STAËL SENA
"Ao
poder, a primeira coisa que se diz é 'não'. Não por ser um 'não', mas porque o
poder tem de ser permanentemente vigiado. O poder tem sempre tendência para
abusar, para exorbitar".
José
Saramago, Prêmio Nobel
A presente conjuntura política brasileira conduz
a reconhecer que o Supremo Tribunal Federal é a última trincheira, no plano
interno, para respeitar a integridade do Estado Democrático de Direito. O
Supremo Tribunal Federal tem a obrigação de marchar para garantir o amplo,
geral e irrestrito atendimento à nossa Carta Mãe. Em nome da soberania do povo,
a Constituição de 5 de outubro de 1988 precisa ser resguardada. Portanto, a
função de tutelá-la, além de luta coletiva perene de todos, é dever primordial da Suprema Corte, inclusive
perante àqueles que juraram cumpri-la e agora - por razões (in)confessáveis e
sem disfarce - a descumprem de maneira flagrante perante o testemunho espantado
da comunidade democrática e da imprensa internacional.
Essa constatação é angustiante na atualidade
brasileira. A propósito, no vindouro outubro deste ano, nossa Carta Mater
completará 28 anos de vigência. E nunca será cedo demais prevenir o quanto os
brasileiros devem ser gratos por ela estar de alguma forma transformando a vida
das pessoas, propiciando oportunidades antes inexistentes para a maioria da
população no que se relaciona aos direitos sociais e outros individuais,
coletivos e difusos.
A independência harmônica que deve presidir as
relações entre os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, implica que, sem
exceção, todos têm a obrigação de
respeitar a Constituição de 1988 e leis infra legais. Assim, sob os olhos da
função típica do Poder Judiciário, a independência e a harmonia não podem se
traduzir jamais na submissão de um poder perante o outro, tendo em mira a
coerência e a isenção que devem presidir especialmente os atos deste poder.
Todos sabem, que os parlamentares, os
governadores, os prefeitos e os magistrados, em geral, ao assumirem seus
cargos, juram cumprir e fazer cumprir à Constituição...
Por conseguinte, o STF tem a dívida permanente
de assegurar a integridade da ordem jurídica e democrática na iminência de sua
violação ou de sua efetiva transgressão, em nome do povo, ponto de partida e de
chegada do Estado Democrático de Direito. Disso, a Suprema Corte não pode
prescindir em tempo nenhum sob pena de possibilitar o abortamento dos direitos
estabelecidos e abonar com sua inação a ação ilimitada e arbitrária do Poder
Legislativo ou parcela deste sobre os
demais. Em tal contexto, no Estado Democrático de Direito, a única hegemonia
aceitável é a da Constituição, não se podendo abrir a porta para se permitir a
hegemonia do Poder Legislativo ou de parte dele sobre os demais poderes. Nisto,
aliás, reside a qualidade e a legitimidade do Poder Judiciário para assegurar a
todos o valor e a eficácia normativa e social da Constituição.
Como conseqüência, todos os atos do Poder Legislativo, típicos
ou não, têm que respeitar os preceitos constitucionais, abrangendo também os
princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
O Brasil não pode ser usado como "Cosa Nostra" por aqueles que
exercem o poder.
Cármem Lúcia Antunes Rocha, atual ministra do
STF, na XVIII Conferência Nacional dos Advogados, em Salvador, 2002, fez três
afirmações dignas de menção para o contexto político que vivemos hoje, quando
abordou a relação entre a vontade do povo e a vontade do Estado. A primeira
assertiva, "A soberania popular,
expressa no art.14 da Constituição da República, é que qualifica a democracia
brasileira, sendo, pois, a soberania do
povo a que conta e repassa-se ao Estado, legitimando o seu comportamento...".
A segunda afirmativa, "O que se
aspira, mais que tudo, é que a soberania garanta a efetividade da vontade do
povo. E que esta seja apurada segundo
condições não apenas formalmente, mas também materialmente livres."
E a terceira declaração, por fim, "Há
que se ter muito cuidado com a apuração da vontade do povo e é preciso pensar
em fórmulas jurídicas, inclusive jurídico-constitucionais, para que chegue ao
momento de exame e qualificações do que seja, realmente, a vontade do povo, por
um motivo simples: há uma mídia que é dominante e predominante e que, a cada
momento, pode manipular o povo no seu querer ou fazer com que pareça que ele
quer aquilo que nem sempre é a verdade, que muitas vezes conduz a raciocínios
extremamente perversos, que não dá espaço para que se possa não apenas criticar,
mas sequer participar deste processo informativo".
Com toda a evidência, ao estudar o contexto
histórico e político atual, é muito provável que as gerações futuras lembrem o
dia 17 de abril de 2016 como o Dia da Vergonha Nacional, quando os valores
fundamentais da Constituição deixaram se ser prioridade. Neste dia - todos
assistiram ao vivo e em cores - os deputados federais deliberarem, sem qualquer
rigor jurídico e de modo sofrível, sobre a admissibilidade do pedido de
impeachment proposto contra a presidente da República.
Disso tudo deriva perguntar: para onde vai a
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, alicerce do presente e
do futuro de nossa jovem democracia? Para finalizar, há que se atentar ainda
que os agentes públicos não podem agir ou decidir por interesses divorciados
dos preceitos constitucionais, por interesses individuais ou
político-partidários, sob pena de sobrepujar a Carta Magna e a soberania
popular. Em suma, talvez estejamos assistindo ainda a gravidez, o parto e a
crucificação da Constituição e da Democracia Política.
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A CF é ruim. Ponto. Mas democracia não é a CF. E vice-versa. Assim como a ditadura. O problema é outro. A corrupção que está entranhada no povo brasileiro. Com ditadura ou democracia.
ResponderExcluirO problema é que os deputados federais não estão nem aí para a Constituição e as leis que vigem no Brasil. A prova ficou muito clara no dia 17 de abril. Acho que,infelizmente,o que move suas excelências é outra coisa... Vai acontecer a mesma coisa no senado. O Eduardo Cunha privatizou a República e todos os Poderes constituídos. Todos têm medo dele, temem desagradá-lo, não por méritos, mas por deméritos não sabidos pela opinião pública. Tá todo mundo de rabo preso. Dilma tá lascada...
ResponderExcluirVem aí o plebiscito sobre as eleições.
ResponderExcluirO PT já levou farelo.
ResponderExcluirTchau queridos.
Ilusão, entre a Constituição e outros interesses não republicanos, sempre predominaram estes. Assim, Cunha e o PMDM continuarão dando as cartas na democracia tupiniquim e corrupta. Tá tudo dominado. Não se iluda, caro articulista, pois todo mundo é corrupto, por ação e omissão, os políticos e o povo...Se eu fosse a presidente, eu caia fora, o Brasil é propriedade privada, ela não entendeu isso...
ResponderExcluirEla entendeu que é propriedade privada, sim. Tanto que permitiu a corrupção deslavada, na cara dura, na Petrobrás..... ou será que foi apenas incomPTência pura???
ResponderExcluirPra mim ela vai tentar exilar-se em algum País onde o Brasil financiou alguma obra vultosa, com bilhões de reais..... esperem....