segunda-feira, 26 de outubro de 2015
A Catalunha quer cisão da Espanha
Os dois principais movimentos separatistas da Espanha, atualmente, envolvem a Catalunha e o País Basco, que clamam por independência. A Espanha - assim como inúmeros países - possui um Estado multinacional, ou seja, contempla em seu território muitas nações e troncos étnicos que possuem um relativo grau autônomo de organização e coesão sociais. No entanto, ao contrário de muitas outras localidades, em que a convivência dessa pluralidade se sustenta de forma relativamente pacífica, no espaço geográfico espanhol há uma elevada instabilidade política envolvendo, especialmente, catalães e bascos, além de algumas outras etnias que não devem ser desconsideradas, como: galegos e navarros.
Os registros mais antigos sobre a presença desse povo na região são do século XII. Durante muitos anos, a Catalunha também integrou o reino de Aragão, em conjunção com o domínio de Barcelona. Ela manteve sua autonomia jurídico-administrativa até que os Bourbons acendessem ao trono espanhol, depois da Guerra de Sucessão Espanhola (1701-1714) que o seu território passou a se tornar, de fato, parte do Estado Espanhol. Trata-se, portanto, de uma região com uma longa trajetória de independência. Após esse período, a Catalunha começou a se diferenciar economicamente do restante do território espanhol - assim como aconteceu com os Bascos -, tornando-se um dos primeiros locais da Europa a seguir o processo inglês de industrialização. Foi, assim, a região pioneira na Primeira e na Segunda Revoluções Industriais, urbanizando-se de forma intensa e constituindo cidades verdadeiramente desenvolvidas, com destaque para a capital Barcelona.
Atualmente, a região da Catalunha possui uma economia bastante diferenciada das demais regiões da Espanha, abrigando muitas grandes empresas e sendo um dos principais centros comerciais e turísticos da Península Ibérica. Essa conjuntura, somada ao fato de a Espanha ter sido um dos países mais afetados pela crise recente da União Europeia, vem contribuindo ainda mais para o acirramento das relações entre o governo local e a administração nacional.
Os catalães, além de uma identidade própria, possuem o seu idioma específico: o Catalão, uma língua evoluída a partir do latim e que possui poucas semelhanças com o espanhol. Ademais, eles agregam-se na região da Catalunha, uma espécie de província autônoma da Espanha e que possui até mesmo um parlamento próprio. Apesar da pressão do governo espanhol, a região se articula em prol da independência. As eleições para o parlamento são o primeiro passo para a ruptura. Se conseguir metade dos 135 assentos do Parlamento regional, a coligação "Juntos pelo Sim", liderada pelo atual presidente catalão Artur Mas é formada pelos partidos Esquerda Republicana na Catalunha e Convergência Democrática da Catalunha, terá caminho livre para se livrar do jugo espanhol. Pesquisas mostram a possibilidade de separação real.
Segundo, Mas, é a região que mais contribui positivamente para o PIB. É a região mais rica e industrializada do país tem participação de 25% do PIB da Espanha e, ao mesmo tempo, é a que menos recebe investimentos e infraestruturas do governo federal. No início de setembro, milhares de catalães foram às ruas pelo sim à separação. O professor de Relações Internacionais da ESPM, Pedro Costa Júnior, diz: "Sob diversos aspectos, o catalão se sente mais catalão do que espanhol". A região manteve, preservou seus traços históricos e culturais.
O movimento separatista não é uma aventura tresloucada, como propagandeia o governo espanhol. A pressão é muito grande e não é novidade para os catalães. Na Guerra Civil Espanhola (1936-1939), a Catalunha sofreu por se opor ao conservadorismo da Espanha. Na ditadura de Francisco Franco (1939-1975), a língua catalã chegou a ser proibida, assim como qualquer manifestação que remetesse a sua cultura. Há um histórico de repressão. Há chance real de cisão?
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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