quarta-feira, 5 de abril de 2017

Guerras, crueldades, torturas, traições, amores. São os Románov.

Livro bom é aquele que você marca, risca, traceja.
É aquele em que você faz setas, circula e comenta nas bordas.
Livro bom é aquele que você acaba de ler e tem a forte sensação de que aquela é uma obra definitiva – pelo menos naquele momento.
Os Románov - 1613-198 - é assim.
Marquei, risquei, tracejei, fiz setas, circulei, comentei nas bordas. E fiquei com se sensação definitiva de que é uma obra definitiva - embora não o seja.
Simon Sebag Montefiore, o autor do livro, um historiador e doutor em filosofia londrino, que já teve suas obras traduzidas para mais de 45 países, este repórter já havia lido Stálin, resume o melhor que um biógrafo deve ter: a maestria de apresentar riquezas de detalhes sem cair no caricato, mas adequando-as a um contexto que faz o leitor compreender devidamente um dado momento da história.
Em Os Románov - 1613-1918, Montefiore se supera. E nos leva a passear por 906 páginas com a leveza com que se vê um caleidoscópio, que empresta várias cores, facetas, caras e perfis, encarnados numa diversidade assustadora de personagens, tipo e caracteres, integrantes de uma das dinastias mais longevas da humanidade.
De quem você aí se lembra quando se fala em Románov? Provavelmente, e de cara, vai citar logo Pedro, O Grande; Catarina, a Grande; Nicolau e a família (a imperatriz e quatro filhos), executados pelos bolcheviques, e Rasputín, o místico que não era Románov, mas chegou a exercer tal poder (na intimidade das sombras e fora delas) que era como se fosse.
Mas os três séculos de Románov produziram muito mais.
Foram, ao todo, vinte soberanos, que aumentaram o Império Russo em mais de 520 mil quilômetros quadrados por ano, em guerras sem fim.
A dinastia comportou casos de excessos sexuais, sadismo, depravação, envenenamento de noivas, filhos torturados até a morte pelos pais, mulheres que mataram maridos, pais assassinados pelos filhos e muito mais.
Seis dos doze tsares da dinastia Romanov foram assassinados - dois por asfixia, um com uma adaga, um com dinamite (sim, dinamite) e dois a bala.
Os Románov produziram, digamos assim, excentricidades inesquecíveis e incomparáveis.
Quando se encontrava certa vez em Amsterdã, Pedro, o Grande (1672-1725) regalava-se assistindo-se às autópsias de um anatomista famoso. Até que um de seus cortesãos sentiu-se nauseado com os cadáveres.
O que fez o imperador? Agiu pedagogicamente: obrigou-se a "se debruçar e abocanhar um pedaço de tecido", nas expressões de Montefiore.
Tem mais.
"Fascinado pela desconstrução do corpo humano, [Pedro[ comprou um kit de instrumento cirúrgico que levava sempre em suas viagem. Se um de seus serviçais precisasse de uma operação ou extrair um dente, ele insistia em fazer isso pessoalmente. Temendo as sondas do tsar, seu séquito mantinha as dores de dente em segredo", conta Montefiore.
Leia Os Románov - 1613-198.

Você vai marcar, riscar, tracejar, circular, comentar...

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