Do JOTA
Uma advogada, minha filha, que se envolve
emocionalmente no processo é uma advogada desqualificada. O advogado dá uma
assessoria técnica e somente. Você se queimou comigo. Lamento dizer, você está
começando agora… se queimou comigo”. “Como é que a OAB dá um título a uma
pessoa que não está qualificada para exercer a profissão?”.
Foi desta maneira que
o juiz Joaquim Solón Mota Junior, da 2ª Vara de Família da Comarca de
Fortaleza, se dirigiu à advogada Sabrina Veras, durante uma audiência.
Desde o dia 23 de
novembro do ano passado, a advogada havia juntado num processo um pedido de
tutela de urgência para que duas crianças que sofriam violência da mãe tivessem
a guarda transferida para o pai. Mas, sempre que procurava o juiz, ela diz que
era informada de que ele estava ocupado. Em janeiro, contudo, uma das crianças
morreu, antes que o juiz avaliasse o caso.
Segundo a advogada, ao
procurar o magistrado para pedir celeridade no caso, ela “sempre era informada
que o senhor estava ocupado, tanto que chega um tal dia que eu vim e esperaria
o dia inteiro”. Ao narrar o caso ao magistrado, chegou a chorar ao relembrar a
morte de uma das garotas. “Isso me tocou muito, se não toca outras pessoas, não
sei”, disse chorando.
Na última
quinta-feira, o magistrado repreendeu a advogada ao tomar conhecimento de que
ela estaria responsabilizando a equipe da 2ª Vara da Família pela morte da
criança. Ao ouvir da advogada que a irmã de quatro anos havia gravado um vídeo
dizendo que não queria mais ficar com mãe, o juiz respondeu: “Uma criança de
quatro anos tem discernimento? Vai interferir num posicionamento de um juiz?”.
O magistrado, então,
deu um recado à advogada durante a audiência:
“Você tem idade de ser
minha filha e não desmentiu a versão que ela tinha dito aqui de que você saiu
propagando aí que elas tinham matado a criança. Isso é um ato absolutamente
irresponsável, além de criminal. Na hora que elas me contaram isso, eu mandei
as duas ir registrar uma ocorrência na delegacia e abrir um processo contra você.
Esse favor você vai ficar devendo a elas a vida toda, não tem como. Qual é o
conselho que eu dou a você? Uma advogada, minha filha, que se envolve
emocionalmente no processo é uma advogada desqualificada. O advogado dá uma
assessoria técnica e somente. Você se queimou comigo. Lamento dizer, você está
começando agora… se queimou comigo. E vai se queimar com tantos quanto eu fale
essa história. Não é assim que se trabalha. A gente tem que ter maturidade para
agir como profissional, ser técnico, agir com polidez, com educação, como seu
colega e sua colega agiram durante toda audiência. Então, só queria advertir a
você: eu não vou mais permitir da sua parte que trate mal alguma assessora
minha ou alguém da 2ª vara. Porque aí sou eu que vou levar o caso par aa OAB.
Está entendendo? Como é que a OAB dá um título a uma pessoa que não está
qualificada para exercer a profissão? Então era isso que eu queria dizer a
você, não ia dizer na frente do povo, mas queria dizer a você. Não continue
assim porque você vai prejudicar a sua profissão. É um conselho que eu dou a
você. Eu vou atribuir à sua imaturidade, à sua ingenuidade, à sua pouca
vivência da prática, mas sair propagando que passoa A e B matou outra… Eu acho
isso muito sério. Eu não teria deixado por menos. E esse favor a senhora vai
ficar devendo à doutora Lidiane e à doutora Milena, tá certo?”
A OAB-CE afirmou vai
requerer providências junto ao Conselho Nacional de Justiça e à Corregedoria do
Tribunal de Justiça do Estado para apurar os fatos e tomar medidas por justiça
e evitar novas afrontas aos advogados cearenses.
A Associação Cearense
de Magistrados (ACM) apoiou o juiz e disse ser “inadmissível tornar pública
conversa que trata de um processo que corre em segredo de justiça, violando a
própria lei”.
O JOTA procurou
tanto o juiz quanto a advogada, mas não obteve retorno de nenhum dos dois até a
publicação desta reportagem.
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