava o país então.
Não. Ela não mentiu.
Bolsonaro, sim, mentiu.
Miriam Leitão nunca participou ou quis participar da luta armada. À época militante do PCdoB, ela atuou em atividades de propaganda.
Miriam foi presa e torturada, grávida, aos 19 anos, quando estava detida no 38º Batalhão de Infantaria em Vitória. No auge da ditadura de 64, em 1973, Miriam denunciou a tortura perante a 1ª Auditoria da Aeronáutica, no Rio, enfrentando todos os riscos que isso representava na época.
Narrou seu sofrimento aos militares e ao juiz auditor e esse relato consta dos autos para quem quiser pesquisar.
Essa é a verdade, diante da qual Bolsonaro sente-se agredido, insultado, envilecido, vilipendiado, humilhado e descontrolado, escabujando seus ódios.
Culpa dele?
Não. Culpa da verdade, que ele não tolera.
Outro exemplo, o desta semana.
Ao reclamar sobre a atuação da OAB na investigação do caso de Adélio Bispo, autor do atentado à faca do qual foi alvo, Bolsonaro atacou de forma vil, cruel, sórdida, o presidente da Ordem e a memória de seu pai.
"Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB? Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele", disse o presidente.
E contou.
"Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro", disse Bolsonaro.
Mentira.
Bolsonaro mente – descaradamente, despudoradamente, compulsivamente, incontrolavelmente.
Um documento secreto da Aeronáutica – da Aeronáutica, prestem bem atenção, não é um documento da comissão A ou B, nem da Imprensa, mas de uma força armada do País - desmente a versão do presidente.
O relatório secreto RPB 655, do Comando Costeiro da Aeronáutica (veja na imagem), atesta que o estudante foi preso pelo regime em 22 de fevereiro de 1974, no Rio de Janeiro. Anexado ao relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), o documento, comprova que Santa Cruz estava sob custódia do Estado quando foi assassinado.
Ele havia saído de casa para encontrar um amigo de infância, Eduardo Collier Filho, e havia dito à família que, caso não voltasse até as 18 horas daquele dia, “provavelmente teria sido preso”. Também militante contra a ditadura, Collier igualmente desapareceu.
Essa é a verdade, diante da qual Bolsonaro sente-se agredido, insultado, envilecido, vilipendiado, humilhado e descontrolado, escabujando seus ódios.
Culpa dele?
Não. Culpa da verdade, que ele não tolera.

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