segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

A indignação, a quem interessa?



A indignação também é um dever. A escalada da montanha é árdua. É uma breve, mas duradoura e solar jornada rumo ao cume da montanha moral do nosso tempo. Ficamos angustiados por tentarmos e não chegarmos lá, somos candidatos a reiniciar tudo, por não encontrar o que se buscava - um sentido para a devassidão moral do século XX e ao que tudo indica parece ter continuidade neste século XXI. A lista de misérias da humanidade é extensa e muito complexa. Terrorismo, guerras, tragédias, fome, governos ineptos, governos corruptos - injustiças de toda sorte, enfim. Basta consultar às mídias. Os infortúnios do homem estão sempre lá, dos maiores aos menores.
No Brasil atual, agora mesmo, no Brasil de 2016, a verdade vem incomodando, e muitos gostariam que esquecêssemos, é que a miséria campeia. Além do autoritarismo e da violência que definem o país há décadas, converge-se neste momento, no absurdo da razão brasileira, para o ápice dessa mega crise política, criminal e econômica, que acomete o País desde, ao menos, o início de 2015. Não é normal que inflação bata recordes, os empregos desapareçam e a renda despenque. Não é normal que o líder do governo no Senado esteja preso, assim como os principais chefes do partido que comanda o país. Não é normal que deputados, senadores e ministros sejam acusados de corrupção e continuem tranquilamente em seus cargos. Essas coisas são absurdas. Como estamos no início ano trata-se de um bom momento para refletir sobre nossos males, sem complacência dos culpados.
Para muitos, a corrupção frenética dos últimos treze anos é imbatível na disputa pelo título de pior pecado da era lulista: quando se roubou mais do Tesouro Nacional? Outros tantos acham que o desastre número 1 é a sua incompetência sobrenatural para governar o país no dia a dia das coisas práticas: o que dizer de um governo que chegou ao fim do ano ameaçado de não ter dinheiro para pagar as contas de luz? Todas essas escolhas são corretas, mas talvez nada tenha mostrado tão bem a alma do Brasil atrasado, decadente e maligno que o PT liderou de 2003 para cá quanto à escolha da trapaça, pura e direta, como lei suprema da ação política e administrativa do governo.
Nosso País de hoje é o Pais do trem-bala, da transposição das águas do São Francisco e da entrada na Opep, entre outras miragens. Aqui se chega à classe média ganhando um salário mínimo por mês. Os governos que juraram "defender a Petrobras" provaram serem seus piores inimigos; a empresa está em ruínas, quem investiu em suas ações tem hoje um mico miserável, e só por conta do petrolão, segundo a última perícia criminal, ela foi roubada em mais de 40 bilhões de reais. Esse "momento mágico" da economia que Lula garantiu ter criado é o que se vê aí: 9 milhões de desempregos, inflação de dois dígitos, juros de agiotagem, o caixa do governo na porta da vara de falências. É um manifesto contra quem não é rico.
Na verdade, a mãe de todas as trapaças é o "resgate de 40 milhões" de brasileiros da pobreza, ou sabe-se lá quantos. Dezenas de países apresentam resultados melhores que os do Brasil no combate à miséria - com a vantagem de não terem caído, como aqui, numa recessão de 3,5% em 2015, e talvez outro tanto em 2016, o que tira dos pobres tudo aquilo que os governos Lula-Dilma disseram ter dado. Que progresso social é esse que faz com que as coisas andem para trás? O fato é que não transferiram "renda" nenhuma - apenas distribuíram dinheiro que não tinham e tomaram emprestado a juros extorsivos. O resultado é essa dívida pública monstro que hoje caminha para os 3 trilhões de reais e rende bilhões para a elite da elite, os "rentistas" com sobra no bolso para emprestar ao governo.
A indignação é um dever. Representa o desabafo de todos os brasileiros. 2015 deixou muitos fatos marcantes em questões que atingem as mais diferentes comunidades. Mas não dá para ficarmos apenas esperando soluções para tantos problemas. É fundamental o exercício da cidadania, caracterizada pela participação de toda a sociedade. Esse é o nosso maior desafio.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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