O que é apavorante não é apenas esse decreto –
horroroso, pavoroso, tenebroso, aterrorizante – que flexibiliza a posse de
arma.
Apavorante também são argumentos – toscos,
desconectados da realidade, insensatos e irresponsáveis – como o do ministro-chefe
da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, na tentativa de convencer os governados pelo
Capitão de que uma insanidade, como esse decreto, não é uma insanidade.
“Às vezes, a gente vê criança pequena que coloca
o dedo no liquidificador, liga o liquidificador, vai lá e perde o dedinho. E
daí, nós vamos proibir o liquidificador? É uma questão de educação e de
orientação. Nós colocamos isso (no texto do decreto) para mais uma vez alertar
e proteger as crianças e os adolescentes”, diz Onyx.
Ministro, liquidificador não é feito para matar.
Uma arma é.
Uma porta, que também pode apertar um dedinho da
criança, não é feita para matar.
Uma arma é.
Uma tomada, que pode calcinar o dedinho de uma criança,
não é feita para matar.
Uma arma é.
Uma cadeira, que pode esmagar o dedinho de uma
criança, não é feita para matar.
Uma arma é.
Um brinquedinho qualquer, mais pesado, também
pode lesionar o dedinho de uma criança, mas não é feito para matar.
Uma arma é.
Onyx Lorenzoni não está no mundo para matar, é
claro.
Mas essa sua, digamos assim, formulação mental é
de matar.
E,
a rigor, precisaria ser guardada num cofre ou num lugar bem seguro, para nos
resguardar de sua letalidade.
Lorenzoni é do baixo clero. O Bolsonaro é do baixo clero. Os generais seriam do alto clero?
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