segunda-feira, 30 de outubro de 2017
Estamos reféns da bandidagem
SERGIO BARRA
O governo proclama aos quatro ventos, com retórica esfuziante, que estamos em inédita prosperidade. Que estamos crescendo em todos os setores. Mas não declara corte nos gastos com a segurança, saúde, educação e em alguns importantes investimentos de interesse da população. Mas a farra na Corte continua. Na quarta-feira, 25, na sessão para votação da segunda denúncia contra o presidente Temer e dos ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha - estes, acusados de organização criminosa e obstrução de Justiça - a negociação política para barrar as duas denúncias criminais teve um custo de R$ 32,1 bilhões para evitar derrota na Câmara. Esse é o montante das diversas concessões e medidas do governo negociadas com parlamentares entre junho e outubro, desde que Temer foi denunciado pela primeira vez, por corrupção passiva, até a votação desta quarta-feira. O povo que acompanhou esse triste espetáculo, sabia que não teria surpresas. Mas sabe-se que estes custos serão cobrados mais adiante.
Enquanto isso, a aridez arrebatadora da paisagem carioca, tem repercussão em toda comunidade brasileira e quiçá mundial; são assaltos diários, sequestros relâmpagos, execuções orquestradas, desrespeito às instituições, nada mais surpreende. Na verdade, estamos ao longo do tempo, com a sensação de que nosso País navega no mar da impunidade, com mensaleiros, sanguessugas, a turma da rapinagem atordoada pela Operação Lava Jato, trânsfugas de todas as espécies flagrados com a mão na massa e, o que nos causa espécie, grande parte continuam livres e soltos. Isso só vem a confirmar a tese de que o Brasil é, por excelência, um território sem lei e da desobediência explícita.
Agora, a linha de frente da bandidagem criou um problema pelo comando do tráfico na favela da Rocinha. Lá os tiroteios são uma constante. Há um enfrentamento entre duas facções que, ao se digladiarem, promovem toda espécie de desordem e sempre terminam em morte de bandidos, de policiais militares e de inocentes. Os chefes do tráfico continuam dando ordens de dentro dos presídios e mais do que nunca senhores de si e dão ênfase ao fato de que, como eles, parlamentares também roubam e se utilizam de meios escusos para tirar proveito em causa própria, deixando no ar a dúvida: qual a diferença de um bandido e outro? A injustiça causa dor. Estamos diante de um enredo penoso, nutrido em grande parte por ignorância, incompreensão, hipocrisia, recalques e retórica.
E sempre batemos na mesma tecla. Nós, seres humanos, temos limites, vivemos em sociedade. Cada um de nós coopera para a manutenção de uma mínima harmonia, sem a qual, provavelmente, nossa espécie não sobreviveria. Isso não se trata de idealismo: vontades que poderiam nos colocar uns contra os outros são freadas por um estranho dispositivo: a empatia. Ela é a capacidade de nos colocarmos no lugar do próximo e nos sensibilizarmos com o sofrimento a que nossos atos possam levá-lo. Quando se faz o bem, isso é lenitivo.
Infelizmente, uma turma resolveu seguir a trilha do banditismo. Ou seja, seguiu outra vertente, uma evolução aleijada da empatia. São cidadãos com traços fortes de morbidade que, sem o menor pudor fazem aumentar a criminalidade e, principalmente, o tráfico de drogas. Essas pessoas doentes são em sua maioria psicopatas. Eles são diferentes, embora dotados da mesma racionalidade que nos define como espécie. Há também aqueles parasitas que se associam a outros organismos criminosos para tirar os meios com que eles sobrevivem. Podem enfraquecer o hospedeiro, mas lhes interessa que ele continue vivo, para que sigam alimentando-se dele lentamente. As ações voltadas a atacar a economia movimentada pela criminalidade, secar as fontes de receitas e recuperar a confiança da comunidade continuam sendo mais eficazes.
Sergio Barra é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
Pena de morte, prisão perpétua, mais direitos do cidadão e menos direitos dos bandidos (mais conhecidos eufemisticamente como humanos e criados na origem para proteger autoridades corruptas), inexistência de progressão para crimes hediondos, penas maiores, leis mais severas para o bandido do colarinho branco, obrigatoriedade de renúncia do ocupante de cargo político e judicial investigado em inquérito, limites à presunção de inocência (para condenados), tolerância zero à criminalidade etc. Por fim acabar com a ideia de ressocialização: é para a minoria. A gigantesca maioria deve ser isolada da sociedade porque será impossível ressocializá-la. O resto é paliativo. Sem isso não adianta nem educação de primeiro mundo.
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