segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Sentimento de insegurança



Terrorismo é um tema muito difícil de lidar, difícil de abordar. É visceralmente angustiante aceitar abrir mão de liberdade. Sempre se soube, e não é de agora, que a França, historicamente, sempre foi defensora das liberdades individuais. O sentimento de insegurança, a incapacidade de lidar com as frustações, a sensação de injustiça perante o terror e covardia experimentado em Paris, está se instalando em outros distritos, subúrbios satélites da capital francesa, como Saint-Denis. Está deixando atordoada a polícia parisiense ao lado dos corpos nas ruas. As autoridades pediram para as pessoas buscarem abrigo durante a noite de confusão e que permanecessem em suas casas.
Foram ataques covardes, simultâneos, explosões e fuzilamentos a sangue-frio deixaram a Cidade Luz em pânico. Foi o pior atentado já vivenciado pelo país. Os parisienses mal tiveram tempo de superar o luto pelo massacre ao jornal satírico Charlie Hebdo, em janeiro deste ano. O ataque de dois membros do grupo al-Qaeda ao jornal de charges deixou 12 mortos. No dia seguinte, um terceiro terrorista fez outras cinco vítimas na periferia, quatro delas num supermercado. Para muitos, o 7 de janeiro de 2015, quando radicais islâmicos invadiram a redação do jornal chargista, era o 11 de setembro na França.
No entanto, o 13 de novembro se revelou um dia mais negro. Ataques com tiros e explosões em ao menos cinco pontos diferentes da capital francesa deixaram 129 mortos e mais de 250 ficaram feridas. É considerado o pior atentado da história da França. Informações preliminares dão conta de uma série de ataques orquestrados e preparados para acontecer bem no dia de um jogo importante de futebol, o amistoso entre França e Alemanha, no Stade de France, em Saint-Denis, periferia de Paris. A polícia confirmou pelo menos três explosões e a saída do estádio foi caótica.
Ademais, a França, se tornou o país europeu que mais combate o terrorismo. Em setembro, fez o primeiro ataque ao Estado Islâmico, na Síria. Bombardeou um campo de treinamento do grupo localizado nas proximidades da cidade de Deir al-Zour, no leste do país e que estava "ameaçando a segurança do nosso país" disse na ocasião o presidente da França, François Hollande. Nos últimos 20 anos, a França esteve na mira dos ataques terroristas outras cinco vezes. Nenhuma delas chegou perto da ação que deixou a cidade em choque na sexta-feira, 13.
Antes a França vinha restringindo ao território do Iraque seus ataques ao EI. Relatórios da inteligência francesa, no entanto, alertaram o governo de que o grupo pretendia levar a cabo ataque em países da Europa Ocidental - principalmente na França, usando militantes e simpatizantes do grupo baseado no país. E o campo de treinamento na Síria parecia crucial nesse plano. Entre os meses de janeiro e abril as autoridades francesas afirmam ter impedido ao menos cinco ataques em seu território.
Pergunta-se: por que Paris? A França se engajou de forma mais intensa no combate a grupos terroristas em julho do ano passado, com a Operação Barkhane, na África. Foram 3 mil soldados enviados para operações antiterrorismo na região conhecida como Sahel. Países cobertos pela operação - Burkina Fasso, Chade, Mali, Mauritânia e Níger - viram na última década a ascensão de grupos radicais islâmicos como al-Qaeda e Boko Haram. Agora, militantes islâmicos, alguns com cidadania francesa, são suspeitos de planejarem os ataques.
Na quarta-feira, 18, morreu na ação policial em Saint-Denis, segundo o Washington Post o belga Abdelhamid Abaqaoud e uma mulher bomba se suicidou detonando explosivos, a imprensa local afirma que se trata de Hasna Aitboulahcem, 26 anos, que dizia ser prima de Abaqaoud e mais um corpo. Na quinta-feira, 19, imagens de um circuito de TV mostraram que duas mulheres escaparam de morrer após a arma do terrorista falhar, na porta de um restaurante. Agora, as ameaças são para os EUA e Itália.    

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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