Vocês sabem a liberdade de expressão, esse valor fundamental, alicerçante,
incontrastável que os regimes democráticos prezam tanto?
Pois é.
A liberdade de expressão é mesmo ótima. Mas é
sempre melhor quando é só pra gente, né?
E outra coisa: monturos de areia espalhados como
se fossem pequeníssimos castelos, espalhados simetricamente na ampla sala de um
museu. Isso é arte?
Um personagem que simula – ou seria incorpora? – um macaco em meio a jantar
com a presença de ricaços exaltados como mecenas da arte. É arte? Até mesmo
quando ele, o personagem, acaba avançando além de todos os limites previsíveis?
Promover a arte, num ambiente político em que a
liberdade de expressão é valor maior, quase intocável, autoriza a veiculação de
mensagens carregadas de odiosos preconceitos, que podem dar ensejo ao
extravasamento de violências brutais contra minorias?
Essas questões são abordadas de forma magistral
em The Square – A arte da discórdia, grande
vencedor da Palma de Ouro no festival de Cannes de 2017, que propõe um debate
dos mais interessantes sobre o alcance da arte enquanto promotora de mudanças e
reflexões sociais.
Assisti ao filme no último sábado, no Cine
Líbero Luxardo, na sessão das 17h30, tendo que tolerar, atrás de mim, uma
mulher que riu o tempo todo – do início ao fim. Era um risinho nervoso, que não
parou nem mesmo durante uma tórrida cena de sexo. Sei lá se a espectadora foi
tomada, digamos assim, de um certo encabulamento,
mas continuou rindo. Do início ao fim – da cena e do filme.
De fato, o diretor sueco Ruben Östlund (“Força Maior”)
reveste de uma boa dose de bizarrice certas situações delicadas. Mas o faz,
certamente, para estimular reflexões sobre os ridículos a que conduz o
politicamente correto, neste mundo cada vez mais infestado por exibicionismos e
hipocrisias, como as que invadem as redes sociais em proporções tsunâmicas.
Aliás, as redes sociais, como canais para a
veiculação de mensagens que dão mais relevância ao impacto que poderão causar
do que propriamente ao conteúdo, também estão presentes em The Square.
O melhor filme a que assisti do ano passado até
agora.
Vejam logo.
E se você ouvir, atrás de você, um risinho
nervoso, esqueça. Faz parte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário