segunda-feira, 9 de maio de 2016

Urge resgatar a credibilidade



Provavelmente, em breve teremos o afastamento temporário da presidente Dilma Rousseff por 180 dias. O novo governo terá que ultrapassar muitas turbulências, ainda mais se a presidente montar um “governo paralelo” à custa da União, como pretende, para ajudá-la na articulação de sua defesa e satanizar o governo que se inicia. Tipo de ameaça inócua, justamente porque não cumpriu o que prometeu, mentiu, faltou governabilidade e o povo testemunhou o País transformar-se num imenso balcão de negócios. O futuro presidente, Michel Temer, deve de imediato agir diferente da política implantada pelo PT, alterando todas as relações espúrias do “é dando que se recebe” na política. É o mínimo que se espera do novo governo, para ficar livre de pressões.
A população brasileira foi enganada por muito tempo, mas não será enganada por todo tempo. Ninguém aguenta mais ver e ouvir os famosos atores da velha e abominável política. Há uma indignação generalizada. Todos estão ávidos por uma depuração da vida parlamentar. É necessário aplicar um verniz moral nas nossas casas legislativas. A sociedade quer e exige horizontes promissores. Há que se pensar em começar a fazer as reformas que nunca foram feitas: na economia, na previdência social, na educação, no trabalho, etc. Há empenho, no momento, de que a primeira reforma será pelo estatuto da reeleição. O eventual governo Temer coloca na mesa e tem dito que quer pôr fim à reeleição no País. Sabe-se que a reeleição se constitui um dos maiores ativos do famigerado custo Brasil. Sua eliminação provocaria arejamento e confortável oxigenação tanto na administração pública quanto na rotatividade maior no poder.
Queremos de volta a esperança que foi roubada, sem nenhum escrúpulo, pelos corruptos que estão no governo. Quem acompanha sabe e lamenta as perdas das conquistas dos governos Itamar, FHC e Lula. A gente vê muito próximo o fundo do poço, mas ainda há tempo para reagir. A solução da economia é política, não técnica. O futuro governo sabe que é fundamental para quem governa ter uma agenda clara. Uma agenda modernizadora que se perdeu ao longo do governo Dilma. O Brasil é um país de envelhecimento acelerado. O mundo inteiro fez reforma da previdência a partir dos anos 1990. Se tivéssemos feito a reforma da previdência lá atrás, teríamos evitado mais um grave problema.
Chega de falso moralismo e de políticos caricatos. Gostaríamos de entender por que é tão difícil para a população brasileira perceber que política não é lugar dos que se dizem abertamente honestos, vítima de denúncias que não procedem, que não fazem sentido, quando, no mínimo, são investigados ou são réus. O fôlego dessa propaganda é curto. Mas os que deveriam ouvir atentamente esse clamor parecem surdos. Isso é dar um passo atrás. As evidências são graves e, chega, antes que esses processos venham tornar-se uma novela.
Deixar a vaidade de lado é fundamental. Alguns políticos - Aécio Neves, é um deles - se dizem preocupados com a formação da equipe do futuro governo. Não há tempo para preciosismo. Temer precisa fazer suas escolhas e preparar mudanças duras na economia, rever e fazer propostas para a área social, montar um ministério formado na base do fisiologismo, em busca de apoio no Congresso. É necessário resolver na economia a trajetória do ajuste fiscal e, no futuro, a carga tributária. Nada disso vai funcionar se “secadores de plantão” quiserem desfazer ou intrometer-se no mapa que Temer vem delineando para seu eventual governo.
Temer corre contra o tempo. É preciso reduzir o tamanho do Estado, promover o equilíbrio das contas públicas e ampliar investimentos por meio de parcerias público-privadas. Enfim, depois de decisão liminar de Teori Zavascki, o STF afastou por unanimidade Eduardo Cunha do mandato de deputado e da presidência da Câmara, ficando, assim, mais palatável para algumas estratégias nessa largada. A barreira Renan Calheiros era a última que precisava ser transposta, o PMDB e Temer mais generoso do que ninguém entendeu seus gestos. Urge resgatar a credibilidade do País.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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