SERGIO BARRA
Faz muito tempo e acredito que lá pelo no início
dos anos 1960, quando o cinema Nazaré exibia – durante uma quinzena –os grandes
Westerns, exatamente na época do Círio, vindos dos grandes estúdios da terra de
Tio Sam,tive o prazer de ver a culminância do faroeste americano ao assistir o
filme chamado Shane. Esse maravilhoso
clássico de George Stevens, de 1953, que no Brasil foi afligido pelo medonho
título de Os Brutos Também Amam. Agora, pense em Shane, instala-se na
intimidade do pequeno universo de uma família rancheira – pai, mãe, filho – que
acreditou no chamamento democrático da corrida para o Oeste. Uma pequena
propriedade, que digamos, poderia se chamar de uma pequena chácara, onde
praticam a arte modesta da autossuficiência, requinte daquele individualismo
incrustado na alma dos norte- americanos
Essa vivência pacífica, nesse microuniverso
idealizado, pastoril, de agreste simplicidade, é severamente ameaçada, porém,
pelo mundo em seu entorno. São estancieiros de muitas terras e muito gado que
cobiçam e querem anexar o pequeno oásis dos Starrets e, obviamente, estão
dispostos a usar, nesse sentido, o argumento persuasivo dos pistoleiros de
aluguel. Aquele velho esquema de livre iniciativa versus latifúndio – essas
umas das mais repetidas chaves simbólicas do western de Hollywood.
Aí, como que enviado pelos céus, surge Shane,
cavaleiro de passado obscuro, mas disposto a trocar o ofício das pistolas por
um trabalho pacífico e uma refeição conveniente. Acolhido pela família e, em
especial, pela curiosidade infantil de Joey, Shane esconde suas pistolas. A
Joey, que quer aprender a atirar, diz: “A pistola não é boa e nem má. Bom ou
mau é o homem que a empunha”. Shane faz o tipo caladão, ele é o típico
justiceiro da pradaria, ele percorre a trilha problemática de herói fora de
lugar, pária involuntário, um aventureiro perseguido pelos tormentos de sua
inadaptação social.
Contudo, a bancada ruralista não lhe dará
trégua. Todos sabem, o oeste é bravio, assustador, palco de uma terra sem lei,
os inimigos não iam lhe dar sossego, são muito poderosos e insaciáveis – com
certeza, os mais fortes e menos escrupulosos acabarão por açambarcar a
soberania de todo o território. Quem viu o filme, percebe quando a câmara
tensiona a ação ao se posicionar na altura do garoto Joey. O pai e o hóspede se
engalfinham antes que Shane, de novo investido de seu inescapável desígnio de
pistoleiro, vá desafiar as forças da ganância – ou seria melhor escrever, “do
mercado”.
Podemos até dizer que já vimos este filme. O que
o western clássico pode nos alertar sobre a devastação na Amazônia?Revista de
circulação nacional, informa que o problema atual é real, os 4 milhões de
hectares da chamada Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), que o
governo Temer pretende retirar do patrimônio da União para serem entregues ao
portfólio da devastação na Amazônia, são territórios pretensamente dedicado à
exploração de minérios e foi por isso o que os beneficiários do governo
anunciaram, no exterior, com antecedência de meses, aos supostos interessados
nas várias unidades de conservação localizadas na fronteira entre o Pará e o
Amapá.
Mas, um esperto estalido se fez ouvir no Jaburu
e, um recuo preciso tornou-se indispensável – sem juízo definitivo, o decreto
deve ser revogado – mas, termine como terminar essa novela, o pêndulo não
esconde que a intenção é liberar a Amazônia para interesses estranhos. O
professor Daniel Chaves, da Universidade Federal do Amapá, diz: “A privatização
da reserva Renca produz outros riscos temerários, ambiental e socialmente para
a região do vale do Jari e Noroeste do Pará”. Na verdade, a defesa dos
indefesos é um tema recorrente. Já ideias políticas complexas, não – elas não
cabem nas sagas relativamente simples dos caubóis.
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SERGIO BARRA é médico e professor
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