quarta-feira, 21 de junho de 2017

Os vikings, os fenícios, a Noruega, os desmatamentos da Hydro e o crime organizado do Governo do Pará


ISMAEL MORAES - advogado socioambiental

Há consistentes relatos históricos do encontro entre comerciantes fenícios, povo ancestral dos libaneses, com nórdicos, genericamente chamados de vikings. Aqueles negociantes oriundos do Mar Mediterrâneo, dotados de grande cultura absorvida pelo contato intenso com gregos, judeus, egípcios e mesmo com os rivais romanos, conseguiram estabelecer vantajosa relação comercial com aqueles povos tidos como a quintessência da ideia do homem bárbaro, guerreiro, violento e brutal. Levavam quantidade enorme de especiarias, e traziam escravos brancos, que os vikings aprisionavam nas incursões pelo Alto Rio Volga, principalmente de aldeias eslavas. Daí a designação slave em inglês para escravo. Isso também explica serem hoje, entre os árabes, os libaneses os de aparência mais europeizada.
E eis que um descendente dos fenícios, o presidente Michel Temer, foi agora dar com os costados na Noruega, onde seus ancestrais iam esbanjar civilização, mas onde é hoje a terra do povo mais civilizado, educado, avançado sob todos os aspectos.
Ao mesmo tempo em que isso ocorre, o jornalista Carlos Mendes nos apresenta em um excelente artigo uma outra grande qualidade dos noruegueses que não se conhecia: o cinismo, ou, em português bem brasileiro, a tremenda cara-de-pau. Isto porque, como bem pinçou o jornalista, o Ministro Vidar Helgesen do Meio Ambiente da Noruega aproveitou o ensejo para enviar uma carta ao colega brasileiro, Sarney Filho, em que lhe puxa a orelha em razão do desmatamento na Amazônia. Realmente, os noruegueses são bons em tudo.
A Hydro é uma empresa norueguesa que se confunde de tal maneira com o próprio país que os ídolos da banda A-Ha, ao serem indagados pela jornalista paraense Esperança Bessa se eles eram sócios da empresa, tentaram desconversar dizendo que "todos os noruegueses são um pouco donos dela". De fato, o Governo da Noruega é sócio da empresa Hydro.
Ao adquirir da Vale a Alunorte, indústria de alumínio situada em Barcarena, Região Metropolitana de Belém, capital do Pará, na Amazônia brasileira, essa multinacional nórdica tornou-se obrigada, na condição de proprietária, a manter e a proteger uma Área de Proteção Ambiental e de Reserva Ecológica com uma extensão de floresta virgem de 45 milhões de metros quadrados floresta. Essa unidade de conservação, garantida nessa condição pelo ato do Poder Público que alienou essa floresta, conforme prevê a Escritura Pública também ficou gravada com o ônus real, para impedir qualquer desvio.
Dezenas de comunidades afetadas de Barcarena me constituíram como advogado para responsabilizar a Hydro, porque essa empresa está fazendo (e afirmo que os seus administradores estão em flagrante delito!), essa empresa está praticando algo tão criminoso que mesmo a Vale, mineradora considerada uma das entidades mais delinquentes em termos socioambientais, não teve coragem de fazer: a Hydro não apenas devastou aquela floresta protegida por Lei, como ela construiu bacias de rejeitos químicos industriais, altamente poluentes, massacrando dezenas de comunidades que sempre viveram no entorno dessa floresta, causando doenças gravíssimas - de diarreias, a câncer e diabetes. A foto abaixo mostra a Área de Proteção Ambiental e de Reserva Ecológica, identificada pela linha amarela, sendo devastada para a construção das bacias de rejeito.
Mas os delitos da empresa dos elfos noruegueses não ficam só nisso: como todo esse crime ambiental está sendo cometido com a Hydro ostentando em placas os números de todas as licenças possíveis e imagináveis concedidas pelo Governo de Simão Jatene, outro comerciante fenício, principalmente pelas licenças concedidas pela estrutura corrupta e criminosa da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade - SEMAS, fica mais do que claro que todo esse papelucho fraudulento concedido pela SEMAS não foi obtido pela Hydro em razão dos belos olhos azuis das walquírias aladas. Claro que envolve corrupção, jorrando nos mais rasteiros propinodutos, indo daqueles que assinam e autorizam a assinar as licenças, até à corrupção política dos financiamentos eleitorais, que faz das campanhas do PSDB uma mágica de resultados.
Como que poderia existir licença para desmatar uma Área de Reserva Ecológica de Proteção Ambiental? Como que poderia existir licença para construir bacias de rejeitos químicos industriais sobre uma Área de Reserva Ecológica de Proteção Ambiental que deveria ser um cinturão verde protetor das comunidades do entorno?
Claro que só poderia isso ocorrer como tem acontecido nesse nosso Pará 2030: com muito dinheiro.
Diante do aqui está dito seria coerente que o Governo da Noruega apure estes crimes. Caso contrário, é de se concluir que a madeira das árvores devastadas pela Hydro esteja servindo para abastecer de mais caras-de-pau aquele país.
E então nós voltamos no tempo: o nosso fenício daqui, o libanês Jatene, e os vikings da Hydro continuam negociando, com desvantagens apenas para os escravos paraenses.

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