quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Os "nudes”, o cocô de cachorro e esta era de hipocrisias


Então é assim.
Nesta era de celebrizações e celebridades, nesta era em que o maior exibicionista da face da Terra já é considerado o mais recatado e reservado, nesta era em que nudes trocados por meios virtuais já viraram uma coisa das mais banais, nestes tempos, portanto, de agressões à privacidade, nada melhor do que ouvir opiniões.
E são válidas, sobretudo, opiniões que partem de searas em que a exposição pública é uma imposição, é uma contingência incontornável.
Olhem só o caso de Ricardo Tozzi, que aparece na foto.
O cara á poucos dias, no Teatro Gonzaguinha, no Centro do Rio, a peça 'Electra', de Sófocles.
"O Brasil é uma tragicomédia e nós somos os palhaços, com caras de idiota. [...] Acho que quem rouba dinheiro público para comprar apartamento em Miami precisa pagar muito caro por isso. A gente não pode continuar entubando tudo que acontece. Na peça, é olho por olho, dente por dente, por exemplo", diz ele.
Muito bem.
Plec. Plec. Plec. Plec.
Palminhas para Tozzi.
Vejam agora o que ele disse sobre o que reportagem da revista “Época” qualifica como uso frenético da internet:

Não existe mais privacidade! Hoje em dia, cada um tem a sua própria coluna social para se exibir. Eu uso meu Instagram de forma bem tranquila. Mas se você clicar nas hashtags, vai descobrir o que estou fazendo de manhã, de tarde e de noite. Mas vou vivendo."

Boa!
Plec. Plec. Plec. Plec.
De novo, mais palminhas para Tozzi.
As palminhas, todavia, exigem uma constatação: as celebrizações, nos meios virtuais, são estimuladas, sobretudo, pelos famosos, pelos célebres, por estrelas que às vezes se fazem estrelas muito mais do que pensam e imaginam ser.
As celebrizações e celebridades, nos meios virtuais, têm no meio artístico, evidentemente, uma de suas fontes mais prolíficas e, como todo o respeito, mais excitantes, fogosas e, por último mas não menos importantes, hipócritas.
Vemos, por exemplo, celebridades navegando todos os dias nas águas hipócritas do politicamente correto.
São aquelas celebridades, por exemplo, que dizem não suportar exposições, mas saem todo dia de manhã, juntando cocô de cachorro, apenas para serem vistas e clicadas por paparazzi.
Feito isso, lá estão as imagens da celebridade inundando as redes sociais na condição de heróico – ou heróica - defensor das boas práticas que concorrem para a redução da camada de ozônio.
Uma dessas boas práticas: juntar cocô de cachorro nas ruas das grandes cidades, todo dia, pela manhã.
Hehe.
Tem ainda aquela celebridade que põem no Instagram fotos insinuantes em que ela, apenas de lingerie, aparece com o marido, namorado ou namorido se espreguiçando na cama.
Se a foto repercute bem na internet, ótimo. Se não, a celebridade que se expôs para milhões de pessoas de livre e espontânea vontade começa a achar que os outros, e não ela, é que estão errados.
Bem, da mesma forma que o ator Hugo Tozzi, todas essas celebridades também acham que usam o seu Instagram – Insta, para os íntimos (hehe) – “de forma bem tranquila”.
Pois é.
Nesta era de exageros, de exibicionismos sem limites, de celebrizações atingindo os píncaros dos excessos, usar as redes sociais “de forma bem tranquila” pode ser, para muita gente, mandar nudes dia a noite, limpar cocô de cachorro apenas para parecer bom moço – ou boa moça – ou fazer um selfie básico plantando uma árvore.
É assim.
Vivemos na era das celebrizações, do politicamente correto e da hipocrisia.

Tudo “de forma bem tranquila”.

Um comentário:

  1. Reino das futilidades...e o país atolado em tenebrosas transações.

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