Essa fotografia registra um momento brasileiro bonito e de aparente paz. Não mostra nenhum bandido, seja de colarinho branco e/ou com arma na mão.
Fotografia, Paralelepípedo, Bicicleta, Brasil, Lembranças, Esperança...
Essa foto me fez lembrar da minha adolescência em Caçapava (SP). Isso, entre 1960 e 1965. Em 1966, cumpri o Serviço Militar no 6º RI, o glorioso Regimento Ipiranga que integrou a FEB nos campos da Itália.
Senti saudade da bicicleta que eu usava quando era Office Boy do escritório de advocacia, administração predial e cobranças. Eu pedalava por ruas e travessas pavimentadas com paralelepípedos, ou simplesmente ao natural, de terra. Pedalava quase sempre assobiando e em muitos trechos sem segurar o guidão, desviando de pedestres e dos poucos veículos estacionados apenas com os movimentos de inclinação do corpo sobre a bicicleta. Vez ou outra levava um tombo e algumas raladas.
Eu cobrava aluguéis, prestações de lotes de terreno, duplicatas de lojas, entregava e buscava documentos. Cobrava gente desde boa pagadora e até caloteira. Cobrava aquela mulher que exercia sua profissão desfilando linda e facilmente pela calçada lindeira da Praça da Bandeira, mas era difícil na hora de pagar o aluguel; ou, o Oficial que eu ia cobrar e, se fosse quase ao final do expediente no quartel, não era incomum que eu o abordasse e mesmo que ele estivesse em plena partida de tênis e com outros oficiais presentes. A mesma facilidade que tinha para jogar tênis não se repetia quando tinha que pagar o aluguel da casa. Como era comum ir ao quartel para fazer cobranças, eu entrava e nem precisava ser acompanhado por algum guarda, apesar de já estarmos em pleno regime militar e de atenção redobrada, Segurança Nacional, etc....
Depois do meu expediente no escritório era comum participar das peladas jogadas em ruas de terra e até no paralelepípedo. Melhor ainda, quando reuníamos um grupo grande e íamos para o campo rapadão. E um importante detalhe: todos de pés descalços.
As topadas no paralelepípedo ou nalguma solitária touceira não perdoavam o dedão do meu pé esquerdo, para o deleite vingativo da eterna vítima dos chutes de uma maioria perna de pau. Sim, aquela que raramente era saciada em seus desejos e prazeres que sentia quando acariciada pelos toques dos pés de um possível futuro e famoso craque: a bola de capotão. Ou, na falta de uma de capotão, também servia uma bola de borracha que, invariavelmente, estava murcha e, antes de cada chute que levava, parecia que nos olhava com uma cara triste, de inferiorizada e discriminada à espera da proteção de um idealista e futuro “líder social” que, infeliz e invariavelmente, viria a ser mais um exímio na arte da vida fácil às custas dos recursos públicos, sociedades entre público e privado, durante e fora do expediente...
Concluindo. Que em futuro não muito distante essa fotografia seja atualizada com pessoas nas ruas e expressando bem-estar, graças à Nação revigorada, livre de males e desamores, em plena paz, justa e respeitada por todos.
AHT 25/08/2017 (Dia do Soldado) Texto revisado - 29/08/2017
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ResponderExcluirEssa fotografia registra um momento brasileiro bonito e de aparente paz. Não mostra nenhum bandido, seja de colarinho branco e/ou com arma na mão.
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Essa foto me fez lembrar da minha adolescência em Caçapava (SP). Isso, entre 1960 e 1965. Em 1966, cumpri o Serviço Militar no 6º RI, o glorioso Regimento Ipiranga que integrou a FEB nos campos da Itália.
Senti saudade da bicicleta que eu usava quando era Office Boy do escritório de advocacia, administração predial e cobranças. Eu pedalava por ruas e travessas pavimentadas com paralelepípedos, ou simplesmente ao natural, de terra. Pedalava quase sempre assobiando e em muitos trechos sem segurar o guidão, desviando de pedestres e dos poucos veículos estacionados apenas com os movimentos de inclinação do corpo sobre a bicicleta. Vez ou outra levava um tombo e algumas raladas.
Eu cobrava aluguéis, prestações de lotes de terreno, duplicatas de lojas, entregava e buscava documentos. Cobrava gente desde boa pagadora e até caloteira. Cobrava aquela mulher que exercia sua profissão desfilando linda e facilmente pela calçada lindeira da Praça da Bandeira, mas era difícil na hora de pagar o aluguel; ou, o Oficial que eu ia cobrar e, se fosse quase ao final do expediente no quartel, não era incomum que eu o abordasse e mesmo que ele estivesse em plena partida de tênis e com outros oficiais presentes. A mesma facilidade que tinha para jogar tênis não se repetia quando tinha que pagar o aluguel da casa. Como era comum ir ao quartel para fazer cobranças, eu entrava e nem precisava ser acompanhado por algum guarda, apesar de já estarmos em pleno regime militar e de atenção redobrada, Segurança Nacional, etc....
Depois do meu expediente no escritório era comum participar das peladas jogadas em ruas de terra e até no paralelepípedo. Melhor ainda, quando reuníamos um grupo grande e íamos para o campo rapadão. E um importante detalhe: todos de pés descalços.
As topadas no paralelepípedo ou nalguma solitária touceira não perdoavam o dedão do meu pé esquerdo, para o deleite vingativo da eterna vítima dos chutes de uma maioria perna de pau. Sim, aquela que raramente era saciada em seus desejos e prazeres que sentia quando acariciada pelos toques dos pés de um possível futuro e famoso craque: a bola de capotão. Ou, na falta de uma de capotão, também servia uma bola de borracha que, invariavelmente, estava murcha e, antes de cada chute que levava, parecia que nos olhava com uma cara triste, de inferiorizada e discriminada à espera da proteção de um idealista e futuro “líder social” que, infeliz e invariavelmente, viria a ser mais um exímio na arte da vida fácil às custas dos recursos públicos, sociedades entre público e privado, durante e fora do expediente...
Concluindo. Que em futuro não muito distante essa fotografia seja atualizada com pessoas nas ruas e expressando bem-estar, graças à Nação revigorada, livre de males e desamores, em plena paz, justa e respeitada por todos.
AHT
25/08/2017 (Dia do Soldado)
Texto revisado - 29/08/2017