quinta-feira, 7 de maio de 2015

Os fundos de pensão e seus rombos

Do jornalista Francisco Sidou, em seu perfil no Facebook:

A propósito da crise dos fundos de pensão, também provocada pelos desmandos e desvios de conduta de seus gestores, lembrei-me de um artigo que consta de meu primeiro livro (Data Venia - in 2000 ), que fazia uma previsão sombria sobre o seu futuro, o que, infelizmente, vem se confirmando. Preferia que fosse desmentido pelos fatos.
Mas estes só fazem multiplicar o tamanho do rombo nas reservas dos fundos de pensão, que seriam destinados a garantir a aposentadoria de milhões de pensionistas. Que agora serão obrigados a pagar o elevado custo/corrupção.

Fundos podem ir ao fundo

Os Fundos de Pensão são a bola da vez. Eles realizam operações milionárias nas Bolsas de Valores, participam de grandes empreendimentos imobiliários (Previ, Petros, Funcef) e ainda arrematam estatais em leilões de privatizações. Para a opinião pública, eles aparecem como ilhas de prosperidade em meio à crise geral de brasileiros trabalhadores assalariados.
Ocorre que se os Fundos de Pensão vão bem os seus pensionistas vão muito mal. É o caso da Caixa de Previdência e Assistência dos Funcionários do Banco da Amazônia S.A. (Capaf), que já desconta 24% dos benefícios de seus "assistidos", inclusive sobre o que recebem da Previdência Oficial, caracterizando , portanto, bitributação (smj) e já planeja aumentar essa contribuição para 36%. Há casos de aposentados que descontam R$-800,00 para a Capaf e só recebem cerca de R$-300,00 em seu "holerite".
A única solução que vislumbram os atuários, gestores e técnicos "amestrados" é o compulsivo aumento das contribuições dos já combalidos contribuintes compulsórios. Ninguém fala em responsabilizar os patrocinadores e gestores pela má gestão dos Fundos de Pensão. No caso Capaf, por exemplo, ninguém fala em cobrar responsabilidades do Banco da Amazônia (instituidor e patrocinador) pelo seu déficit técnico e operacional, resultante de políticas e decisões equivocadas adotadas e tomadas pelo patrocinador, que nomeia e demite diretores e ainda "unge" quatro dos seis membros do Conselho Superior, com direito ainda "voto de qualidade". Ninguém sequer ousa falar em cobrar responsabilidades também de gestores do banco e da Capaf, que autorizaram no passado operações desastrosas nas Bolsas de Valores e na construção de shopping centers, em Manaus e Belém, com prejuízos colossais.
De 1993 a 2000, o governo federal, através da Secretaria de Previdência Complementar (SPC, hoje Previc), nomeou um diretor fiscal com a missão de "sanear" a Capaf. O então diretor fiscal era, na verdade, um interventor disfarçado, que pasou a "monitorar" todas as decisões da diretoria e conselhos da Caixa. Resumo da ópera: o homem que veio para "normatizar" a vida da Capaf, acaba de pedir demissão e se mandou para local incerto e não sabido.
Resumo de sua "obra : além de multiplicar o déficit técnico/operacional (de R$-68 para R$-680 milhões) em sua desastrada e indigesta gestão, ele ainda "aplicou" o golpe do "boi gordo" em alguns funcionários e um diretor da entidade, que só abria a mão pela metade e ainda assim para responder a algum cumprimento. O homem acima de qualquer suspeita que o governo federal mandou para "sanear" a Capaf, não só não o fez, como ainda desequilibrou a vida financeira de seus colegas vendendo-lhes um título (papel podre) de "aplicações" em boi gordo de sua fazenda no sul do Pará.
Os aposentados e pensionistas do Basa, que gemem sob o peso da exorbitante contribuição compulsória para a Capaf, aguardam providências do governo federal. Eles esperam, no mínimo, que seja feita uma devassa na administração de seu Fundo de Pensão, abrangendo pelo menos os últimos 20 anos. E que em nome da moralidade sejam responsabilizados criminalmente, como prevê a lei, todos aqueles que tiveram culpa no cartório. Afinal, quem aplica o golpe do "boi gordo" pode também aplicar outros golpes, inclusive o da "vaca louca", pois não ?

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Artigo publicado em O LIBERAL de 29.12.2000

Um comentário:

  1. O artigo foi publicado antes de o pt chegar ao poder. Imagina agora a situação desses fundos e ainda mais pelos escândalos Petrobras e BNDES. A hemorragia deve ser colossal.

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