Mas confesso logo: estou feliz da vida! E para
não correr o risco de cometer uma indelicadeza, registrem-se os meus mais
sinceros, comovidos, enternecidos e imorredouros agradecimentos à Segurança
Pública do Pará por mais este assalto. E vocês vão já entender o porquê dessa rasgação de seda.
Ah, sim! Também o nosso muito obrigado (snif! snif!) à Guarda Municipal de Belém, essa corporação que honra, com todo o
respeito, a farda que veste.
É o seguinte.
Quando digo que fui assaltado novamente é porque
o assalto de ontem, em plenas 9h30 da matina, na Praça Batista Campos, uma das
mais frequentadas e centrais de Belém, foi o segundo.
O primeiro foi em março de 2012, na mesma praça,
no calçadão que margeia a rua dos Mundurucus, por volta das 11h da matina.
Eu caminhava quando um bandido me deteve com
revólver em punho, arrancou-me um cordão e rasgou
do pedaço, na garupa da moto de um comparsa que o esperava na esquina. Leiam o
relato completo clicando
aqui.
Passei meses traumatizado com aquilo. Só voltei
a caminhar na praça uns oito meses depois, ainda assim apavorado a
possibilidade de que aquilo se repetisse.
Até que ontem, quarta-feira, se repetiu,
praticamente no mesmo horário e no mesmo calçadão (onde aparecem esses dois rapazes que aparecem em bicicletas, na imagem abaixo, do Google Maps). Com um detalhe: havia uns dois grupos de crianças,
no total umas 200, que estavam marchando em homenagem à Independência
deste Brasil varonil, de céu azul e matas verdejantes, onde reinam a paz e o
amor.
E quem batia os tambores, eram uns militares do
Exército. Sim, do Exército brasileiro. Uns 20 deles, mais ou menos.
Não é fofo tudo isto? Os militares batendo
bumbo, as criancinhas marchando, pais e mães tirando fotos para colocá-las no Face, os pets fazendo cocô na grama,
outros frequentadores da praça tomando água de cocô e, por último mas não menos
importante, bandidos arrupiando
incolumemente.
Não é fofo, fofíssimo um cenário como esse?
Pois é.
Fiado nisso tudo - na quantidade de gente e na
presença de integrantes da nossa gloriosa força armada terrestre flanando pela
praça -, o repórter aqui caminhava ainda mais tranquilo e lampeiro do que de
costume.
Até que veio o bandido. Estava numa bicicleta.
Veio pelo meu lado direito, meteu a mão no cordão, deu um puxão e foi embora,
muito mais tranquilo e muito mais lampeiro do que a vítima.
A parada de resolveu um dois segundos, se tanto.
Ainda pensei em gritar:
- Bandidooooo,
socoooooooorrooooooooooooo!
Mas refuguei, como medo de que, em vez de
policiais, aparecem mais bandidos.
Refuguei, apavorado de que um batalhão de
bandidos se apresentasse para substituir os militares que, fofissimamente, batiam bumbo para as criancinhas marcharem.
Pois o assaltante fez mais: quando se afastou
uns dez metros, ainda deu aquela olhadinha básica - maneira que só - para a vítima, só para conferir a cara de
surpresa, de estupefação, de desnorteio que exibem todas os que são alvo da
violência de bandidos.
E aí?
E aí que, depois de tudo isso, o repórter foi
bafejado por aquele incrível sentimento de gratidão à Segurança Pública do
Pará.
Sem brincadeira: uma gratidão como nunca senti
antes.
Nunca mesmo.
Por quê?
Porque, de março de 2012 a setembro de 2015, o
índice de segurança pública no Pará, gente, deu um salto estratosférico de
qualidade, né?
Em março de 2012, o repórter, tecnicamente, foi
vítima de um roubo, assim entendida a subtração de um bem nosso mediante
violência, que naquele caso se configurou na exibição de um revólver.
Em setembro de 2015, o repórter, tecnicamente,
foi vítima de um furto, assim entendida a subtração de um bem nosso sem
violência, que neste caso se configurou na ação, digamos assim, quase
inofensiva de um larápio que saiu de casa, coitado, e disse assim: “Vou bem
ali, na Praça Batista Campos, bater a carteira de abestado qualquer que esteja
andando por lá. Mas volto já!”.
Há outra razão, todavia, para que nos alegremos
todos, para que exultemos sinceramente diante do notório, incontestável,
indisfarçável e incomparável nível de eficiência da Segurança Pública do Pará.
Uma eficiência que se expressa, meus caros, em números,
Leiam abaixo:
Os
crimes de furto na capital também caíram, em 25%, sobretudo nos finais de
semana. No mesmo período do ano passado o balanço da Segup apontava 1.181
ocorrências, contra 890 este ano. Já com relação aos casos de roubo a
queda foi de 30%, com 1.827 registros feitos ao Sistema de Segurança
Pública em 2014, frente aos 1.243 este mês.
Leram?
Pois é.
Esse é o último parágrafo de matéria intitulada Balanço da Segup
aponta queda dos índices de criminalidade nas duas primeiras semanas de julho,
que pode ser lida, relida e trelida
em sua íntegra no site da Agência Pará.
Leiam e constatem: caiu tudo, galera.
Caiu tudo, gente.
Caiu o número de roubos.
Caiu o número de furtos.
Caiu o número de homicídios.
Caiu tudinho.
Digam-me agora, vocês leitores: como não se
mostrar sinceramente, ternamente, efusivamente, entusiasmadamente agradicido à Segurança Pública do Pará
quem, como este repórter, foi vítima, ora vejam só, de apenas um furtinho,
apenas um furtinho numa das praças mais centrais, mais aprazíveis de Belém?
Digam-me mais: como não se comover com uma corporação como a Guarda Municipal, que passou a deixar
a praça desguarnecida de policiais queficavam permanentemente por lá, mas não ficam mais?
Olhem, meus caros, em postagens outras,
relatando a violência em Belém, o repórter aqui costuma dizer que está com
vontade de ir embora pra Pasárgada,
porque lá, na condição de amigo do rei, ficaria livre dessas coisas.
Que Pasárgada que nada!
Fiquemos por aqui mesmo.
Fiquemos por aqui que a Segurança Pública nos
enche de certeza de que, brevemente, não teremos mais roubos.
No máximo, teremos apenas roubinhos, apenas furtinhos assim – inofensivos, meros exercícios
de transgressão praticados por bandidos diletantes, enquanto militares do
Exército batem tambor para criancinhas marcharem na praça.
Hehehe.
General Jeannot Jansen, secretário de Segurança
Pública.
Marque dia, hora e local.
Quero brindar com Vossa Excelência esses números
que nos oferecem a sensação de que não estamos em Belém, mas em Pasárgada.
Quero brindar com Vossa Excelência tomando um açaí do grosso, daqueles de qualidade, é claro, livres do
risco do doença de Chagas.
Marque hora e local.
Gostaria muito de agradecer a segurança que a
Segurança Pública do Pará nos proporciona!
E tintim!
Um detalhe : ali tem câmeras do CIOP, que não tem gente para monitorar. Fica de enfeite. Dá para acreditar nisso? Pois é, tem câmera e os bandidos sabem disso. E eles,os bandidos,sabem que ela estão só para enfeite, ninguém olha os monitores.
ResponderExcluirEssa informação do anônimo das 14:46 é muito grave e merece apuração pelo Ministério Público.
ResponderExcluirAnônimo das 14h46.
ResponderExcluirVocê sabe mais ou menos em que posição fica a câmera do Ciop?
Quero fotografá-la e checar, junto ao Ciop, se realmente a câmera funciona ou se fica lá apenas para enfeite, o que, se realmente ocorre, é mais uma coisa inacreditável nesta Belém dominada por bandidos.
Tem câmera na esquina da Padre Eutíqueo com a Timbiras. O alcance dela é de 420 metros.
ResponderExcluirPode crer. Você deveria ir fazer uma visita ao CIOP. São mais de 100 câmeras. Pergunte quantos omitirem existem. Tem câmeras próximo ao Itaú.
ResponderExcluirRua dos Tamoios com Padre Eutíqueo. A câmera está lá.
ResponderExcluirTem que chamar o ladrão!
ResponderExcluirVai ver a empresa que instalou as câmeras é de parente de alguém influente. Tipo gente que "ganha" a licitação.
ResponderExcluirSegurança se faz com inteligência, tecnologia, salários, ensino e instrução. Se faltasse um deles, não adiantaria. E faltam todos.
ResponderExcluirPor favor, só não vão me dizer que a solução está no filho do Jáder ou no ex-prefeito da pista de autorama, porque é um atentado contra a inteligência do povo.
ResponderExcluirA segurança pública, está uma porcaria.
ResponderExcluirPoster, poderias ter chamado as criancinhas para ajudá-lo, pois acredito que este safado era um joão ninguém e menor de idade que a Polícia não faz questão de prender.
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