quarta-feira, 1 de julho de 2015

Arautos atuais da pior crise



Há que se ter muita paciência com o frágil gerenciamento que esse governo nos propõe. É necessária muita cautela na avaliação de situações ruins. Apesar de estarmos diante de uma supercrise, de dimensionamento muito maior do que nos foi antecipada, não podemos ter ainda a informação da capacidade devastadora que esse impacto terá no nosso futuro. Estamos sendo arrastados para o interior de um tornado e essas avaliações não podem ser analisadas de chofre. Nosso futuro está na dependência das lentes históricas que utilizamos.
Nosso futuro, no momento, sem perspectiva, é um retrocesso inegável. Esse governo que aí está tinha tudo para sequenciar um tempo mais longo de crescimento econômico e, por uma combinação de erros primários e uma ganância política desmedida, pôs tudo a perder. Mas se pensarmos, porém, no horizonte das décadas e séculos, é preciso pensar e reconhecer que, apesar do partido do governo, o país está crescendo institucionalmente. O que nos deixa atônitos é que, como vivemos e pensamos na escala dos anos e não no tempo histórico, os avanços mal são percebidos.
A que ponto chegou quando, internamente, governos passado e atual não mais se entendem, acabou mesmo a “lua de mel” interminável, hoje totalmente deteriorada, a ponto de aliados do ex-presidente atribuírem às críticas e reclamações dirigidas à presidente da República como sinal de indignação com a tentativa do governo de se descolar das acusações de corrupção que resvalam no ex-presidente na Operação Lava Jato. Para os seguidores do ex-presidente, o Planalto tenta restringir a responsabilidade pelos desvios ao governo anterior para evitar a contaminação e seus interlocutores dizem que ele está “órfão” e que sua sucessora não protege quem a colocou lá.
A crise instalada traz ao governo sinais de instabilidade. O ministro Joaquim Levy parece não saber mais o que fazer: a seu respeito, tudo se passa em sussurros. As áreas que esperavam regozijar-se com a nova política econômica do governo, aumentam muito os sinais confiáveis de uma inquietação já vista em ocasiões um tanto distantes, quase esquecidas, mas de fins conhecidos. A coisa não está só um tantinho braba e distante de percepções públicas, dissemina-se entre empresários importantes a desconfiança se não mais de que Levy não é o homem certo no lugar certo. Quando foi escolhido para a Fazenda, perceberam que exalava ausência de efusividade empresarial. Os indicadores negativos estão acelerados, há inquietação, sim. Falta a Levy o controle sobre o fundamental. Há o temor de uma quebradeira, que se insinua nas demissões em massa, diminuição dos turnos de trabalho, desemprego e inflação crescentes etc.
Para acabar de melar de vez o governo, desde o avançar do galope inexorável das investigações da Lava Jato, surge a ameaça de derrubar a República. Na operação que terminou com a prisão do empresário Marcelo Odebrecht, seu pai, Emílio Odebrecht, manda um recado ao governo: “Terão de arrumar mais três celas: uma para mim, outra para o Lula e outra ainda para Dilma”. Esta operação estava preparada meticulosamente, há meses, pelos procuradores e delegados do Paraná, em parceria com a PGR. Essa operação, ainda quando era um plano, chamava-se “Operação Apocalipse”. Para não assustar tanto, optou-se por batizá-la de Erga Omnes, expressão em latim, um jargão jurídico usado para expressar que uma regra vale para todos - ou seja, que ninguém, nem mesmo um dos donos da quinta maior empresa do Brasil, está acima da lei.
Não há como determinar com certeza se o patriarca dos Odebrechts ou seu filho levarão a cabo as ameaças contra Lula e Dilma. Mas eles metem medo nos petistas por uma razão simples: a Odebrecht se transformou numa empresa de R$ 100 bilhões graças, em parte, às boas relações que criou com ambos. Se os executivos cometeram atos de corrupção na Petrobras, é de supor que tenham o que contar contra Lula e Dilma.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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