Então é assim.
Nesta era de celebrizações e celebridades, nesta
era em que o maior exibicionista da face da Terra já é considerado o mais
recatado e reservado, nesta era em que nudes
trocados por meios virtuais já viraram uma coisa das mais banais, nestes tempos,
portanto, de agressões à privacidade, nada melhor do que ouvir opiniões.
E são válidas, sobretudo, opiniões que partem de
searas em que a exposição pública é uma imposição, é uma contingência
incontornável.
Olhem só o caso de Ricardo Tozzi, que aparece na foto.
O cara á poucos dias, no Teatro
Gonzaguinha, no Centro do Rio, a peça 'Electra', de Sófocles.
"O Brasil é uma tragicomédia e nós somos os
palhaços, com caras de idiota. [...] Acho que quem rouba dinheiro público para
comprar apartamento em Miami precisa pagar muito caro por isso. A gente não
pode continuar entubando tudo que acontece. Na peça, é olho por olho, dente por
dente, por exemplo", diz ele.
Muito bem.
Plec. Plec. Plec. Plec.
Palminhas para Tozzi.
Vejam agora o que ele disse sobre o que reportagem
da revista “Época” qualifica como uso frenético da internet:
Não
existe mais privacidade! Hoje em dia, cada um tem a sua própria coluna social
para se exibir. Eu uso meu Instagram de forma bem tranquila. Mas se você clicar
nas hashtags, vai descobrir o que estou fazendo de manhã, de tarde e de noite.
Mas vou vivendo."
Boa!
Plec. Plec. Plec. Plec.
De novo, mais palminhas para Tozzi.
As palminhas, todavia, exigem uma constatação: as
celebrizações, nos meios virtuais, são estimuladas, sobretudo, pelos famosos,
pelos célebres, por estrelas que às vezes se fazem estrelas muito mais do que
pensam e imaginam ser.
As celebrizações e celebridades, nos meios
virtuais, têm no meio artístico, evidentemente, uma de suas fontes mais
prolíficas e, como todo o respeito, mais excitantes, fogosas e, por último mas
não menos importantes, hipócritas.
Vemos, por exemplo, celebridades navegando todos
os dias nas águas hipócritas do politicamente correto.
São aquelas celebridades, por exemplo, que dizem
não suportar exposições, mas saem todo dia de manhã, juntando cocô de cachorro,
apenas para serem vistas e clicadas por paparazzi.
Feito isso, lá estão as imagens da celebridade
inundando as redes sociais na condição de heróico – ou heróica - defensor das
boas práticas que concorrem para a redução da camada de ozônio.
Uma dessas boas práticas: juntar cocô de
cachorro nas ruas das grandes cidades, todo dia, pela manhã.
Hehe.
Tem ainda aquela celebridade que põem no
Instagram fotos insinuantes em que ela, apenas de lingerie, aparece com o
marido, namorado ou namorido se
espreguiçando na cama.
Se a foto repercute bem na internet, ótimo. Se
não, a celebridade que se expôs para milhões de pessoas de livre e espontânea
vontade começa a achar que os outros, e não ela, é que estão errados.
Bem, da mesma forma que o ator Hugo Tozzi, todas
essas celebridades também acham que usam o seu Instagram – Insta, para os íntimos (hehe) – “de forma bem tranquila”.
Pois é.
Nesta era de exageros, de exibicionismos sem
limites, de celebrizações atingindo os píncaros dos excessos, usar as redes
sociais “de forma bem tranquila” pode ser, para muita gente, mandar nudes dia a noite, limpar cocô de
cachorro apenas para parecer bom moço – ou boa moça – ou fazer um selfie básico plantando uma árvore.
É assim.
Vivemos na era das celebrizações, do
politicamente correto e da hipocrisia.
Tudo “de forma bem tranquila”.
Reino das futilidades...e o país atolado em tenebrosas transações.
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