quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Cenários eleitorais de uma cidade imaginária

LEOPOLDO VIEIRA
Sócio-Diretor da Trajeto-Inteligência Estratégica

1) Os candidatos de partidos de esquerda se concentram em atacar o atual prefeito, que vinha de baixo nas pesquisas;
2) O atual prefeito usa seu tempo eleitoral para mostrar sua gestão e ataca o candidato de extrema direita, daquela tipo "tiro, porrada e bomba";
3) O atual prefeito, que tem quatro anos de governo para narrar como quiser no seu generoso espaço de TV e radio, e o apoio do governador, vira o inimigo número um da oposição, apesar de estar atrás de dois candidatos: um de extrema esquerda e um de extrema direita;
4) O atual prefeito vira uma opção mais light do que "tiro, porrada e bomba" para quem não quer a cidade governada pela esquerda, e em quatro anos se podem corrigir eventuais erros dos primeiros quatro. Pelo menos é uma afirmação que tende a ser aceita;
5) O candidato de extrema esquerda vai ao segundo turno, superando em muito a candidata de esquerda. Afinal, o ex-prefeito, deputado federal, tem o que mostrar e o que prometer;
6) O atual prefeito vai ao segundo turno: mostrou o que fez, e mais palatável que "tiro, porrada e bomba" foi escolhido pela esquerda como inimigo número um (leia-se: o que é temido);
7) O candidato de extrema esquerda recebe apoio da esquerda, autocarimbando-se com as marcas e lideranças do partido dela. Como ele viera de lá, só passam a estar juntos num balaio do qual ambos, supostamente, fazem parte;
8) Eleitores que não querem a cidade governada pelo setor representado pela candidata de esquerda derrotada e pela esquerda migram para o atual prefeito;
9) O centro racha e o agora único candidato da oposição, a partir do apoio recebido do partido de centro, é carimbado com as marcas e lideranças do mesmo, somando-se às marcas e lideranças do de esquerda;
10) Parte da classe média que estava em dúvida migra para o atual prefeito. Mas, se o candidato de oposição não aceita o apoio do centro, o partido de centro migra para o atual prefeito, afinal estiveram juntos até quase a reeleição do governador e compartilham a gestão federal;
11) O candidato de extrema direita apoia o atual prefeito. O mundo não acaba na eleição da cidade. Ele é deputado, não vai brigar com o governador à toa e jamais apoiaria (ou teria o apoio aceito) pelo candidato da oposição;
12) Maioria constituída, o atual prefeito é reeleito. "Como?! Fez um governo tão ruim?!" A política como ela é;
13) O candidato de extrema esquerda é carimbado como inviável nos segundos turnos, pois perdeu a segunda vez seguida e para o mesmo adversário. Já reeleito o prefeito, abre-se um ciclo de renovação.

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O desfecho poderia ser outro caso:

1) Não se tivesse confundido a estratégia eleitoral com a crença de que a gestão do atual prefeito é ruim;
2) A escolha do principal adversário tivesse como critério não a ansiedade de queimar o prefeito, mas a racionalidade de quem teria mais capacidade de ampliar no segundo turno. Do alto da liderança nas pesquisas, se o candidato da extrema esquerda se concentrasse em bater no de extrema direita, este seria ungido a alternativa de direita;
3) O de extrema direita passando ao segundo turno justificaria a União de todos os derrotados com o, agora, único de oposição, não sob a imagem de ser por ele, mas contra o "tiro, porrada e bomba" como filosofia e método de governo para a cidade. Os próprios eleitores do atual prefeito, com exceção dos mais hidrófobos contra o partido da candidata de esquerda derrotada, migrariam para o de extrema esquerda;
4) Eleito, poderia aproveitar o encerramento do ciclo do atual governador para a reeleição e ser um forte candidato a comandar o Estado em 2018. Vida que segue;
5) Como redução de danos, valeria pedir para os candidatos de esquerda e centro não apoiarem oficialmente o de extrema esquerda no segundo turno, mas liberar o voto. Resta saber se tais líderes e seus partidos estarão dispostos a coisa que poderia ser vista como uma grande humilhação política;
6) Até porque lhes interessa um ciclo renovador.

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