sexta-feira, 29 de maio de 2015

"Tenho medo. Eu já sofri 14 assaltos".


Quem disse que a violência não apavora?
Quem não disse que não estiola, que não parte, que não dilacera a nossa alma?
Quem disse que, sujeitos e expostos diariamente ao desamparo e à violência, conseguimos todos manter incólume a frieza que nossas profissões exigem?
Ontem, o Jornal Liberal 2º Edição, da TV Liberal, mostrou reportagem sobre o crime que tirou a vida do executivo israelense Gil Gottfried, 62 anos, morto a tiros quando chegava em casa, na travessa São Pedro, imediações do shopping Pátio Belém, área central da cidade.
A reportagem, que você pode conferir na íntegra aqui, tem exatos 2 minutos e oito segundos.
Lá no final, bem no finalzinho, o repórter colheu o depoimento de uma das médicas da equipe do Samu que tentou reanimar, infelizmente em vão, a vítima que acabara de morrer.
O que ela disse é estarrecedor.
Aos prantos, disse a médica Ângela Guimarães:

"Não tá fácil. Não é só a gente ver que dói, mas é saber que poderia ser qualquer um de nós. Eu tenho medo de sair na rua, entendeu? Eu já sofri 14 assaltos, então eu vejo uma coisa dessa e fico apavorada".

Quatorze assaltos, meus caros.
Quatorze. Nem um, nem dois - como aqui o repórter do Espaço Aberto -, nem três. Mas 14 assaltos.
Como não sentir medo?
Como não sentir pavor?
Como não se sentir inseguro?
Como não se sentir com a alma estiolada, quando vemos vidas sendo ceifadas e nada podemos fazer diante da carnificina que avança sem controle?
Como exigir que profissionais como os próprios médicos, de quem se espera sempre que tenham a frieza necessária para conduzir-se da melhor forma possível em situações extremas, como esperar, portanto, que eles não expressem os temores decorrentes da exposição diante do banditismo que assola Belém?
Como esperar de quem já sofreu 14 assaltos que não se veja atônito? Como?
Temos medo, sim.
Temos pavor, sim,
Sentimos insegurança, sim.
Tenhamos sido vítimas de um dois, três, quatro ou 14 assaltos - e milhares de pessoas nesta cidade de 1,5 milhão de habitantes já passaram pela experiência de ser alvo de assaltantes -, todos nós temos medo, pavor, horror da violência sem controle.
É assim.
Não deveria ser, mas é.

2 comentários:

  1. Poster, talvez Belém seja até a mais violenta. Mas o caso do cidadão israelense está sendo tratado, inicialmente, como execução e não como um roubo ou latrocínio.

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  2. Enquanto formos "reféns" da justiça "boazinha" para os criminosos, do "dimenor" que tem idade pra votar (será que isso é ser irresponsável?) mas é tratado como infantil e inimputável, dos traficantes, a IMPUNIDADE CONTINUARÁ ALIMENTANDO ESSA GUERRA CIVIL.

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