segunda-feira, 13 de abril de 2015
Uma princesa no III Reich
O armistício da Primeira Guerra Mundial encontrou o cabo Adolf Hitler tratando-se da cegueira transitória provocada pela explosão ao gás mostarda. Quando lhe tiraram as vendas no hospital, Hitler recuperou a visão, mas perdeu o rumo. Ele não conseguia conceber a vida fora da rígida disciplina militar. Sentia falta do companheirismo forjado nas batalhas. A organização militar, os ritos e protocolos, a hierarquia e o simbolismo marcial do nazismo nasceram em parte da nostalgia da caserna de Hitler. Em 1937, esse contido otimismo já se transformara em desconfiança com "Herr Hitler". O mundo começava a ver como o maior perigo já enfrentado pela civilização ocidental em todos os tempos.
Em março de 1943, o chanceler do Reich se encontrava no décimo ano de seu poder sem limites. Mas já se antevia acúmulos de fracassos em sua estratégia suicida de querer se tornar o imperador do planeta. Muitos oficiais alemães perceberam que não dava para aturar tantas sandices. Em outras palavras, planejava-se um verdadeiro golpe de Estado. A primeira condição para desencadeá-lo é a morte de Hitler. Era impossível arrebatar-lhe o poder enquanto estiver vivo. Se ocorrer um acidente ou um atentado pelo qual se possa responsabilizar alguém, será dada ordem para abrir os cofres e pôr em andamento o plano secreto de emergência. O plano recebe um nome inspirado nas donzelas da mitologia nórdica que acompanham os guerreiros tombados aos salões dos deuses: "Valquíria".
Numa tarde abafada de 20 de julho de 1944, na Toca do Lobo, Prússia oriental, um conde maneta e cego de um olho lá se infiltrou onde Hitler, em algumas horas, se reuniria com o Estado-Maior. Claus von Stauffenberg (na foto) levava duas bombas, o suficiente para matar toda a cúpula nazista que ali se encontraria. Acredita-se que pela dificuldade motora de Stauffenberg, apenas um dos explosivos cumpriu a missão. Hitler chegou a ter o uniforme destruído pelos estilhaços. Mas sobreviveu, debelando o núcleo forte dos conspiradores que ocupavam parte da inteligência do III Reich. O ninho de rebeldes tinham altas patentes da SS e aristocratas, que com seu assassinato iriam propor um acordo com os Aliados - mais por entenderam que a Alemanha seria destruída em breve do que por indignação aos crimes nazistas em curso.
Entre os muitos aparelhos envolvidos na Operação Valquíria - como entrou para a história a tentativa frustrada de assassinar Hitler -, o Ministério de Relações Exteriores e o Departamento de Informação serviram de cenário para importante articulação rebelde. Muita coisa se sabe hoje, porque ali trabalhava uma jovem russa expatriada pela Revolução Russa, a princesa Marie Vassiltchikov, que manteve durante sua vida de funcionária pública da Alemanha nazista um diário detalhado que cobriu os anos de guerra e que só veio a publicar quase 40 anos depois, poucas semanas antes de sua morte. "Diários de Berlim 1940-1945", reconhecido como o mais importante relato de uma testemunha ocular da ascensão e queda do III Reich, sai pela primeira vez no Brasil pela editora Boitempo, com comentários de Antônio Candido.
"Muitas partes do diário foram propositalmente destruídas pela autora, conta o pesquisador e tradutor Flávio Aguiar, em entrevista a revista de circulação nacional, de Berlim". Fica claro que seu envolvimento foi maior. Um dos mais admirados e próximos amigos de quem se pode aferir um perfil heroico é Adam Von Trott zu Solz, o cérebro do atentado e seu chefe no ministério. Há quem diga que pode ter havido um romance entre ela e Trott.
Da conspiração "Operação Valquíria", já li alguns livros. Achei com mais detalhes a "Operação Valquíria" do jornalista Tobias Knibe, Editora Planeta do Brasil, 2009. Por curiosidade nele fui procurar o cérebro do atentado, Trott. Ele apenas é citado às páginas 150 e 260 no livro do jornalista Knibe. Mas pretendo adquirir o "Diário de Berlim" da princesa Marie no III Reich.
SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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Abaixo, e em contribuição ao artigo de Sergio Barra, as fotos do local, em Berlim, onde os militares envolvidos na Operação Valquíria foram executados.
As imagens foram colhidas pelo repórter do Espaço Aberto em maio deste ano. Aos que, visitando a capital alemão, tiverem interesse em visitá-lo, o endereço fica aqui, na Stauffebergerstrasse.
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