terça-feira, 8 de setembro de 2015
Franca Siqueira: o Pará perde uma de suas excelências no jornalismo
No jornalismo, Frank Siqueira.
Mas seu nome era Franca.
Meu amigo Franca Siqueira.
Escrevo sob o impacto de sua morte, em decorrência de parada cardíaca, da qual tive conhecimento nesta segunda-feira, por volta 18h30.
Meu Deus!
Franca era uma referência pra mim.
Uma referência pessoal e profissional.
Foi uma referência pessoal porque, depois que o conheci, tornamo-nos amigos. Muito amigos.
Trocávamos informações - sigilosas, inclusive -, checávamos fatos juntos, fazíamos projeções sobre fatos da política - área em que Franca era um craque e tinha excelentes fontes -, enfim, passamos a travar um contato frequente e intenso, na redação ou por telefone. Um contato que sedimentou um respeito e afeição mútuos.
Franca (na foto, extraída do site da Fiepa, num evento em que lhe foi concedido um prêmio) foi uma referência profissional porque, vejam só com são as coisas, ingressei em O LIBERAL, em março de 1983, justamente para substituir o próprio Franca Siqueira, que então estava se desligando do jornal para ser assessor de Imprensa - se não me engano do Banco Nacional da Habitação (BNH), que depois viria a ser extinto - em Rio Branco (AC).
Franca, nessa ocasião, era setorista do jornal na Assembleia Legislativa do Estado. Cláudio Sá Leal, que viria a ser meu mestre e era redator-chefe de O LIBERAL, incumbiu o próprio Franca de indicar um repórter para substituí-lo.
Quem me fez o convite foi o amigo-irmão e conterrâneo santareno Miguel Oliveira, hoje editor de O Estado do Tapajós, que foi primeiramente contactado pelo Franca para trabalhar em O LIBERAL, mas não mostrou interesse e então se lembrou de mim.
Foi assim que ingressei no jornal, para fazer a cobertura diária das sessões da Assembleia Legislativa e para trabalhar na editoria de Política, sob a chefia direta de Leal, a quem fui apresentado pelo Franca, com quem só iria me reencontrar apenas alguns anos depois, quando ele retornou a Belém e eu já estava na condição de editor.
Editor de quê? De Política.
Editor de quem? De meu amigo Franca Siqueira.
Foi aí, então, que conheci a fundo o trabalho, o caráter e a personalidade de Franca Siqueira.
Ele foi um exemplo - de caráter, de honradez, de retidão.
Seu texto era um dos melhores, um dos mais brilhantes da Imprensa paraense.
Eu ainda tive o privilégio de manusear seus textos datilografados nas velhas e hoje inexistentes máquinas manuais. Textos escritos em laudas, que antigamente chamávamos em jornal de papel-retranca, referência a uns códigos (indicando o tamanho de letra, o tipo de letra etc.) que diagramadores escreviam nas próprias matérias, para que fossem digitadas e depois impressas no sistema offset.
Pois acreditem: cheguei a manusear textos de Franca Siqueira de 10 laudas (com 20 linhas cada) sem um erro - absolutamente nenhum. Ele escrevia limpo, sem borrões, sem rasuras, sem lombas (como dizemos no jornalismo), sem quaisquer rabiscos a caneta para tirar eventuais erros de datilografia.
O português de Franca era escorreito, era correto, era perfeito e, mais importante que tudo, era simples, sem rebuscamentos, sem pretensões de fazer estilo, sem a intenção, como dizemos, de enfeitar.
A simplicidade, a objetividade, o estilo eminentemente jornalístico se agregavam a uma outra qualidade de Franca: a de ser claro, claríssimo. Era impossível não se compreender claramente, precisamente o que ele escrevia.
Para um jornalista, fazer-se entender bem por todo mundo é um dos maiores predicados. Pois Franca era assim. Se ele fizesse matéria sobre problemas intrincados que envolvessem a Física Quântica, saberia como verter o tema para a linguagem escrita, de tal forma que o entenderiam tanto o físico que ele entrevistou e lhe forneceu os elementos para a reportagem como o leitor comum.
Grande Frank Siqueira!
Grande Franca Siqueira!
A última vez que falei com ele, por telefone, foi no ano passado. Foi uma conversa rápida, de não mais que 10 minutos por telefone.
Ultimamente, ao que me informam amigos comuns, estava com problemas de coluna e de LER (Lesão por Esforço Repetitivo), mas nada de muito preocupante.
Era fumante inveterado, mas também tinha largado o cigarro, conforme me asseguraram.
É uma pena que Franca tenha se ido.
O jornalismo paraense perde uma de suas excelências.
E eu perco um amigo. Um grande amigo.
À sua esposa, filhos e demais familiares, um abraço apertado de solidariedade.
Dividamos essa saudade.
Para que essa grande saudade se torne mais suportável.
O Franca era um excelente repórter, é quase uma unanimidade. Mas além deste jornalista de mão cheia, de texto "escorreito" como dizia a Ana Diniz, era um cara honesto, um homem simples, sem vaidades.
ResponderExcluirFicam nas lembranças: além do bom texto, a imagem das anotações no caderno dele, feitas com letras "de professora". Quantas vezes ele emprestou o caderno para copiar as informações.
E do sorriso de alegria quando falava das pescarias que ele tanto gostava. No jornal de hoje tem uma foto dele assim, no barco.
Que bom que o talento dele foi reconhecido em vida, no prêmio da Fiepa. Homenagem merecida.
À família, a qual presto solidariedade nesta hora, afirmo que deve estar orgulhosa, pois ele foi um homem muito bom.
Paz a sua alma. Eu também perdi um amigo.
Ana Marcia Pantoja
Paulinho, lindo texto e perfeito retrato do nosso amigo Franca Siqueira. Beijo pra ti.
ResponderExcluirRegina Alves
Foi maravilhoso rever essa matéria sobre meu saudoso irmão Cornélio Franca Siqueira confeço que chorei chorei de saudades Obgd.
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