segunda-feira, 11 de abril de 2016
Tem muito mais nessas histórias
Polui no tempo e, no ressabiado teatro da política, existem várias expressões para definir o governante que, em pleno mandato, por alguma circunstância dramática, perde a autoridade mínima de governar. A presidente da República vive uma situação de “rainha da Inglaterra”, ou seja, o país se tornou uma monarquia parlamentarista, onde quem sempre mandou e continua mandando é o “primeiro ministro” Lula. Agora pasmem, se o ex-presidente assumir a Casa Civil, como a presidente pretende, ele terá com a supercaneta o poder de nomear diretores da Polícia Federal, a mesma polícia que o investiga. As diretorias mais estratégicas são as que cuidam da inteligência e do combate aos crimes organizados. A presidente indica o diretor geral. Isso beira o tom tragicômico e absurdo.
Todos os dias, em algum salão da Corte, a estratégia da presidente para se livrar do impeachment envolve uma batalha dura com o Congresso - e o recurso a velhos mitos para ganhar parte da opinião pública. A presidente continua bradando “jamais renunciarei”, diante de plateias de militantes que são arrebanhados e tomam assento quase que diariamente no Palácio do Planalto, a verbalizar que não sucumbirá à pressão popular e política. Queira ou não, sua situação é insustentável. Apesar de evidenciar o contrário, mostra que está profundamente fragilizada. Apela sempre para o discurso emocional, que muitas vezes pode ser interpretado como coreografado.
Essa história de ex-presidente tirar uma de “Rambo” à brasileira, querer se passar por estrategista, incitando aos gritos a convocação de seus exércitos vermelhos, centrais sindicais, militâncias, etc., para irem às ruas. Isso é despreparo e indigência mental. Ele esquece que está envolvido em muitos episódios que precisam de muitas explicações, como negócios escusos e políticas de vileza. A situação acha que está havendo golpe contra a democracia, uma ruptura com a legalidade. Não há golpe de Estado em curso no Brasil. O impeachment é um instituto previsto na Constituição brasileira e consagrado nas democracias presidencialistas. Cabe, sim, aos deputados e senadores, também eleitos por voto popular, como a presidente, fazer o julgamento político sobre o afastamento da presidente.
Com o grau de investimento concedido pelas agências de classificação de risco, em 2008, a euforia da descoberta de petróleo na camada pré-sal, um salto nas exportações de matéria-prima e um mínimo recorde na taxa de desemprego, foi bom. De lá para cá, muita coisa mudou. A Moody’s rebaixou a nota do Brasil em dois degraus e o País perdeu o “selo de bom pagador”, afugentando os últimos fundos internacionais que permaneciam aqui. Os investidores percebem um risco maior de inadimplência. O juro da dívida pública sobe, aumenta o custo de captação do setor privado e cai o volume de empréstimos - péssima notícia num momento em que os empresários estão adiando investimentos pelas incertezas do cenário econômico. O País está politraumatizado, engessado até o pescoço. A Standard & Poor’s e Fitch foram as últimas a rebaixar o Brasil.
A presidente está mais preocupada com seus problemas e os de Lula do que com as reformas necessárias ao país. A operação Lava Jato vai entrar para a história. É uma realidade. Nunca se apurou com tanta profundidade as irregularidades praticadas por integrantes dos mais diferentes segmentos sociais. O corrupto, seja quem for, tem de pagar pelo crime que cometeu. Mas tem gente interessado em abortar a Lava Jato. Olho vivo, a Itália abortou a Mãos Limpas e ganhou nove anos de bunga-bunga de Silvio Berlusconi.
Há que se ter muito cuidado com o jogo interno de traições no PMDB e alhures. Com seu imenso apetite pelo poder, poderá não permitir a queda da presidente. Seis ministros peemedebistas não deixarão a boquinha. Entre lideranças da Câmara e do Senado os ministros preferem ficar no aconchego de Renan e seus privilégios. Têm muito mais nessas histórias... e, agora, nas 107 offshores. Ufa! Tudo muda em segundos O Brasil está no lixo. De vergonha já estamos cobertos. Chega de hipocrisia.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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